Eletricidade e Sonorização – Parte 4 – Ruídos, estalos, induções…

Em um workshop que assisti, o palestrante contou uma história muito interessante. A igreja comprou um sistema de som grande e caro. Tudo novo, testes 100%, mas na hora do uso, acontecia um problema sério: às vezes aparecia um barulho: hhhuuummm hhhuummm hhhuuumm. O pior é que o barulho era completamente inconstante. Às vezes um hhhuuummm e demorava para haver outros, às vezes eram vários seguidos, às vezes nenhum problema. A igreja quis devolver tudo, e o lojista pediu para o palestrante ir verificar. Ele assistiu ao culto e notou a existência do ruído. No outro dia, no mesmo horário, em vez de assistir o culto ele foi circular pela igreja. Bem atrás da parede onde ficam os equipamentos de som, havia a secretaria da igreja, e uma máquina de xerox. Alguém, precisando de uma tomada para a xerox, foi do outro lado, no som, fez um buraco na parede (solução extremamente prática, só precisa de uma furadeira) e “puxou” uma das tomadas do som para a copiadora. E toda vez que alguém pedia para tirar cópia… hhhuuummm.

Eu peguei um problema parecido, com uma geladeira bem velha (alguém se lembra da marca Frigidaire?). Toda vez que o motor da geladeira armava (e nesse instante ele consome muita corrente, o que em geral causa queda de tensão), o amplificador da igreja “resetava” (desligava e armava novamente). O som não chegava a sumir, mas distorcia e voltava. A igreja trocou de equipamentos várias vezes sem sucesso, continuou com o problema, que ninguém conseguia identificar, até o dia em que a geladeira deu defeito e a levaram para o conserto, e alguém associou que, nos 15 dias que ela ficou longe, os amplificadores funcionaram perfeitamente bem.

Na minha denominação, as igrejas costumam ter vários ventiladores. Pode ir em qualquer templo e conferir: quando se liga o ventilador, dá um estalo no som. Nunca vi uma que não tivesse, exceto na minha (onde eu mesmo convenci $$ um eletricista a fazer algumas alterações).

Todos os problemas relatados acima são causados por uma coisa só: existem equipamentos que “sujam”, “contaminam” a rede elétrica local, e essa “sujeira” vai parar nos equipamentos de áudio e, por fim, nos nossos ouvidos. Qualquer motor (geladeira, copiadora, ventiladores, ar-condicionados, liquidificadores, etc), qualquer reator (lâmpadas), até outros aparelhos eletrônicos têm a incrível capacidade de introduzir induções (ruídos) na rede elétrica.

Solução? O ideal seria que os equipamentos de sonorização tivessem uma fase (um dos fios positivos que entram na construção. Em geral são 2 – sistema bifásico ou três – sistema trifásico) exclusiva para eles, sem mais nada misturado, e assim sem nenhuma “sujeira”. Seria como se o fio continuasse direto do poste para os equipamentos de áudio. Na minha igreja, quando eu pedi para o eletricista identificar os ventiladores e as lâmpadas e tirá-las da fase dos equipamentos de som (110V), resolveu na hora! Não mais acontecem estalos quando alguém liga qualquer um dos ventiladores, nem fica o barulho de hhhuummm típico dos reatores de lâmpadas. Uma das fases da minha igreja agora é exclusiva do som, e as outras (minha igreja é trifásica) atendem a todo o restante (ventiladores, iluminação, geladeira, bebedouro e ar-condicionado, computador, projetor, etc).

Mas minha igreja é trifásica, o que facilita muito a esse tipo de trabalho. Para igrejas bifásicas, que é o caso mais comum, é complicado fazer o mesmo. Não dá para pendurar todos os outros equipamentos em uma única fase por causa de uma coisa chamada “balanceamento de carga*”, e as conseqüências que isso trás. Por exemplo, o relógio contador de energia registra sempre o consumo da maior fase – colocar tudo em uma única fase vai aumentar a conta de energia. Até é possível solicitar uma ligação trifásica, mas isso depende de um engenheiro elétrico, fazer um novo projeto elétrico, novos gastos…

*As cargas existentes (os aparelhos elétricos) de um local devem sempre ser divididos pelas fases, de maneira “equilibrada” (potências parecidas). Uma residência com dois chuveiros elétricos, por exemplo, deve ter cada um ligado a uma fase diferente. Isso porque o chuveiro consume muita energia (aproximadamente 4.000 Watts), e colocar os dois chuveiros na mesma fase poderá sobrecarregá-la (a fiação precisaria estar dimensionada para aguentar 8.000 Watts). Esse estudo é sempre feito na fase de projeto de uma construção.

Assim, o cenário ideal de ter uma fase apenas para os equipamentos de som é algo realmente difícil de ser conseguido na prática. Mas há algumas coisas a fazer, que podem minimizar os problemas de ruídos e sujeiras.

a) tenha um disjuntor exclusivo para os equipamentos de áudio. Não deixe no mesmo “circuito elétrico” (o conjunto de tomadas atendidas por aquele disjuntor) outros equipamentos que não os de áudio.

b) no balanceamento de carga, tente deixar os equipamentos de áudio junto com outros equipamentos eletrônicos (que costumam gerar pouca ou nenhuma sujeira) e com tomadas que raramente serão utilizadas.

c) iluminação* pode ficar junto com a sonorização**. Reatores de lâmpadas fluorescentes costumam gerar ruído na faixa de 60Hz (o famoso “hum”) e seus harmônicos (125Hz, 250Hz). A grande vantagem é que as lâmpadas são ligadas antes do início do evento, e permanecem ligadas todo o tempo, ou seja, o ruído é constante, e podemos atenuá-lo com o uso de equalizadores.

*iluminação “normal”, lâmpadas comuns, por exemplo. Holofotes, spots, canhões de luz e outros similares tem consumo muito alto, e não devem ficar ligados junto com o som. Mais uma vez, consulte um engenheiro elétrico ou eletrotécnico!

** entre iluminação e motores elétricos para deixar junto com o som, prefira a iluminação.

d) tente colocar equipamentos como motores (liquidificadores, geladeiras, ventiladores, ar-condicionados, elevadores, etc) em outra fase, que não a do som. Além deles também gerarem ruído de “hum”, eles causam estalos quando ligados. Cada equipamento gera “estalos” em uma freqüência diferente (por exemplo, a geladeira em 2KHz, o ventilador em 1KHz e o ar-condicionado em 500Hz), e não há equalizador que dê jeito, além do fato dos motores armarem e desarmarem várias vezes durante o culto (geladeira, ar-condicionado). Motores também causam variações na voltagem, sempre prejudiciais aos aparelhos – os chamados “surtos de tensão”.

d) tenha aterramento. Equipamentos com possibilidade de aterramento deveriam ser obrigatoriamente ligados com fio terra – e isso inclui a maioria dos equipamentos de áudio. Os ruídos sempre “procuram” o aterramento, são “drenados” por eles. Falaremos de aterramento mais adiante, em um artigo próprio.

Todas essas são medidas simples, exigem muitas vezes apenas mudanças no quadro de disjuntores, que um eletricista pode fazer a um custo mínimo. Para quem não tem condições de fazer isso na sua igreja, um paliativo (não resolve, mas minimiza) para o problema de induções são os filtros. Existe toda uma gama de filtros que podem ser utilizados, de simples filtros de linha a estabilizadores, passando pelos filtros de linha profissionais e pelos no-breaks. Mas é assunto para o próximo artigo.

2 Comments on "Eletricidade e Sonorização – Parte 4 – Ruídos, estalos, induções…"

  1. muito bom seu artigo.
    eu tenho um p.a novik desses tipo mala .
    ele ta dando um barulho mais creio nao ser da energia.
    teria como instalar algum filtro entre o alto falante e o cabo que liga na potencia?

  2. E como fazer em um caso que você leva os equipamentos para um evento fora e o lugar “que não está preparado adequadamente” e que evitar esses ruídos?

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