Treinamento de uma Equipe de Som – Parte 2

PARTE 2: ASPECTOS ESPECÍFICOS DE UMA EQUIPE DE SOM

1) Dê o melhor para Deus. 

Falar em “dar o melhor para Deus” é comum, todo mundo já ouviu uma pregação assim na igreja. Mas no nosso meio, de operadores de som e músicos, o pessoal desvirtua um pouco. As pessoas pensam, em sua maioria, imaginam que para dar o melhor para Deus, é preciso TER O MELHOR. Por causa desse pensamento, de TER o melhor, a pessoa quer investir em equipamento, instrumentos caríssimos, etc. 

Errado! Para dar o melhor para Deus você não precisa de TER o melhor, pois todas as coisas já são d’Ele. Na verdade, você que precisa SER o melhor, pois Deus lhe deu o livre arbítrio, então você tem a opção de SER o que quiser, inclusive o melhor. É completamente diferente. Já vi muita sonorização de primeira feita com equipamentos simples, e já ouvi muito lixo ser feito com mesa digital e caixa da melhor marca. 

Para SER o melhor, você precisa buscar estudar, se aperfeiçoar. Querer aprender mais e mais mesmo. Vou dizer: operador de som nunca para de estudar, porque todo dia tem um lançamento, uma nova tecnologia, tudo novo.

O primeiro passo é conhecer o equipamento atual. Vocês precisam saber a função de cada botão, cada coisa. Precisam dominar a mesa de som, os amplificadores, o equalizador. O manual dos equipamentos será a melhor companhia nessa hora. 

Depois, invistam em aprender novas técnicas e teorias. Vão para o SomAoVivo, vão ler os artigos, vão estudar. 

Também não se esqueçam de participar dos ensaios. Um bom operador de som precisa entender de música e de canto também. Na mesa de som, você faz mixagem, e precisa saber quem está desafinado, quem está afinado, quem ajuda e quem atrapalha. Como saber isto sem entender música/canto?

2) A igreja de cada um precisa ser referência

Todos vocês precisam, nas igrejas onde participam, ter o melhor som da região. Elas precisam ser referência em boas práticas de sonorização. Tudo o que já falamos, como identificar os equipamentos, manter inventário, isso precisa ser feito na igreja também. 

Eu já tive a péssima experiência de ter um membro na minha equipe, cujos músicos da mesma igreja um dia chegaram para mim e falaram: “esse rapaz pode até trabalhar aqui no Anfiteatro, mas na igreja o som é uma bagunça e não funciona. 

Ora, quando se fala assim, não está falando mal de uma pessoa especificadamente, mas de toda a equipe. Estão falando mal de mim, como responsável. Então, naquele dia em diante, eu passei a cobrar deles que o som nas suas igrejas fosse tão bom quanto no Anfiteatro, e é o que eu vou também cobrar de vocês com insistência. E se preparem, porque eu vou perguntar isso para músicos, para cantores, para os pastores de cada um de vocês. 

Deixem eu aproveitar. Hoje mesmo, agora há pouco, um pastor chegou até mim e pediu para colocar um rapaz da igreja dele aqui na equipe do Anfiteatro, para ele poder aprender. Agradeci a oferta ao pastor, mas não queria ninguém de lá daquela igreja. Expliquei que estive na igreja dele na quinta-feira, encontrei a mesa de som com tanta poeira em cima que escrevi “lave-me por favor” nela (realmente, um absurdo). 

Também falei que entrei no quartinho de som da igreja e encontrei muitos cabos jogados, muito equipamento abandonado. “O senhor sabia que tem equipamento lá suficiente para se montar outra igreja? Há 8 caixas de PA, 2 caixas de retorno, 2 amplificadores, todos os cabos, só falta uma mesa de som. Então o senhor converse com eles para primeiro manter o som da igreja impecável, para depois poderem assumir um Anfiteatro, pois aqui tudo tem que ser perfeito”. 

Evidente que ele não deve ter gostado de uma crítica dessas, pois uma crítica ao som da igreja dele é uma crítica indireta a ele próprio. Mas entendeu que a responsabilidade do Anfiteatro é bem maior e que aqui o nível de exigência é muito maior. 

3) O trabalho é em EQUIPE

Quando eu assumi, em 2004, o Anfiteatro onde hoje estou como responsável, o chefe na época só permitia que duas pessoas mexessem na mesa de som. Ele só confiava naqueles dois. A equipe tinha 10 integrantres, mas na verdade era uma equipe de dois operadores de som e oito “carregadores de caixas”.

Isso acabou no dia em que eu assumi como responsável. Todo mundo tem que saber tudo de tudo do som. Cada membro precisa saber montar tudo e operar o som, e se preciso sozinho! E hoje fico muito feliz em dizer que lá funciona assim, todos conhecem o trabalho e sabem fazer o melhor. 

O segredo para isso é revezamento (mostro então escala de revezamento para o evento, onde cada pessoa passaria por todas as funções que envolvem o som). Fulano vai começar na mesa de som, na segunda aula vai ficar lá em auxílio com os pastores, depois vai lá para trás fazer monitoria, e assim por diante. Depois roda de novo. 

Como estamos em seis, e só precisamos de três (três postos de trabalho), então vamos trabalhar dois a dois. Um mais experiente acompanhando um menos experiente. Nas aulas, quando for a pregação, quem estiver na mesa de som aproveite para, discretamente, ensinar tudo o que puder para o menos experiente. 

E eu sei muito bem que ensinar é trabalhoso. Cansa mesmo. Você está sem tempo, enfrentando problemas, e ainda precisa sentar com a pessoa do lado e explicar tudo o que está fazendo. É difícil sim. Mas pense nisso como um investimento: você perde tempo agora, para depois ganhar muito mais, quando tiver uma pessoa com mesmo nível de conhecimento que você. 

Agora, uma boa medida é avisar para as lideranças tal situação. É importante que eles estejam cientes que há pessoas em treinamento, e que problemas podem acontecer por isto. Com certeza elas entenderão a necessidade de formação de novos. Mas se um pastor avisar que a reunião é mais séria e que precisa dos melhores, o treinamento fica para outra oportunidade.

Outra coisa importante: cada um opina, cada um participa. Ninguém é dono da verdade, ninguém sabe tudo. Pedir ajuda não é vergonha alguma. Ruim, no caso, é ficar quieto, calado.

4) Nada é imutável

Uma coisa que eu acho muito legal em sonorização é que se dermos o mesmíssimo equipamento para 10 pessoas diferentes, é bem possível que encontremos umas 3 ou 4 formas de montar diferentes. Isso não é problema, na verdade é vantagem. Tudo bem que algumas formas darão mais ou menos trabalho, mas o importante é o resultado obtido. Se uma forma teve pouco trabalho e ótimo resultado, é isso que estamos procurando. 

Eu estou explicando isto porque precisamos que a equipe encontre isto, a melhor forma de trabalho. Ou o melhor resultado sonoro com o mínimo de trabalho. Isso demandará testes, muitos testes, e será uma decisão em conjunto. Só para vocês terem idéia, lá no outro Anfiteatro, levamos 2 anos para achar a configuração ideal. 

No último evento, vocês fizeram as vozes com 4 microfones overs. Hoje, vamos trabalhar com 16 microfones dinâmicos de mão. O resultado pode ser melhor ou pior, e só vamos ver na prática. Mas como a mesa só tem 32 canais, pode ser que 16 canais para vozes sejam excessivos e precisemos diminuir para 12. Isso só o tempo dirá. 

Não existe problema algum nisso, e será ótimo, pois vocês terão oportunidade de ganhar experiência com os testes. Problema é achar que algo é fixo, tem que ser assim porque alguém falou. Então, não tenham medo de mudar, não tenham medo de arriscar. Aprendemos mais com nossos erros do que com nossos acertos. Testem, testem, façam mais testes. Um dia, com bastante experiência, vocês descobrirão qual a melhor configuração, qual a forma de obter o melhor resultado. 

E ainda assim, preparem-se: um dia vai chegar alguém aqui e pedir uma coisa completamente diferente de tudo o que vocês já enfrentaram. Nesse dia vocês verão como ter feito muitos testes ajuda, pois servirão como base para as novas mudanças.

5) Nosso trabalho é em CORPO com os músicos e cantores

A Bíblia ensina lá em 1 Coríntios 12: 

“Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também.”

Louvor a Deus é uma coisa que envolve músicos, cantores, operadores de som. Música sem letra, sem vozes, é algo bonito, mas não transmite mensagem alguma. Vozes sem música é até bonitinho de ouvir um pouco, mas ninguém agüenta nada além que um pouco. Eles sem nós operadores alcançam talvez umas centenas de pessoas, mas nunca 2.500 pessoas. E nós sem eles não somos nada, no máximo reduzidos a um playback! 

Então, nada de briga com cantores e músicos. Vocês estão proibidos de chegar para um cantor/músico para criticá-los, dizer que não cantam bem, que tocam mal, que são surdos e/ou qualquer outra coisa. O que vocês podem fazer é chegar para o responsável pelo grupo e reclamar com ele, e olhe lá. 

Cuidado com o que disser, cuidado com o jeito que falar as coisas. Em vez de dizer “que tecladista ruim você arranjou”, diga: “companheiro, será que você não tem um outro tecladista para testar? “ Quando alguém chegar pedindo alguma coisa, fale que você tem ordem de solicitar que o pedido passe primeiro pelo responsável, antes de poder fazer. Não diga “você não tem que me pedir isso não, tem que falar com Fulano”. Diga que existe uma ordem (tira-se o caráter pessoal da coisa) e mostre que existe uma hierarquia a ser obedecida.

Mas uma coisa vocês podem fazer: insistir 1.000 vezes que todos precisam chegar cedo para fazer a passagem de som do evento. Por outro lado, vocês tem que dar motivo para poder fazer essa colocação, e o motivo é estar tudo pronto realmente 01 hora antes do evento.

Por último, insistam em ensaios, ensaios e mais ensaios. Aqui no Anfiteatro e na igreja de vocês. É nos ensaios que aprendemos os hinos, conhecemos os arranjos, as voltinhas, tudo. É essencial conhecer bem os hinos. 

6) BRIEFING

Essa palavra, em inglês, é usada no meio militar. Ela nada mais é que uma reunião prévia, antes da ação, onde todos os envolvidos se juntam, discutem como será a ação, estudam qual a melhor forma de fazer, antecipam os problemas, etc. 

No trabalho de vocês, antes de cada evento, vocês se reúnam. Haverá um momento para oração, haverá um momento para conversar sobre o evento em si. Quem será o pregador, necessidades especiais, problemas que podem acontecer. 

Também se divide as tarefas, tanto quanto a montagem (Fulano montará o som dos cantores, Beltrano montará os instrumentos, Siclano montará a mesa de som) quanto na operação de som (Fulano irá ficar com os pastores, Beltrano na monitoria e Siclaro operando a mesa de som). Em resumo: a reunião aborda todos os aspectos possíveis, e divide as tarefas entre os integrantes da equipe. 

Isso terá grande impacto sobre os trabalhos. Na montagem, ao se dividir as tarefas, cada um já sabe o que tem que fazer e a tarefa a cumprir. Evita-se desperdício de tempo, evita um monte de “baratas tontas” andando para lá e para cá sem saber o que fazer. 

Quem for designado para montar os cantores irá montar tudo referente a eles: desde os pedestais de microfone, os microfones, os cabos, medusa (se houver) até as caixas de retorno. Também será a pessoa que irá testar os microfones. 

Quem for designado para montar os instrumentos (não os instrumentos em si, mas a preparação para receber os instrumentos) terá que se preocupar com os microfones, os pedestais, diretc boxes. Terá que providenciar energia elétrica para os instrumentos eletrônicos (pedaleiras, teclados) e testar tudo.

Quem monta a mesa de som precisa ligar a mesa de som, periféricos, os amplificadores, testar cada caixa de som individualmente, microfones sem fio, orientar quais quais serão usados para os cantores e cada músico. 

Feito um bom briefing, feita uma boa divisão de tarefas, o serviço fica muito mais fácil. E na próxima vez, reveza-se. Quem montou cantores hoje montará os instrumentos. Quem montou os instrumentos montará a mesa de som, e quem montou a mesa montará os cantores. Com isso, todo mundo aprende todos os trabalhos. 

7) Seja o seu falar Sim Sim, Não Não no trato com as lideranças.

Por último, tome cuidado com o seu falar junto às lideranças. Não só o falar, mas até o seu comportamento, o seu jeito de andar, de se comportar. 

Só há três coisas que chefe gosta de ouvir: “Sim Senhor”, “Pode deixar, já vou providenciar” e, quando acontece algum problema, “Desculpe, isso não vai acontecer novamente”. Pode ter certeza que qualquer coisa além disso é de procedência maligna. 

Lembre-se: chefe manda, você obedece. Simples assim. Então, faça o que te pedirem. Mas…

– haverá pedidos impossíveis, sem condições técnicas de atender. Explique então que você não tem a aparelhagem para atender a solicitação. Se pediram algo que já foi solicitado, aproveite para lembrar “aliás, pastor, isso já foi solicitado X tempo atrás, exatamente para poder atender um pedido como esse”. 

– haverá pedidos difíceis de fazer, seja pelo tempo, seja pelo grau de dificuldade. Lembro que, faltando 05 minutos para o início de um evento grande, um pastor pediu para instalar uma caixa de som do lado de fora de um ginásio, a quase 100 metros de distância, para o pessoal do apoio ao evento, que ficaria de fora do ginásio. 

Ora, era um pedido possível, porque eu tinha o equipamento, inclusive o cabo, mas era impossível passar 100 metros de cabo por cima da estrutura em 5 minutos, mas era bem provável que duas pessoas fizessem isso em 30 minutos. Então, avisei que conseguiria atender o pedido dele daqui a uma hora. Ele ficou satisfeito, e eu ganhei o dobro do tempo que realmente achava necessário, pois assim teria tempo para resolver qualquer problema encontrado.

– haverá pedidos que trarão problemas ao som. Já vi pastores pedindo coisas erradas tecnicamente falando. Nessas horas, é preciso ter muita paciência. “Pastor, essa caixa que o senhor pediu não pode ficar ali, ela causará microfonia”. Junto, sempre proponha outra alternativa: “mas se ficar ali naquele lado, não terá problema algum”. 

Se ele aceitar, ótimo. Se não aceitar e insistir, avise: “pastor, já estou indo colocar a caixa lá, mas já aviso que não me responsabilizo no caso de problemas”. Provavelmente dará problemas, provavelmente todos vão falar mal do som, não de quem mandou colocar uma caixa ali, mas a liderança saberá muito bem de quem é a culpa, e isso basta. 

– você às vezes receberá uma ordem que vai contra outra ordem. Pastor 1 proibiu de fazer uma coisa, pastor 2 veio depois e mandou fazer exatamente o que foi proibido. Se o pastor 1 estiver presente, você pode até chamá-lo e pedir para os dois conversarem. Na falta do pastor 1, a autoridade presente é o pastor 2, e você deve obediência a ele. Se acontecer alguma coisa, você estará coberto, pois estava obedecendo a uma ordem direta. O grande problema, no caso, é desobedecer a uma ordem dada por uma liderança.

Então, é só. Agora, vamos todos ao trabalho. Vocês dois, mais experientes, vão ficar comigo, aqui de fora, olhando. Vocês 4 (um mais experiente, três menos experientes) vão lá montar tudo. São 12:50, o evento inicia-se às 14:00h, quero tudo pronto às 13:10, no máximo 13:20h. Se vocês fizerem tudo certo, esses 30 minutos dão e sobra!


Resultado da aula: foram montar, não fizeram briefing, ficaram iguais baratas tontas, cada um se metendo no trabalho de outro. O rapaz que foi montar a mesa não tinha domínio do equipamento, não sabia lidar com alguns periféricos, perdeu muito tempo por causa de um único erro (um botão que deveria ser apertado, e não foi), não procurou nem o manual nem foi consultar alguém mais experiente (a gente estava logo ali, próximo). 

A montagem praticamente acabou às 14:00hs, no início do evento. Não teve passagem de som, o resultado foi sonoramente horroroso. Caixa de retorno dos pastores não funcionou e choveu reclamação de que não estavam ouvindo.

No intervalo, volta todo mundo… onde foi o problema? 

“Simples, a culpa é do Fernando que só parou a conversa 12:50h, a gente deveria ter começado a montar muito mais cedo.“ 

Pensei: “ai Jesus… essa equipe vai dar um trabalho… . Mas tudo bem. A gente aprende mais com erros do que com acertos!” 

Toda essa história foi real, aconteceu sábado dia 13/Novembro. Obviamente, nomes, locais e denominações não importam. Não estamos aqui para encontrar culpados (aliás, se teve um culpado, fui eu!). Mas que a história contada aqui tenha proveito a todos os que lerem, para suas igrejas e suas próprias equipes, para minimizar erros e melhorar os acertos, buscando assim uma benção no trabalho de sonorização de igrejas.

 

1 Comment on "Treinamento de uma Equipe de Som – Parte 2"

  1. Que textos maravilhosos! Gratidão

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