Durabilidade de equipamentos de áudio

O Heriberto, membro aqui do Fórum do SomAoVivo, levantou uma questão que muito me interessou, e a partir disso criamos este artigo. Ele perguntou sobre a durabilidade dos equipamentos de áudio. Quanto tempo dura ou deveria durar um equipamento de áudio?

O assunto é importantíssimo, pois afeta diretamente a parte mais sensível de qualquer um: o bolso! Evidente que gostaríamos que durassem para sempre, ou pelo menos várias décadas, mas infelizmente nada é eterno. Todo equipamento, uma hora ou outra, vai quebrar, não tem jeito.

Mas se pudermos fazer algo para que a durabilidade do mesmo seja maior, não seria interessante? Então é disso que trata este artigo. Nosso objetivo será entender os diversos fatores que afetam a durabilidade do equipamento e, com isso, maximizar o tempo de uso do aparelho e minimizar os  possíveis defeitos!

Mas primeiro precisamos responder à seguinte pergunta:

Quanto tempo deve durar os equipamentos?

Sempre considero que as igrejas são muito semelhantes às empresas. Empresas tem seu ramo de atividade, enquanto igrejas também tem seu negócio: pregar a Palavra de Deus. Empresas visam o lucro, igrejas visam ganhar vidas para Jesus. Empresas querem crescer, abrir filiais, o mesmo com igrejas. As semelhanças, se pararmos para observar bem, são muitas.

Então, para responder esta pergunta, vamos usar uma características das empresas, que é a depreciação dos bens aplicada à contabilidade, para definir quanto deve durar um equipamento.

A depreciação dos bens é utilizada pelas empresas para diversos fins, entra na conta de impostos, custos operacionais, lucros líquidos, etc. Mas servem principalmente para definir o patrimônio, o valor dos bens da empresa. Por exemplo, um carro que é comprado novo, entra no patrimônio da empresa pelo seu valor de custo, por exemplo, R$ 50.000,00.

Só que empresa não compra carro para investir, mas sim para usar, e geralmente usar muito! Por isso, a legislação (isso é tratado por Instruções Normativas da Receita Federal*) é clara: o veículo perde 20% do seu valor contábil a cada ano. Ou seja, com um ano de uso, o carro vai valer R$ 40.000,00, com dois anos de uso, o carro vai valer R$ 30.000,00, com três anos de uso, o carro vai valer R$ 20.000,00, com quatro anos de uso o carro vai valer R$ 10.000,00, e com 5 anos de uso o carro não vai valer mais nada (sempre em relação ao patrimônio da empresa)!

*consulte: http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/ins/Ant2001/1998/in16298.htm

Estranho? Sim, muito! Evidente que o carro com 5 anos de uso ainda terá um valor comercial, mas a tabela de depreciação de bens leva em conta o uso intensivo (rodam muito mais que um carro de um particular), o fato de várias pessoas dirigirem o carro, de um condutor ter muito cuidado e o outro não ter cuidado nenhum, etc. O resultado é que, em 5 anos, provavelmente a empresa vai gastar tanto com manutenção que não compensa mais para a empresa mantê-lo: muito melhor vendê-lo e comprar outro novo. É o que chamam de um bem que “já se pagou”!

As tabelas de depreciação de bens não são montadas por alguém que “acha” que o equipamento tem que durar isso ou aquilo. Na verdade, são feitos estudos e médias de uso, e ao final os prazos são fixados levando em consideração os diversos fatores que influenciam o uso do bem. As tabelas adotadas no Brasil seguem inclusive normatizações que abrangem todo o Mercosul.
 
Quanto aos aparelhos de sonorização, a tabela diz o seguinte:

"Código 8525 
APARELHOS TRANSMISSORES (EMISSORES) PARA RADIOTELEFONIA, RADIOTELEGRAFIA, RADIODIFUSÃO OU TELEVISÃO, MESMO INCORPORANDO UM APARELHO DE RECEPÇÃO OU UM APARELHO DE GRAVAÇÃO OU DE REPRODUÇÃO DE SOM; CÂMERAS DE TELEVISÃO; CÂMERAS DE VÍDEO DE IMAGENS FIXAS E OUTRAS CÂMERAS ("CAMCORDERS") 
Prazo de vida útil: 5 anos
Taxa de depreciação anual:  20 %"
 
Ou seja, para efeitos contábeis (para podermos dizer que o equipamento “se pagou”), o tempo a se considerar é de 5 anos. Mas…

…é óbvio que temos equipamentos que duram muito mais que 5 anos. Alguém vai lembrar que usa um amplificador já com 30 anos de idade, e que o mesmo nunca deu defeito! Claro que isso é ótimo, mas precisamos nos lembrar que esses valores são relativos a uma média, ou seja, levam em consideração equipamentos de primeira e última linha, de ótima qualidade e de péssima qualidade, bem cuidados e mal cuidados, muito usados e pouco usados, etc.

Também não significa que o equipamento não vai quebrar nesses 5 anos: é bem possível que manutenções tenham que ser feitas no decorrer desse tempo, mas geralmente poucas e simples. E após os 5 anos, significa que, a partir desta data, e que o custo de manutenção dele não se justifica mais, e que devemos começar a economizar para a aquisição de um novo equipamento.

Note: a depreciação contábil é usada como um artifício estratégico: se o bem já tem 5 anos de uso, provavelmente compensará mais comprar um outro que ficar constantemente consertando este. Se for um equipamento de uso imprescindível, será interessante comprar um novo para usar e manter o antigo para backup, por exemplo. Empresas sérias (e de sucesso) fazem isso. Até mesmo locadoras de equipamentos de sonorização, pois o custo do aluguel leva em conta a depreciação dos equipamentos (e não "quanto está cobrando o concorrente").

Conheço empresas de sonorização onde, após determinado tempo de uso, os equipamentos principais são compulsoriamente “aposentados”, indo para função de backup. E os antigos equipamentos de backup são então vendidos. É assim que empresas de sonorização (locadoras) bem organizadas fazem. Um pouco a contragosto, claro (diminui o lucro da empresa comprar novos equipamentos), mas por um bom motivo.

Muitos contratos entre locadoras de equipamentos de som e órgãos públicos (Prefeituras, etc) ou mesmo outras empresas prevêem que os equipamentos a serem utilizados não tenham fabricação/uso a mais que X anos. Só para citar, a locadora de um amigo tinha contrato com a CVRD que proibia o uso de equipamentos com mais de 4 anos de idade, a não ser em casos emergenciais. Por isso, a cada 4 anos ele era obrigado a comprar novos equipamentos, e os equipamentos com mais de 4 anos iam para backup ou para fazer pequenos eventos. E os com mais de 8 anos eram vendidos. Evidente que o custo é repassado ao cliente, que aceita pagar mais para ter acesso a uma empresa com equipamentos melhores.

Isso pode parecer um pouco estranho isso, mas não é muito melhor dirigir um carro novo que um velho? Viajar em um avião novo que em um avião velho? Não traz muito mais confiança? Da mesma forma, muito usar melhor um equipamento novo que um velho, ainda que o velho aparentemente funcione tão bem quanto o novo.

Entretanto, em igrejas, de modo geral, só se troca alguma coisa depois que acontecem problemas.  Uma pena: espera-se que dê problema em um evento (em alguns casos, prejudica-se de centenas a milhares de pessoas) para só depois se investir em outros equipamentos. Igrejas ainda tem muito a aprender com empresas. Então, se pudermos começar a colocar na mente das lideranças das igrejas que os aparelhos tem uma vida útil determinada, e que investimentos devem ser feitos a cada X anos, independente se o equipamento está bom ou ruim, não seria algo bom?

Essa história (chata, admito) de valor contábil, tabela de depreciação, vida útil prevista, isso tudo pode e deve ser usado para convencer as lideranças da necessidade de novos investimentos, principalmente se no meio delas existerem administradores, contadores, economistas ou empresários, que lidam com essas informações todos os dias. Não seria maravilhoso contar com equipamentos com pouco uso à disposição, e ainda ter o equipamento antigo disponível como backup? 

Mas voltando à pergunta, já podemos responder que um equipamento de sonorização tem que durar em média 5 anos. Mas vemos, pela prática, que equipamentos de melhor fabricação (primeira linha), desde que bem cuidados, duram bem mais que isso, mas tudo dependerá de uma série de fatores. Mesmo um equipamento feito para durar 30 anos pode não aguentar 3 anos se alguns cuidados não forem observados, e é o ponto que estudaremos agora.

Fatores que influenciam na durabilidade dos equipamentos

São inúmeros os fatores que influenciam na durabilidade dos aparelhos de áudio, sendo que alguns afetam os componentes eletrônicos, outros afetam componentes mecânicos, e outros afetam os equipamentos de modo geral.

1) Temperatura

Quanto mais baixa for a temperatura de operação (dentro de um determinado limite, de acordo com especificações do fabricante) melhor é! Um mesmo equipamento usado em uma região mais fria tenderá a ter maior durabilidade que um usado uma região quente.

Isso porque todo componente tem uma temperatura limite. Quando chega-se a esse limite, ele rompe/queima. E é muito mais fácil atingir essa temperatura limite quando o equipamento está em um local quente do que em um local frio.

O exemplo clássico de problemas por temperatura são os grandes computadores do tipo mainframes, que ficam instalados em salas com temperaturas sempre entre 15º e 17ºC, para diminuir o risco de problemas causados por temperatura. Em sonorização, o problema é o mesmo, apesar de não exigir refrigeração dessa forma.

Podemos então maximizar a vida útil de um equipamento providenciando refrigeração e/ou boa ventilação para os mesmos. Aliás, esta é uma boa desculpa para aqueles técnicos que vivem enfurnados em casinhas “prá lá de quentes” e que gostariam de ter condicionamento de ar.

Também evite sempre a exposição direta ao Sol. O Sol afeta as partes plásticas utilizadas em alguns equipamentos, diminuindo em muito a sua vida útil. Com o tempo, alguns tipos de plástico começam a trincar e/ou rachar se expostos constantemente ao Sol direto.

2)  Energia elétrica limpa e existência de aterramento.

Nada mais importante para um equipamento que é alimentado por energia elétrica que receber um fornecimento de energia limpa e contar com um bom aterramento. Por outro lado, problemas na rede elétrica como sobre e subtensões e falta de aterramento podem causar desde estresse em componentes eletrônicos (eles não “queimam” de primeira, mas ao longo do tempo vão sendo prejudicados, até que uma hora se rompem); superaquecimento, entre outros problemas.

Para saber mais sobre o assunto, escrevemos uma série de artigos aqui no SomAoVivo intitulada “Eletricidade e Sonorização”. Lá inclusive há informações sobre a utilização de filtros de energia e aterramento, o que pode maximizar em muito a vida útil do aparelho.

3) Respeito ao limite de uso dos componentes

Todo componente eletrônico tem uma voltagem de trabalho e uma corrente máxima admissível. Respeitar esses limites são fundamentais. Muitos projetos de som são feitos com os componentes selecionados com pouca ou nenhuma margem de segurança, o que com o tempo fatalmente trará problemas. Um componente que é sempre utilizado próximo ao máximo possível tenderá a durar menos que um componente que trabalhe “folgado”.

Isso não é verdade apenas para componentes eletrônicos, mas para todo e qualquer equipamento.  Essa situação é fácil de verificar em amplificadores de potências. Quem usa os amps "no talo" sabe que eles não vão durar muito. Em compensação, se você tem com muita sobra de potência, a tendência é anos de operação sem problemas.

Usar o ditado “é melhor sobrar que faltar” em alguns casos (amplificadores, falantes) pode ser uma boa idéia para maximizar a vida útil dos equipamentos. Entretanto, a nível de projeto eletrônico dos  aparelhos, o usuário tem pouca coisa a fazer. 

4) Vida útil do próprio componente

Existem componentes com grande prazo de vida útil, assim como existem componentes com vida útil menor. Válvulas duram muito menos que transistores, por exemplo. É da própria tecnologia. Capacitores, um dos componentes mais utilizados em sonorização, tem vida útil de 5 (os mais simples) a 10 anos (os melhores e mais caros). Além desse tempo, eles perdem suas propriedades de capacitância, o que pode causar desde alterações no som a até mesmo defeitos em outros componentes.

Os capacitores eletrolíticos com o tempo, começam a ter um aumento interno da corrente de fuga causando uma perda de capacitância e um aumento da sua temperatura interna.Se forem mantidos sem uso por muito tempo, aí é que a coisa piora mais. O eletrólito começa a cristalizar e como a capacitância é função direta do volume interno de eletrólito o componte vai aos poucos diminuindo o valor real de capacitância, provocando mudança na sonoridade. O mais prejudicado são as altas frequências.

Note um problema sério aqui: capacitores vão "gastar" com o equipamento parado ou em funcionamento! A reação química dentro deles é contínua, não pára de acontecer porque o equipamento está desligado e guardado.

Também vão se gastar, com o uso ou sem uso, a pasta térmica colocada entre alguns componentes e os dissipadores de calor, para facilitar a troca de calor. Com o tempo, com a diminuição de suas propriedades de transferência de calor, ocasionará aumento de temperatura no componente.

As resinas e colas utilizadas em alto falantes dos altos falantes também tem vida útil, ainda que geralmente bem grande. Não estranhe se aqueles falantes que você só usou 2 vezes e ficaram guardados por 10 anos estão agora “raspando”: foi a cola que se soltou e descentralizou a bobina.

Uma unidade ótica (o  laser) de um leitor de CD/DVD tem vida útil entre 1000 (os mais simples) e 2000 horas (os melhores). Claro que, se o equipamento é utilizado 10 horas por dia, vai gastar muito mais rápido que equipamentos utilizados 1 hora por dia. Mas mesmo deixar o equipamento parado é perigoso. As lentes paradas por muito tempo sofrem o ataque de fungos, que corroem a lente, alteram as suas propriedades de transparência e o aparelho perde a capacidade de leitura. 

Componentes mecânicos (que sofrem movimentação, como faders de volume, potenciômetros, bobinas e diafragmas, chaves e botões, etc) tem vida útil em geral bem menor que os componentes eletrônicos. São eles que mais “sofrem” com o uso constante, e realmente gastam-se com o tempo, devendo ser substituídos.

Na verdade, a troca de componentes mecânicos em um equipamento não deveria ser considerado como defeito, mas como um fato natural, que vai acontecer, assim como a troca de pneus em um carro. Quem compra um carro sabe que em algum momento vai ter que trocar de pneu. Quem anda muito (muita quilometragem) vai ter que trocar pneu logo, quem anda pouco vai demorar mais a trocar de pneu.

5) Poeira

Poeira é algo fatal para componentes mecânicos. A sujeira penetra em tudo que tenha uma fresta, e começa a causar mal funcionamento, "arranhões", etc. Faders de volume começam a falhar, potenciômetros rotativos começam a arranhar e ventiladores de refrigeração passam a rodar menos, perdendo a capacidade de refrigeração (e com isso aumentando a temperatura dos componentes).

Apesar de muita gente achar que sim, poeira não causa defeitos diretos em circuitos eletrônicos. Entretanto, é grande causadora de mal-contato e causam defeitos indiretos, como o aumento da  temperatura.

Para maximizar a vida útil, proteger os equipamentos da poeira é essencial. É incrível o que um simples paninho por cima do equipamento pode fazer.

6) Pancadas/choques

Pancadas e choques mecânicos são péssimos para equipamentos eletrônicos por um motivo simples: eles tiram as coisas do lugar! E tirando as coisas do lugar, podem fechar curtos, romper trilhas/soldas, causar mal-funcionamento, etc.

E pancada não é cair no chão, e choque não é só o equipamento bater na parede. Aquele equipamento que fica jogado no porta mala vibrando em uma viagem sofre do mesmo jeito.

Daí vem o ditado: equipamento no case dura, fora do case não dura. Isso vale para qualquer marca. No caso de equipamento em case, quem toma pancada é o case, não o equipamento. Alguns cases chegam a trazer amortecedores internos, de forma a minimizar o máximo possível as vibrações transmitidas aos equipamentos.

Para maximizar a vida útil do aparelho, a melhor idéia é: não o transporte! Se for possível ter um lugar fixo para o mesmo, é o que se pode fazer de melhor. Por outro lado, no caso de equipamentos que são constantemente transportados, ter um bom e reforçado case é essencial.

7) Umidade

A umidade provoca oxidação/corrosão com o tempo. Obviamente é preciso proteger o equipamento de líquidos, que pode ser desde água e chuva a Coca-Cola (sim, muitos “operadores” acidentalmente derrubam seus copos de refrigerantes em cima dos equipamentos).

Cápsulas de microfones, por exemplo, são extremamente sensíveis à umidade, sofrendo muito com aqueles usuários que “falam cuspindo”.

Mas umidade não é só ter cuidado com líquidos. O suor das nossas mãos também é problemático. Nosso suor é rico em uréia, que é altamente corrosivo. Claro que isso afeta primeiro os componentes mais à mão, em geral os componentes mecânicos; mas a uréia chega a penetrar e atingir o que estiver próximo. Já troquei os faders em uma Soundcraft onde tanto o fader quanto a placa (que fica por baixo dos faders) estavam todos corroídos. O fader foi fácil, a placa…

Para maximizar a vida útil do equipamento, proteja-o de líquidos e passe sempre um pano seco ou mesmo papel toalha/higiênico ao final do uso para retirar umidade/suor. E mantenha os copos de refrigerante à distância. Microfones podem ser protegidos com capas do tipo windscreem.

8) Cuidado do usuário com o equipamento

Apesar de tudo o que colocamos acima ajudar, nada adianta se o mesmo sofrer abusos de operação por parte de um usuário descuidado. É necessário investir em educação do operador de som, para que ele:

–  não tampe as entradas de refrigeração do aparelho,
– meça a energia e o aterramento antes de ligar o aparelho
– faça um correto dimensionamento do sistema
– transporte o equipamento com cuidado
– evite poeira e umidade, pancadas, etc

Infelizmente, esta educação é tarefa mais que necessária, mas talvez a mais difícil. É fácil notar, nas equipes de som das igrejas (e mesmo nas locadoras), a existência daqueles que são cuidadosos e dos que não estão “nem aí”. Infelizmente, os que não estão nem aí costumam ser muito mais numerosos que os cuidadosos. Uma enorme parcela de defeitos pode e deve ser atribuída a má-utilização por partes dos usuários, que não lêem sequer os manuais de instrução dos aparelhos.

Além desses fatores, que estão intimamente ligados aos cuidados de operação, podemos elencar outros, que afetam diretamente a escolha do equipamento. Nos três itens abaixo, geralmente relacionados com equipamentos de primeira linha, adquirir um produto de uma marca tradicionalmente reconhecida pela qualidade ajudará a ter um produto com grande expectativa de vida útil.

9) Bom projeto

Um bom projeto deve utilizar componente com boa tolerância ao uso estipulado. Vamos dar um exemplo.

Capacitores destinados ao áudio comumente suportam até 85ºC de temperatura máxima. São muito utilizados em mesas de som e periféricos em geral, onde as temperaturas máximas costumam ser bem menores que isso. Entretanto, em amplificadores a situação é bem diferente, pois eles esquentam muito á potência máxima, e devem ser utilizados capacitores do tipo que suportam 105ºC.  Mas é muito comum encontrar capacitores de 85º, pois os fabricantes preferem comprar grandes quantidades dos componentese fazer economia de escala.

Uma empresa brasileira produz amplificadores com componentes praticamente já no limite de uso, quando deveriam ter alguma folga, uma margem de segurança. Nas palavras do Edu Silva, do site Audiolist:

“Um "belo" exemplo de má engenharia! Um componente trabalhando próximo ao seu limite não terá longa vida. Se mesmo em repouso e sob tensão nominal de rede, o amplificador já está nessas condições, não se pode esperar muito dele quando em ação”

Além do cuidado com a escolha dos componentes, as empresas devem fazer produtos com construção robusta, que aguentem choques e pancadas, que fatalmente uma hora vão acontecer.

Um fabricante de caixas nacional utilizou drivers de 4,5kg em uma corneta de fibra de vidro. Qualquer pancadinha e a corneta se quebrava, dado o grande peso do driver, trazendo grande transtorno (usávamos um pacote de Durepox para consertar). Erro de engenharia, que deveria ter feito um suporte de madeira para apoio do driver.

10) Escolha dos componentes

Um bom fabricante deve fazer um controle prévio da qualidade dos componentes que vai utilizar. A Samsonite, fabricante americana de bolsas, testa milhares de vezes os zíperes que vai usar nas suas bolsas. Só depois de muitos testes que a peça (ou lote de peças) é aprovado para uso

Em componentes mecânicos e eletrônicos, não é diferente. Alguns fabricantes fazem testes de resistência bem aprimorados, outros fazem testes mais ou menos, outros nem fazem. Tudo isso tem custo, e vai influenciar o valor final do equipamento, mas também vai influenciar em muito a  qualidade geral do produto.

11) Controle de qualidade dos produtos produzidos

Alguns fabricantes fazem inspeção e testes de funcionamento equipamento por equipamento que é produzido. Alguns chegam a fazer testes de “burn-in” (deixar o equipamento em funcionamento) por horas e/ou dias – tudo isso individualmente, aparelho por aparelho. Claro que isso demanda um alto custo, mas é uma tremenda garantia que tudo funcionará bem.

Já outros fazem testem alguns aparelhos por lotes. A cada 100, são testados 10, por exemplo. Mas infelizmente existem fabricantes que não testam nada.

Com isso tudo, já deu para descobrir que o preço em geral acompanha a qualidade do produto. Quanto maior o preço, maior a qualidade do produto e possivelmente a resistência será maior que um outro produto mais barato.

Mas será que sempre precisamos comprar o equipamento mais durável? Com certeza isso seria ótimo, mas a compra é sempre definida pelo aspecto de custo/benefício.

Custo / benefício x durabilidade

Tenho um colega de trabalho que em 2005 comprou um BMW 328i, um tremendo carrão, não fosse o fato de ser antigo (fabricado em 1993), caro (custava, na época, o mesmo preço que um Gol 1.6  top de linha zero), beberrão (4:1 na gasolina, na cidade) e em nossa cidade não haver assistência técnica para o carro. Diversas vezes ele teve que enviar o carro para o Rio de Janeiro (um frete bem caro esse), diversas vezes teve que esperar por alguns meses para que as peças necesssárias chegassem, etc. Mas ele falava que o sucesso que ele fazia com o público feminino compensava todo o resto!

Quando compramos alguma coisa, sempre devemos verificar o benefício que nos trará em relação ao custo que tem. Nesse levantamento, entram inúmeros fatores:

– preço do produto
– tempo de garantia
– tempo de uso (no caso de equipamentos usados)
– tipo de utilização que já teve (no caso de usados)
– recursos disponíveis
– uso que teremos para o produto
– qualidade da marca/resistência esperada do produto
– disponibilidade de assistência técnica

Mas uma coisa podemos garantir: a relação custo/benefício é de pessoa para pessoa. Veja:

– empresas de sonorização, que usam aparelhos intensivamente, estão sempre transportando tudo de um lugar para outro e usando energia nem sempre confiável, devem comprar os equipamentos mais resistentes possíveis, assim como precisarão investir em cases e geradores/filtros de linha. Tudo isso porque será o único jeito dos equipamentos durarem mais tempo.

– usuários de estúdios, onde os equipamentos não são movimentados, mantém condicionamento de ar e energia limpa/aterramento em geral podem se preocupar menos com a questão de resistência e mais com a sonoridade dos produtos (apesar de, na maioria dos casos, um fator acompanhar o outro)

– usuários domésticos, cantores de fim-de-semana podem muito bem comprar equipamentos mais simples, sem problema algum.

– usuários que moram em um “fim de mundo” devem preferir equipamentos que tenham assistência técnica próxima. Já usuários que moram nos grandes centros, onde há assistência técnica disponível, podem optar por um leque maior de marcas/modelos.

– usuários com poucos recursos financeiros disponíveis vão em geral sacrificar a qualidade em favor do preço.

E assim por diante. As perguntas são inúmeras, e cada pessoa deve pensar bem em todos os fatores possíveis. E pensar ANTES, para não se arrepender DEPOIS.

Conclusão

É evidente que, se pudéssemos, só compraríamos equipamentos de primeiríssima linha. Entretanto, como muitos não podem, por uma série de fatores, temos então que a escolha dos equipamentos que vão ser utilizados é algo quase que pessoal, dentro da realidade de cada um, pois cada situação diferente exibirá também diferentes relações de custo/benefício.

Por outro lado, a questão dos cuidados a serem tomados em relação aos equipamentos pode acrescentar uns bons anos de vida ao equipamento com um mínimo de investimento. Então, porque não proteger o equipamento da poeira com um simples pano? Porque não providenciar um aterramento, que além de ajudar ao equipamento ainda garantirá maior segurança aos usuários? São pequenas coisas que demandarão um esforço imediato, mas que trarão, ao longo do tempo, um bom benefício. O bolso agradece.

Adendo: Alguns vídeos para se assistir:

Alguns vídeos muito interessantes encontrados no YouTube sobre testes de resistência feitos com equipamentos de áudio. Observe com cuidado, pois são vídeos promocionais, e nem toda verdade está clara. Seja crítico. Estão em inglês e um deles até em russo, mas mesmo quem não entende o idioma pode perceber o que estão fazendo.

http://br.youtube.com/watch?v=fiS4_L5NUAc

Processo de manufatura e testes de mixers Yamaha. No vídeos, podemos ver que os mixers digitais são testados unitariamente.

http://br.youtube.com/watch?v=ORZUR-G_qzI&feature=user

Processo de validação de componentes para serem utilizados em mixers Yamaha. Repare nos testes dos faders de volume e potenciômetros, que são movimentados milhares de vezes.

http://br.youtube.com/watch?v=NqUGLUJF7y4
http://br.youtube.com/watch?v=3LKnQl8gbkQ
http://br.youtube.com/watch?v=96VVcgrCx9E

Três filmes sobre a fábrica da Behringer na China

http://br.youtube.com/watch?v=EVxOm3lh1rw

Um vídeo da Mackie bem interessante com um comparativo sobre a resistência de alguns modelos de mixers. Dá pena de ver o que fazem aos equipamentos.

http://br.youtube.com/watch?v=e4lb-usPBSI

Vídeo da Tapco, sobre a resistência de seus equipamentos. Até fogo colocam…

1 Comment on "Durabilidade de equipamentos de áudio"

  1. Muito bom!
    Mantenha em local seco
    Obviamente, a umidade é um inimigo mortal de equipamentos elétricos, incluindo equipamentos de som. Você precisa garantir que qualquer instalação em que você armazene seu equipamento de som seja mantida seca, o que significa que não deve haver vazamentos ou água parada e deve haver desumidificadores em funcionamento. Caso contrário, essa umidade poderá se transformar em corrosão, o que pode degradar a qualidade física dos alto-falantes, microfones e fiação, resultando em uma quebra muito mais cedo do que seria caso fosse armazenada adequadamente.

    Uma coisa que ajudará é garantir que todos os seus equipamentos estejam armazenados em uma caixa de proteção, para que o equipamento em si não seja exposto ao ar. Você também deve manter esses estojos fora do chão – no mínimo, guarde-os em paletes ou prateleiras.

    Organizar casos de armazenamento
    Se você deseja manter seu sistema de som seguro e protegido, pode ser altamente benéfico mantê-lo bem organizado. Haverá vários componentes que compõem o seu sistema de som; portanto, o armazenamento adequado evitará que eles se confundam, se enrolem ou se quebrem. Você pode comprar suportes de rack com gabinetes projetados especificamente para amplificadores e alto-falantes. Caso contrário, você ainda poderá comprar caixas de armazenamento simples e separar tudo dessa maneira.

    Isso não apenas manterá seu equipamento seguro, mas também facilitará a localização do equipamento necessário. Além disso, certifique-se de rotular tudo para que você não precise abrir seus casos para descobrir o que está armazenado onde.

    Manter a temperatura de armazenamento adequada
    A umidade e a umidade da área de armazenamento não é o único fator ambiental que você deve considerar. Também é importante manter o equipamento em um espaço de armazenamento à temperatura ambiente. Você não o deseja muito quente ou muito frio, caso contrário, poderá causar danos ao alto-falante. Condições de congelamento, especialmente, podem fazer com que o alto-falante não funcione corretamente quando você precisar no evento, pois levará algum tempo para aquecer.

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