O multímetro, ou multitester, é um equipamento utilizado para medições de componentes elétricos, mas muitos dos seus recursos são extremamente úteis em sonorização. É um dos componentes indispensáveis na maleta de ferramentas do técnico (http://www.somaovivo.mus.br/artigos.php?id=118) e é importantíssimo sabermos utilizá-lo corretamente.
Apesar do multímetro servir para testes de componentes (dá para consertar uma mesa de som, um amplificador e outros equipamentos só com um aparelho desses), em sonorização os usos mais comuns são:
– Medição de corrente elétrica alternada (energia elétrica “de parede”) – ACV
– Medição de corrente elétrica contínua (energia de pilhas ou fontes de alimentação) – DCV.
– Medição de resistência elétrica (impedâncias) de caixas acústicas – (OHM ou Ω)
– Medição de continuidade de cabos
Para quem não tem muita prática, o multímetro deve ser digital (há um visor desses de calculadora, mais fácil de ler os resultados), e qualquer modelo bem simples serve. As marcas Minipa e Icel são boas, mas existem muitas outras. São baratos, custando a partir de 20 reais. São alimentados por uma bateria 9V e vêm acompanhados por duas duas pontas de prova (fios ligados a uma ponta metálica), em geral uma vermelha e uma preta. São facilmente encontrados em qualquer eletrônica e em casas de material elétrico, e até mesmo em camelôs e supermercados.
A ponta de prova vermelha (positiva) deve ser encaixada no conector indicado por VΩ mA. A ponta de prova preta (negativa) deve ser encaixada no conector indicado por COM. Isso pode variar um pouco dependendo da marca e modelo. Consulte o manual do aparelho.
Antes de mais nada, um alerta: mexer com eletricidade é sempre perigoso. Repare pelas fotos que as pontas de prova são isoladas até bem próximo das pontas, mas ainda assim nunca encoste nelas nem deixe as pontas encostarem uma na outra (fechar curto-circuito) quando em uma medição. ATENÇÃO e CUIDADO são muito importantes, para trabalharmos em segurança.
Os multímetros tem um grande seletor central que permitem escolher a função de medição (VCA, VDC, A, Ω, etc). Cada uma delas SÓ SERVE para um tipo de medição. Cada função pode ter uma ou várias escalas de valores. Na função correta e na escala correta, o aparelho funcionará muito bem. Mas se usarmos a função errada em um teste, o aparelho poderá ser danificado. Por exemplo, se colocarmos o seletor na posição OHM ou Ω e medirmos a tensão de energia elétrica de uma tomada, com certeza o aparelho será danificado. Bons equipamentos contam com um fusível de proteção interno, e em caso de algum dano basta trocar o fusível.
Tendo então essas informações, vamos às medições.
TESTE DE CORRENTE ALTERNADA – TOMADAS ELÉTRICAS
Quando usar: quando não sabemos qual a voltagem de uma tomada de parede, se 110V ou 220V, ou se a tomada está energizada ou não.
Função e escala de trabalho: coloque o seletor na posição ACV ou VCA ou V~ (todas essas indicações se referem à corrente alternada, e depende da terminologia que o fabricante utiliza)
– coloque o seletor do multímetro na posição mais alta da escala, em geral 500, 600 ou 750
– encoste as pontas de prova nos conectores de uma tomada.
– o valor mostrado corresponderá ao valor da tensão elétrica encontrada na tomada.
Esse é um teste que deve ser feito ANTES de se conectar o equipamento à rede elétrica de um lugar desconhecido (uma quadra de colégio, um cerimonial, uma escola, um auditório). Fazer o teste ANTES pode poupar dor de cabeça e centenas ou milhares de reais. Feito o teste, acertamos os equipamentos para a entrada correspondente.
TESTE DE CORRENTE CONTÍNUA
Quando usar: Corrente contínua é o tipo de energia que encontramos nas pilhas e baterias e nas saídas de fontes de alimentação de alguns equipamentos (microfones sem fio, módulos de efeitos, etc).
Função de trabalho: DCV , VDC ou V= (na verdade, o símbolo é um V seguido de um traço com três pontos embaixo)
Teste de fontes de alimentação:
– coloque o seletor do multímetro na escala 20 da função correspondente
– encoste as pontas de prova no conector da fonte
– o valor mostrado corresponderá ao valor da tensão elétrica. Se não houver tensão, o cabo está partido ou a fonte está defeituosa.
– se o valor for negativo, é porque as pontas de prova estão invertidas (o pólo positivo está no lugar da ponta de prova preta).
Teste de pilhas e baterias – não é o melhor método de teste, pois pilhas e baterias devem ser testadas com carga, ou seja, algo que esteja extraindo energia delas. Na falta de um testador de pilhas verdadeiro (alguns multímetros possuem essa função, mas são modelos mais caros), o multímetro "quebra o galho". É bom para efetuar comparações entre pilhas e baterias semelhantes.
– coloque o seletor do multímetro na escala 20
– encoste as pontas de prova no conector da fonte
– o valor mostrado corresponderá ao valor da tensão elétrica. Quanto mais próximo do valor nominal da pilha (1,5V) ou bateria (9V), melhor.
– se o valor for negativo, é porque as pontas de prova estão invertidas.
Se você tiver 3 baterias e não sabe qual está boa ou não para uso em um microfone sem fio, tire as medidas das três e coloque no microfone aquela que alcançar a maior voltagem. É a que está com a melhor carga.
TESTE DE RESISTÊNCIA ELÉTRICA (IMPEDÂNCIA)
Quando usar: podemos testar se um alto-falante está bom ou não, podemos testar a impedância de uma caixa acústica ou um sistema de caixas, e até mesmo entre cabos de sonorização.
Função de trabalho: OHM ou Ω. Nessas condições, o multímetro passa a apresentar o número 1 do lado esquerdo, que significa impedância infinita (o sistema não está interligado).
Teste de um alto-falante ou caixa de som:
– coloque o seletor do multímetro na escala mais baixa possível, em geral 200.
– encoste as pontas de prova aos conectores do alto-falante ou caixa de som, respeitando positivo com a ponta vermelha e negativo com a ponta preta.
– para testar uma caixa de som, não é necessário desmontá-la. Se a caixa de som for de conector P10 ou outro, instale um cabo e encoste as pontas de prova nos terminais negativo e positivo da outra ponta do cabo ou nos terminais do próprio plugue.
– os valores resultantes indicarão a impedância do alto-falante ou da caixa.
O valor obtido é expresso com uma casa decimal (8,4 ou 4,5 e assim por diante), do lado direito do visor.
Se com a medição o visor continuar apresentando o valor 1 do lado esquerdo, indica que o falante está "queimado" (bobina rompida) ou a caixa de som está defeituosa (solda rompida, falante queimado ou divisor de frequências ruim).
O teste de uma caixa de som se refere ao falante de graves (woofer). O falante de médios / agudos (cornetas, mid-range e tweeters) é "mascarado" pelos elementos filtrantes (capacitores e divisores de frequências).
Teste da impedância resultante de um sistemas de caixas ligadas em série e/ou paralelo:
– coloque o seletor do multímetro na posição mais baixa possível da escala, em geral 200.
– encoste as pontas de prova nas pontas dos fios que serão ligados no amplificador, respeitando positivo com a ponta vermelha e negativo com a ponta preta.
– os valores obtidos indicarão a impedância resultante das caixas de som interligadas a este fio.
A impedância resultante deve acompanhar a impedância mínima recomendada para o amplificador: 4 Ohms, 8 Ohms, 2 Ohms. Se a impedância estiver abaixo do mínimo, é necessário alterar as ligações.
Teste de continuidade de cabos
– coloque o seletor do multímetro na escala 200.
– encoste as pontas de prova nos conectores ou condutores, positivo com positivo, negativo com negativo, depois positivo com negativo
– os valores resultantes indicarão que o cabo está tendo contato entre os seus conectores, e o valor mostrado será a impedância total do cabo. Exemplo: 1,2 ou 2,0 e assim por diante.
– se aparecer um valor muito alto, acima de 5,0, a solda deve estar ruim ou o cabo é muito grande. Se o valor ficar fixo no valor 1, do lado esquerdo do mostrador, é porque não está havendo contato elétrico – solda ou cabo rompidos.
– no teste entre os contatos positivo com negativo, o correto é o valor 1 do lado esquerdo, indicando que não há continuidade. Se houver valor sendo apresentado, o cabo está em curto e deve ser revisto.
A foto da esquerda mostra o teste do pólo negativo com pólo negativo dos conectores P10, obtendo-se 1,9 de resistência. Tudo OK. A foto da direita mostra o teste de um pólo negativo com um pólo positivo, e o valor mostrado representa infinito, ou seja, sem conexão. OK.
A foto acima mostra o teste feito entre o pólo positivo com outro pólo positivo de dois plugues P10. A resistência encontrada é de 37,2 Ohms, um valor muito alto. Esse cabo deve ser revisto e as soldas refeitas.
O teste de continuidade é um bom apoio, útil para descobrir onde está o problema, mas não esqueça de realizar um teste em condições reais de uso nos cabos (teste sonoro).
DICA DE OPERAÇÃO
Não economize na bateria de 9V do próprio multímetro. Use uma Duracell, Rayovac ou outra alcalina de boa marca, e fique atento à ela. Quando a pilha está fraca, as leituras passam a ser erradas. Houve um caso comigo, no Anfiteatro em que trabalho, de um multímetro que estava indicando que as tomadas de 110V estavam em 163V, e isso causou uma confusão danada. E tudo por causa de pilha fraca. Alguns multímetros (em geral, os modelos mais caros) apresentam no painel um símbolo indicativo de bateria fraca.
CONCLUSÃO
Estas funcionalidades dos multímetros ajudam muito a vida do operador de áudio, mas o aparelho vai muito além disso. Alguns testes são até mesmo PERIGOSOS, logo, não os faça sem conhecimento prévio ou sem contar de ajuda de alguém experiente. Para quem quiser se aprofundar no assunto, há alguns livros no mercado, como os exemplos abaixo:
http://www.eccel.com.br/bazaar/eccel_product.asp?p_prod_id=6&p_categoria=Eletrônica%20Básica
http://www.bestbooks.com.br/livros_template.asp?CodigoAfiliado=1384&Codigo_Produto=64805
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Revisado em 14/Mar/2008
gostei muito das dicas parabéns .
Esse POST me ajudou muito com cabos de áudio na igreja.
Agradeço e lhe parabenizo! Você é um bom técnico e esclareceu muitas coisas de uma maneira simples e eficaz. Quem sabe, como você, não enrola e explica fácil. Muito bom o posto!