O som é bom por causa do operador ou por causa do equipamento?

Um erro muito comum na nossa vida cotidiana é achar que a qualidade do nosso trabalho depende do equipamento. Que para sermos bons operadores de som precisamos de um equipamento "profissional" de milhares de reais. Isso não é verdade.

Um fotógrafo não é bom porque usa uma câmera caríssima. Ele é bom por causa da sua forma de ver o mundo. Às vezes, uma simples máquina fotográfica sem muitos recursos produz fotos sensacionais, não pelo apuro técnico, mas pela capacidade de retratar a realidade humana!

Um motorista não é bom porque dirige um BMW, mas sim porque sabe dirigir bem, defensivamente. Aliás, gosto muito de utilizar esse exemplo do carro. Imagine a seguinte situação: um excelente motorista com um Fusca lhe oferece carona, ao mesmo tempo que um péssimo motorista lhe ofereçe também carona em uma Ferrari. De qual dos dois você aceitará a carona? Pense em qual dois dois terá mais chance de chegar em segurança ao seu destino…

Da mesma forma, um operador de áudio não é bom porque usa um equipamento de altíssima fidelidade, mas porque sabe extrair o máximo do que está disponível. Já vi eventos maravilhosos feitos com equipamentos simples e eventos terríveis com equipamentos com tudo de bom e melhor.

Há um exemplo clássico. Carlos Pedruzzi, um dos maiores nomes do áudio brasileiro, foi cuidar do som em um show de uma artista de renome nacional, em um ginásio de acústica muito ruim. A reverberação enorme estava atrapalhando tanto que a solução foi simplesmente mutar todos os canais e deixar apenas a voz da cantora saindo pelo PA (os instrumentos só ficaram com os retornos do palco). Eu fico imaginando a mesa de 48 canais com inúmeros recursos e quase nada sendo utilizado, os 10.000 Watts de potência com apenas 500W em uso, as 2 toneladas de caixas de PA praticamente sem uso algum….  os compressores, os equalizadores, todos parados… E se não fosse essa decisão, o show estaria perdido. 

É evidente que, se um bom operador tive um bom equipamento, o resultado obtido será fantástico. Mas se um bom operador tiver um equipamento ainda que medíocre nas mãos, conseguirá tirar dele o máximo possível. Mas não adianta entregar compressores, equalizadores ou mesmo uma mesa digital de R$ 20.000,00 para um mal operador, que ele não vai conseguir eliminar as microfonias, melhorar a inteligibilidade do som, etc. E ao final ainda ficará colocando a culpa no equipamento, como sempre faz.

Não estou fazendo apologia de equipamentos baratos. Recursos bons são extremamente úteis e muitas vezes imprescindíveis. E é muito mais fácil trabalhar com equipamentos de boa qualidade do que com equipamentos ruins. Mas sonorização é um trabalho de conjunto – músicos, cantores, equipamentos (caixas, mesas de som, periféricos, microfones, etc), como também o operador. E o operador é talvez uma das peças mais importantes desse conjunto.

Fica aqui um alerta aqueles que estão montando o seu equipamento ou a sonorização da sua igreja. O primeiro gasto não é em equipamentos maravilhosos, mas sim em treinamento dos operadores!

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Revisado/reescrito em 05/Mar/2008

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