Profissões ligadas ao áudio 6 – o Engenheiro Acústico

Um engenheiro acústico – ou simplesmente "acústico" – pode trabalhar com projetos de casas de shows, boates, igrejas, teatros, cinemas, ginásios, estúdios. Ele precisa conhecer um pouco de engenharia civil, um pouco de arquitetura e muita, muita acústica.

O engenheiro acústico poderá atuar em uma obra em duas fases. Durante a fase de projeto, junto com os engenheiros civis e arquitetos do lugar, poderá intervir na estrutura da obra, poderá alterar a arquitetura, mudar formatos de paredes, quantidade e tamanho das janelas, pé direito, etc. Tudo isso influenciará o resultado sonoro esperado. No caso, o projeto deve atender à utilização proposta para o lugar. Se é um salão de uma boate, com música eletrônica, o cuidado com a acústica será um. Se é lugar para apresentações ao vivo, será outro. Se é apenas uma sala para palestras e convenções, o cuidado será ainda de outro tipo. Mas mudanças feitas nessa fase de projeto são fáceis e baratas. Gasta-se tempo, papel e tinta de impressora apenas.

Mas infelizmente, na realidade brasileira (e porque não, nas nossas igrejas também), muito raramente as obras contam com um engenheiro acústico. O mais comum mesmo é termos a adaptação de um lugar sem tratamento algum, onde se colocou um sistema de som que se mostrou  insuficiente (em qualidade), e após várias tentativas e erros de consertá-lo (e muito gasto em equipamentos envolvido nisso), o acústico é chamado. Como nesses locais o engenheiro já encontra a parte civil pronta, então a solução envolverá principalmente processamento sonoro (equalizadores, delays, caixas, etc) e muito, muito material fonoabsorvente (Sonex, cortinas pesadas, etc). Tudo isso com um gasto talvez dezenas de vezes maior que um bom projeto acústico feito desde o início. O conserto sai muito mais caro.

Se falamos das casas de eventos (igrejas, boates, teatros, cinemas, etc), o que se dirá de um estúdio de gravação? Esses mais do que todos tem necessidade de um bom projeto desde sua concepção. Muitos estúdios são considerados excelentes não só pelos equipamentos que possuem, mas pela acústica. Muitos técnicos de "home-estúdio" (onde em geral a preocupação com acústica se resume a encher todas as paredes de Sonex) passam apertos com ondas estacionárias, graves que sobram, coisas que poderiam ser evitadas alterando-se as medidas e formatos das paredes, e com isso alterando-se os "modos" (as frequências que reverberam por causa das medidas) da sala.

A acústica deve ser levada em conta não só em locais onde vai haver sonorização de algum tipo. Mesmo residências, escritórios e hospitais também precisam ter essa preocupação. Imaginem um paciente grave em um quarto de hospital ao lado de uma avenida movimentada. Em vez de descansar para melhorar, ele vai é piorar com o barulho vindo do tráfego. Isso aconteceu comigo: a maternidade onde minha esposa ganhou neném fica em uma rua bastante movimentada, e ela teve que tomar calmantes, pois não conseguiu dormir com o barulho vindo da rua. Escritórios instalados em fábricas barulhentas também sofrem com o problema: como atender um cliente no meio de um barulhão. Da mesma forma, alguns tipos de profissionais precisam de silêncio para trabalhar, como as residências também (quem mora próximo de um bar sabe bem como é isso). Um bom acústico pode resolver esses tipos de problema. Aliás, as igrejas também precisam do engenheiro acústico, não só se preocupam com o som interno, mas também em não deixar o som de dentro incomodar os vizinhos nem o som de fora incomodar a igreja.

E quem é o engenheiro acústico? No Brasil, a formação de engenheiro acústico não existe à nível de graduação. Existem especializações voltadas para engenheiros civis e arquitetos que enfatizam a área de acústica. São bons cursos, e no caso do ginásio naquela cidade de interior citado lá no alto, se o engenheiro civil que o projetou tivesse noções de acústica e a visão de que o espaço poderia ser usado para outras atividades (eventos, shows), com certeza teria muito mais cuidado ao projetar o lugar.

Também existem engenheiros de áudio com especialização na parte de projeto acústico, assim como  engenheiros civiis e arquitetos com especialização na área. Apesar de todos se preocuparem com a acústica do lugar, pela sua formação mais abrangente o engenheiro de áudio também vai se preocupar também com a operação do sistema e com os músicos. Em minha cidade há um Centro de Convenções, com um grande salão para até 2.500 pessoas. O salão é ótimo, tem uma acústica muito boa. Em conversa com a proprietária, ela citou que o projeto foi feito em São Paulo, por um arquiteto com especialização em acústica. Só que ele "esqueceu" dos operadores de som, que ficaram em um quartinho atrás do palco, visualizando os eventos por uma pequena abertura, tudo muito ruim de trabalhar. Já o pé-direito do palco é muito baixo, e a iluminação é muito próxima dos músicos e palestrantes, e mesmo no ar-condicionado do local é comum eles suarem muito devido ao calor das lâmpadas. Um engenheiro de áudio não deixaria isso acontecer.

Grandes eventos também podem precisar do acústico. Quando um show é feito em um ginásio de esportes com acústica péssima, é o engenheiro que poderá intervir na posição das caixas acústicas, no uso de materiais  (em geral removíveis, usados no evento e depois retirados), de forma a minimizar o problema e permitir que o evento seja realizado com um mínimo de qualidade.

Muitos técnicos de sonorização (sem formação específica em engenharia) bastante experientes poderão também intervir na acústica de um lugar já construído, aplicando materiais fonoabsorventes. E os resultados sonoros também são bons, chegando em alguns casos a muito bons, dependendo da experiência pessoal do técnico.

Como complemento a este artigo, sugerimos a leitura do seguinte texto: http://www.somaovivo.mus.br/artigos.php?id=125.

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Contribuíram com informações para o texto: David Fernandes e David Distler.

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Revisado em 05/Mar/2008

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