Foi em 17 de abril de 2010 que a Revista Comunhão promoveu um Encontro de Líderes Cristãos, com o tema "Técnicas de Sonorização”. Havia 170 pessoas (lotação máxima do auditório), formada uns 70% de operadores de som, uns 30% de pessoas com poder de compra nas igrejas. Muitos lojistas (o evento foi patrocinado por uma empresa da região, mas lojistas "concorrentes" também estavam lá), muitos técnicos de áudio de igrejas, alguns músicos. A maioria dos rostos eram de pessoas abaixo dos 30 anos de idade, e tivemos a oportunidade de (re)encontrar bons amigos, inclusive alguns aqui do SomAoVivo.
Como equipamento (sim, sabemos que o pessoal fica curioso), um sistema “simplezinho”. Dois Áudio Technica ATW-702, uma mesinha Roland V-Mixer M-400, e um único sistema Bose (line + subwoofer). Simples e com muita qualidade. Quanto aos palestrantes, eu acho que dispensa apresentações: o nosso David Fernandes (administrador do SomAoVivo), o Aldo Soares (que vem sempre aqui nos brindar com seus comentários) e o David Distler (que apesar de não frequentar o site, é um irmão em Cristo com todo seu trabalho voltado para sonorização de igrejas).
Da esquerda para direita: Aldo Soares, David Distler, David Fernandes
Como os palestrantes fizeram o grande favor de montar um excelente roteiro da palestra que nos foi entregue, tomamos a liberdade de reproduzi-los aqui, com os devidos comentários feitos durante a palestra.
PALESTRA DE DAVID FERNANDES : PLANEJAMENTO TÉCNICO E ADEQUAÇÃO ORÇAMENTÁRIA/TÉCNICA PARA PROJETOS DE SONORIZAÇÃO NA IGREJA
INTRODUÇÃO
A liderança de uma igreja só investirá em projetos de acústica e sonorização para seu templo se compreender a importância desta área tecnológica no apoio à pregação da Palavra de Deus. É nosso objetivo conscientizar as lideranças evangélicas acerca da importância do cuidadoso planejamento técnico e orçamentário para a aquisição e implantação de tecnologias (em especial, de Acústica e Áudio), que sirvam de apoio à atividade fim da igreja, qual seja, a pregação da Palavra de Deus. A mensagem (falada, cantada, representada, etc) deve chegar com clareza, e de forma agradável, aos últimos lugares do templo, onde geralmente está o visitante.
Nesse seminário, aprenderemos que planejar é estabelecer com antecedência as ações a serem executadas, estimar recursos a serem empregados e definir as correspondentes atribuições de responsabilidade em relação a um período futuro determinado.
CONTEXTUALIZAÇÃO
Nessa primeira parte, trataremos do contexto social, político e religioso em que vivemos e atuamos e refletiremos sobre como nos inserimos nele. Veremos que houve mudanças na sociedade, na legislação, na liturgia dos cultos, na qualidade musical e na tecnologia, as quais devem ser consideras em nossos projetos de sonorização. Também falaremos da inadequação arquitetônica de muitos templos e do despreparo técnico de muitos operadores de som, gerando um produto final de baixa qualidade.
PLANEJAMENTO TÉCNICO
Nesta parte, veremos que é fundamental a escolha de uma pessoa para gerir todo o processo. O planejamento precisa ter um objetivo específico. Para definir o objetivo, é necessário identificar seu público-alvo (pregadores, cantores, músicos, audiência, etc) e suas demandas específicas. Vamos aprender também a identificar as causas das demandas plausíveis e agrupá-las em três áreas, a saber: Acústica, Eletroacústica e Recursos Humanos. Por fim, aprenderemos a propor soluções integradas para seu atendimento e a fazer o levantamento global dos recursos disponíveis e dos custos de implementação das soluções.
PLANEJAMENTO ORÇAMENTÁRIO
Nesta etapa, aprenderemos a identificar os custos fixos e variáveis e a fazer uma estimativa realista da receita da igreja, de forma a adquirirmos uma visão clara de sua capacidade de pagamento e os elementos para montar o cronograma de implantação da solução escolhida. Também teremos noções de como construir um fundo financeiro específico para o projeto, bem como a administrá-lo adequadamente.
COMENTÁRIOS DO PALESTRANTE FEITOS NA APRESENTAÇÃO
As lideranças só investem em Som/Acústica se tiverem consciência da sua importância disto na pregação do Evangelho. Precisam entender que som ruim (tanto em qualidade quanto em volume excedente) afasta, espanta as pessoas da igreja. Foram citados os exemplos dos vizinhos. Se os vizinhos reclamam de excesso de volume fora da igreja, quanto mais dentro da igreja. O David citou o caso de uma igreja situada a uns 20 metros de sua casa, sendo que um dia ele mediu 105dB dentro da sua sala, com portas e janelas fechadas, então o que se dirá do volume dentro do templo.
Uma coisa que pode ser feita é fazer o isolamento acústico, levantar paredes duplas, etc. Por outro lado, se o som permanecer altíssimo lá dentro, o público sai da igreja, porque não agüenta ficar lá.
A mensagem deve chegar com clareza e de forma agradável em especial aos últimos lugares, onde visitantes sentam.
Na parte de contextualização, foi chamada a atenção para a mudança da liturgia. Décadas atrás as igrejas eram construídas pensando na acústica, para atender a um pregador e a um coral que não tinham microfones, e o único instrumento era um piano e/ou órgão. Hoje, temos verdadeiras bandas dentro das igrejas. Teclado / guitarra / bateria / contrabaixo e outros, verdadeiras bandas e até orquestras.
Só que, se houve essa mudança na liturgia, a mentalidade mudou para pior. Em vez de uma igreja projetada pensando em som, agora qualquer galpão é local de culto. Neste ponto, o David mostrou fotos de algumas igrejas completamente inadequadas. Algumas com teto baixo, mas o que chamou bastante a atenção do pessoal foi uma com cerâmica nas paredes, “para evitar ficar pintando”. Condições terríveis para uma sonorização eficiente.
Outro detalhe interessante é que tivemos evolução na qualidade da música. As igrejas tem agregado músicos profissionais, pessoas altamente capacitadas, mas que nas igrejas tem encontrado sonorizações deficientes, o que os desestimula. São talentos desperdiçados.
Evidenciou o despreparo dos operadores de som, evidenciou o equipamento muito antigo encontrado em algumas igrejas (apresentou fotos de equipamentos com décadas de uso, bastante gastos), por pura e simples falta de investimento na área.
Na parte de planejamento técnico, foi enfático nos passos:
– escolher uma pessoa para gerir todo o processo
– definir um objetivo específico, listar o que pode e o que não pode ser feito (por exemplo, derrubar uma parede, mexer no forro)
– identificar o público alvo (pregadores, cantores, músicos, ouvintes), conversar com cada um deles para se levantar as necessidades, ver os problemas
– baseado nas respostas, levantar os problemas procedentes e improcedentes
– identificar as causas dos problemas procedentes
– propor soluções gerais, tanto tecnológicas quanto recursos humanos.
– finalmente, levantar os custos das soluções propostas. Ver o que é possível implementar com voluntários e/ou com mão-de-obra remunerada.
O David enfatizou muito: independentemente do tipo de mão-de-obra, a pessoa escolhida para executar os trabalhos precisa ser especialista no que faz. Não adianta chamar uma pessoa que tem “algum conhecimento na área”, mas sim um especialista, tanto na questão teórica quanto prática, para evitar ter que se desfazer e fazer novamente.
Discuta com a área financeira os custos, as viabilidades e os prazos. E sempre implemente as necessidades mais emergenciais primeiro.
COMENTÁRIO NOSSO: magistral a palestra. Irretocável.
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PALESTRA DE ALDO SOARES: PLANEJANDO E ADAPTANDO A INFRAESTRUTURA E A ACÚSTICA
INTRODUÇÃO
Nessa palestra, abordaremos assuntos relacionados ao planejamento da infraestrutura de uma igreja, principalmente com foco na acústica do ambiente.
Quando falamos em planejamento dentro da igreja, estamos simplesmente seguindo o exemplo que Deus nos mostrou em vários acontecimentos bíblicos. Também estamos zelando pelo dinheiro da igreja e fazendo o trabalho certo, coerente e eficaz, que é o que Deus espera de nós.
A arte do planejamento bem sucedido é conciliar o possível e o quase possível. Ou o provável, o possível e o muito difícil. Exige também uma imensa parcela de perseverança e compromisso com o planejado. Claro que, como o assunto é igreja, ainda podemos adicionar aí a fé, que nesse caso é essencial.
Mas, a questão fundamental é a consciência de que somente através de um bom planejamento é que grandes desafios poderão ser vencidos com pequenos orçamentos. E quando tratamos sobre acústica, temos que ter em mente que planejar é mais barato, mais viável e mais eficaz!
Na palestra, abordaremos ainda conceitos fundamentais sobre a Acústica. Falaremos sobre os estudos da Acústica arquitetônica e funcional, que vêm passando por diversas transformações desde que a preocupação com os espaços passou a ser relacionada com as suas funcionalidades e práticas. As áreas mais desenvolvidas do estudo da Acústica estão relacionadas ao conforto ambiental, expressão tão ampla quanto a própria derivação do conceito “acústico”.
De toda forma, podemos nos orientar inicialmente por duas derivações distintas da Acústica, que são os estudos relacionados ao isolamento acústico e ao condicionamento da acústica interna de um ambiente, como veremos em nosso seminário.
ISOLAMENTO ACÚSTICO
O isolamento acústico de um ambiente é necessário por dois aspectos: o quanto de sons e ruídos externos entra no interior de um ambiente; e o quanto dos sons e ruídos produzidos no interior desse ambiente “vazam” para o ambiente externo.
O fundamento do isolamento acústico é exatamente impedir que tanto um aspecto quanto o outro ocorram, ou melhor, o quanto proporcionalmente isso ocorrerá. Isso porque o que determinará o quanto de sons entrou ou saiu de um ambiente será o seu nível de isolamento.
O nível de isolamento é um parâmetro técnico, definido por diversos estudos científicos que fundamentam diversas normas e padrões internacionais, tais como ISSO (International Organization For Standardization) e IEC (International Electrotechnical Comission).
Para cumprir adequadamente sua função, o isolamento acústico obedece a três princípios básicos:
1. A lei da massa, que resumidamente define que quanto maior for o peso de uma parede, por exemplo, maior será o isolamento acústico proporcionado, principalmente para as freqüências mais graves.
2. Os desligamentos estruturais, que aumentam o rendimento do isolamento acústico dos materiais envolvidos;
3. A vedação do ambiente, que garante a eficiência do conjunto acústico, evitando vazamento dos sons através de frestas ou até mesmo brechas no ambiente.
Determinar o nível de isolamento de um ambiente é fundamental para o desenvolvimento de um projeto de isolamento acústico. Dependendo do nível determinado, o ambiente deverá estar todo fechado, o que implicará a utilização de ventilação forçada, com ou sem ar-condicionado. Também implicará alterações nas paredes, teto e piso, com a utilização de materiais próprios para garantir o nível desejado.
CONDICIONAMENTO ACÚSTICO
A segunda derivação dos estudos da Acústica é o condicionamento acústico, que na prática é o estudo arquitetônico e funcional com vistas ao conforto e adequação auditiva dentro de um ambiente. Esse tópico é abrangente, o que acaba ocasionando a interferência total do projeto da acústica nos demais projetos e, principalmente, no projeto da arquitetura interna do ambiente.
Na verdade, é quase um consenso no meio acadêmico que a Acústica é produto da Arquitetura. Isso porque a acústica de um ambiente é influenciada diretamente por suas formas e características, e seu condicionamento pode acarretar alteração do projeto arquitetônico original.
O condicionamento da acústica de um ambiente será influenciado por diversos fatores, tais como:
1. O tipo de superfíceis dos revestimentos (lisas, porosas ou fibrosas), cujo resultado acústico vai afetar diretamente o rendimento e a qualidade da acústica do ambiente.
2. As formas das paredes, teto e piso, que vão determinar, entre outros aspectos, a distribuição de energia sonora pelo ambiente e evitar ou provocar várias anormalidades físicas.
O condicionamento acústico precisa, antes de outros aspectos, determinar o tempo de reverberação, que deve ser coerente e adequado ao tamanho e à finalidade do local – algo fundamental para o projeto.
Por outro lado, temos também a inteligibilidade como centro de um projeto acústico – isso sempre que tratamos de ambientes onde o reforço sonoro é necessário, como nas igrejas atuais. O centro de um projeto acústico na mesa de um designer, nesse caso, passa a ser a inteligibilidade do ambiente, que, traduzindo de forma bem simples, é a capacidade que uma pessoa terá que entender tudo o que é falado ou toda a informação musical que é transmitida, em todos os lugares do ambiente e em diferentes níveis de pressão sonora.
Esse é o centro de um projeto eletroacústico que não depende somente da Acústica, mas também do tipo de equipamento que é utilizado para a sonorização do ambiente. Os diversos parâmetros acústicos e do sistema de sonorização determinarão o quanto esse ambiente é inteligível ou não.
E, para terminar, abordaremos os diversos conceitos populares sobre Acústica que tanto ludibridiam as pessoas. Questões como “A caixa de ovo é boa para acústica?” “Isopor é bom para o isolamento acústico”, entre outras, serão alvo de nossa atenção.
COMENTÁRIOS DO PALESTRANTE FEITOS NA APRESENTAÇÃO
Brasileiro tem uma cultura de pedreiro, sem desmerecer o profissional que dá tão duro no seu ofício. Quando se olha para uma casa, se ela estiver torta, ela está errada. Quando se pensa em uma parede, ela é sempre imaginada como tijolo, reboco e pintura. Isso é nossa cultura, pois em países pobres, falar “parede” para eles é pensar em “estuque”.
O produto cultural nosso na construção é: piso de cerâmica, paredes de tijolos, teto de gesso. Isso em empresas, órgãos do governo, faculdades, escolas, é sempre assim.
Porque isto? Porque é funcional! Barato de construir, fácil de limpar. Mas será que isso servirá para um ambiente que precisa ser sonorizado? Essa é a grande questão que precisa ser levantada.
Ele cita como exemplo um dono de casa de show em Brasília. Na primeira casa, o som ficou ruim, e não fez sucesso. Ela ficou linda, uma arquitetura maravilhosa, mas o som era ruim, muito vidro na casa toda, e por causa disto era problema atrás de problema no local. O empresário entendeu que som ruim é igual a casa vazia. Assim, na segunda casa que construiu, o projeto acústico foi feito desde o início, e o resultado ficou muito bom.
Nas igrejas, é a mesma coisa. O som é fundamental, como está escrito em Romanos 10:17: “De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.
Outra coisa que é importante é que resolver problemas é uma coisa, paliativos são outra coisa. Problemas acústicos não são solucionados com soluções eletrônicas (equalizador). Pode até ser minimizado, mas só tratamento acústico resolverá problemas acústicos.
Ele entrou então na questão de referência. Tem gente que se acostuma como som ruim, e passa a acreditar que aquilo é normal. Citou um exemplo de uma igreja em Brasília com 11 segundos de reverberação. A igreja tem 80m de comprimento e, a partir de 30m, ninguém entende mais nada. Os cultos no final de semana são às 17:00h, mas as pessoas chegam às 15:00h para conseguir lugar na frente. Quem chega mais tarde acaba voltando para casa, porque não tem como entender nada do que é falado. E as lideranças acham isto normal.
A inteligibilidade é o centro do projeto de eletroacústica. Isto envolve os parâmetros acústicos e os da sonorização. É impossível separar os dois.
Como se planeja uma igreja? Simples: fazendo o mesmo que Deus fez na Bíblia. Temos o exemplo de Noé (Gênesis 6: 14-16), onde Deus deu todas as informações para se construir a arca: finalidade, divisões, tamanhos, todos os detalhes. O mesmo na construção do templo (I Crônicas 28 e 29, II Crônicas 3).
Em uma igreja, você tem as mesmas coisas. Não é simplesmente levantar paredes, mas se pensar como um todo. A NBR 10.151 já é implementada e fiscalizada em Brasília, e só um bom projeto conseguirá atendê-la.
Em um projeto de acústica, você leva em consideração:
– isolamento e condicionamento acústico
– arquitetura e estética do templo
– conforto térmico e funcionalidade dos espaços
– sonorização do ambiente
– carga elétrica que atenderá o templo como um todo (som, iluminação, projeção)
– vida útil dos materiais (pensar a longo prazo).
Ele chamou a atenção para esse último detalhe. Um bom projeto tem que pensar na vida útil. Citou o caso de forros acústicos de R$ 50,00/m² mas com vida útil de 5 anos, e forros acústicos de R$ 90,00/m² com vida útil de 20 anos.
Tudo isto a um custo que geralmente não ultrapassa 5% do valor da obra!
Quanto ao isolamento, o Aldo comentou sobre a lei da massa: quanto maior o peso, maior o isolamento. Por causa disto, vemos que Isopor não isola, casca de ovo não isola. E muito cuidado com vedação. Por uma abertura de 3% vazam 30% do seu som. É preciso vedar muito bem portas e janelas.
Quanto ao tratamento acústico, o mesmo abrange formas e características da superfície. Envolve a arquitetura e a decoração: não tem como fazer tratamento e ficar feio, ninguém aceita. Assim, um arquiteto e/ou uma decoradora do local são chamados para ajudar no projeto.
Algumas informações:
– nada de superfícies paralelas. Elas criam uma série de problemas acústicos.
– nada de paredes em posição que refletem os sons de volta para o palco (o som só deve ir para o fundo, nunca voltando para o palco).
– formatos mais elaborados exigem estudos de refletográficos
Com base nisto, mostrou fotos de dezenas de igrejas, auditórios e teatros tratados acusticamente, mostrando na prática os conceitos acima.
COMENTÁRIO NOSSO:
O Aldo confirmou algo importante: Acústica é igual a roupa sob medida. A que serve em uma pessoa não serve para outra, pois as medidas são diferentes.
Pela primeira vez vimos alguém comentando sobre valores para o isolamento/tratamento acústico. Ele falou que o custo costuma ficar na faixa dos 5% da obra. É um valor “bem genérico”, mas pelo menos já é algo que podemos usar como base. De qualquer forma, ficou claríssimo que a melhor fase para o estudo do projeto é ANTES que qualquer tijolo tenha sido assentado na obra, ou seja, na fase em que o projeto ainda está no papel.
Ele citou como exemplo o vidro. Um vidro comum (barato) atenua 18dB. Uma parede comum atenua 43dB. Enquanto o vidro comum custa menos de R$ 100,00/m², o vidro acústico, também com atenuação de 43dB, custa R$ 1.300,00. Assim, é muito mais fácil na fase do projeto em papel ainda definir uma pequena área envidraçada do que ter um projeto já construído com grande área envidraçada e depois ter que se fazer o isolamento/tratamento, que neste caso também é caríssimo.
Outra situação são as paredes paralelas. Uma igreja construída assim geralmente precisa do tratamento nas paredes laterais e na do fundo, na superfície toda, o que custa muito caro. Por outro lado, se desde a concepção for definido painéis inclinados (em gesso, dry-wall, etc), que direcionam o som para o fundo, bastará apenas tratar a parede do fundo, com grande economia de custo.
Em resumo, outra palestra magistral. Que aula!
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PALESTRA DE DAVID DISTLER: VOLUME X QUALIDADE DE SOM – COMO EQUILIBRAR ESTA RELAÇÃO EM NOME DA PERFORMANCE DO CULTO
INTRODUÇÃO
Em muitos círculos parece imperar um conceito popular de som “por quilo”, segundo o qual, quanto maior o número de caixas de som e/ou maior o volume, melhor. Na verdade, porém, há muitos contextos de sonorização ao vivo em que vale a máxima de que “menos é mais”, ou seja: MENOS em QUANTIDADE equivale a MAIS em QUALIDADE.
Inicialmente, veremos o conceito de pressão sonora e sua relação com o tamanho do ambiente sonorizado. Vamos conhecer uma causa preocupante da preferência por elevadas pressões sonoras e exemplos reais dos efeitos prejudiciais irreparáveis gerados pela perda auditiva.
Em sequência aos excessos abordados no tema quantidade, ingressaremos no tema qualidade. No encerramento, um estímulo à ação, sem a qual não ocorrem mudança efetivas.
OS PROBLEMAS DA QUANTIDADE
Nesta parte, veremos que a pressão sonora é medida em decibéis e que é essencial que o operador de som esteja familiarizado com os mesmos, e consciente da pressão sonora que produz ao mixar o som ao vivo, tanto para não interferir na adoração da congregação, quanto para não ser responsável por danos à saúde daqueles a quem serve.
Os decibéis buscam expressar a reação não linear dos nossos sentidos às grandezas de energia com as quais convivemos. Um aumento de apenas 3 decibéis em intensidades sonoras já elevadas, reduz em50% o tempo a que podemos estar expostos sem danificar a nossa audição.
A acústica de um ambiente pode levar o operador de som a aumentar o nível de pressão sonora produzido pelo sistema sob seu comando, aumento que pode ter um efeito positivo até certo ponto, além do qual será apenas prejudicial.
Todo o fantástico universo sonoro que percebemos é interpretado por nosso sistema auditivo, cujas funções dependem de áreas minúsculas e delicadas (com dimensões de cerca de 10mm), algumas das quais Deus protegeu encapsulando-as na ossatura do nosso crânio. Além de aumentar a nossa consciência da maravilhosa obra de Deus ao nos criar, uma noção desse sistema nos ajuda a compreender o impacto perigoso exercido pelas elevadas pressões sonoras.
Outra área em que a consciência da pressão sonora é de grande importância para uma igreja, envolve os vazamentos e o enquadramento da igreja nos parâmetros definidos pela norma técnica NBR 10.151.
O último elemento com relação à quantidade é o da quantidade de fontes sonoras. Quando um mesmo som é reproduzido por múltimplas fontes sonoras cuja projeção se sobrepõe, ocorre um processo de interferência que destrói a homogeneidade de cobertura ao longo do auditório. Assim como não faz sentido se ter dois tecladistas, dois guitarristas e dois bateristas tocando exatamente a mesma coisa, ter “cópias concorrentes” do mesmo som prejudica a qualidade final. Veremos diagramas e analogias que explicam o efeito negativo causado pela interferência entre essas cópias concorrentes.
OS PROBLEMAS DA QUALIDADE
Um dos elementos essenciais à qualidade sonora é a equalização. Veremos a origem desse termo, o que ele envolve e elementos importantes à sua compreensão, aplicação e demonstrações práticas do mesmo.
COMENTÁRIOS DO PALESTRANTE NA APRESENTAÇÃO
O David Distler focou muito nos slides de apresentação, então não teremos como fazer muitos comentários.
A princípio, ele falou sobre o papel da liderança, do ministério na igreja. Focou também a doutrina de Corpo do Apóstolo Paulo (I Coríntios 11), que uma única unha machucada faz todo o corpo sofrer. Em sonorização, é a mesma coisa. Se o som da igreja estiver ruim, toda a congregação sofre.
Falou e apresentou detalhadamente o funcionamento do ouvido. Uma verdadeira aula de anatomia, para então entrar na necessidade de se cuidar do ouvido, controlando a pressão sonora percebida.
Mostrou as tabelas de decibéis e o tempo de exposição máxima para cada faixa. Mostrou um decibelímetro e perguntou quantos ali tinham um para usar nas suas igrejas. Poucos, muito poucos (menos de 5). Mostrou como o aparelho é importante, como é possível inclusive usar o equipamento para evitar problemas com o público.
Lembrou que para um operador de som, perder o ouvido é perder o seu trabalho. Recomendou-se uma audiometria anual, mas não uma audiometria “normal”, mas que se procure uma audiometria estendida, que vai de 63Hz a 16KHz (a normal vai até 4KHz).
Mostrou um pequeno freeware que retrata as perdas que afetam nossos ouvidos. O programa é o Hearloss, desenvolvido pela University College London, e pode ser baixado gratuitamente aqui:
http://www.phon.ucl.ac.uk/resource/hearloss/
Simples de usar, é surpreendente nos seus resultados!
Veio então o ponto alto da palestra. Ele colocou um texto bastante forte no projetor:
Frase: “só consigo tocar se o som estiver alto”
É igual a
“só consigo tocar sob efeito de substâncias psicoativas”.
Quanto o som está acima de 100dB, o sistema endócrino libera diversos hormônios (adrenalina, cortisol), que tem efeitos sobre nosso corpo. Aumentam os batimentos cardíacos, etc, tudo isto por um reflexo de fuga. Não é normal ficar próximo a um som alto, e então o corpo prepara-se para fugir. Esses hormônios dão até uma sensação de bem-estar para algumas pessoas, mas isto é irreal, pois a longo prazo estamos submetendo o organismo a estresse, prejudicando-o.
E enquanto está junto de fontes sonoras de alta pressão sonora, tem-se o ouvido destruído. Quando a pessoa se dá conta da perda auditiva, geralmente o dano já é permanente e irreversível.
COMENTÁRIO NOSSO:
Depois de demostrar o software de perdas auditivas, acredito que haverá um “boom” de compras de decibelímetro e de exames de audiometria aqui em nossa região. Foi interessante ver o rosto de espanto das pessoas. Palestra muito esclarecedora no cunho prático, sem contar que tudo o que falava ele acompanhava do embasamento bíblico.
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PERGUNTAS E RESPOSTAS FEITAS AOS PALESTRANTES
P: Quais os produtos usados para isolamento acústico?
R. O fundamento primeiro é saber quanto precisa isolar. Se o valor for alto, investe-se em paredes duplas, vidros de isolamento, etc.
P. Paredes paralelas, o que fazer?
R. Implantar difusores. É o melhor custo benefício para tal solução. Absorvedores funcionam, mas tem que ser feito em toda a parede, é caro e espumas como Sonex tem vida útil curta.
P. Qual o melhor material para aquário de bateria?
R. Uma bateria digital! (arrancou aplausos dos presentes). Por melhor que seja a bateria acústica, quando ela é colocada dentro de um aquário, ela fica com “som de banheiro”. Além disso, quando se coloca todo o custo envolvido (aquário, microfones, canais de mesa de som, espaço, ar-condicionado, etc), uma bateria digital tem custo/beneficio muito melhor. Igrejas com problemas de bateria tem que pensar em baterias digitais (mais uma vez arrancou aplausos do pessoal).
P. Qual a melhor posição para caixas e mesa de som?
R. Para caixas, depende muito. Tem que ver o tipo de caixa, dispersão sonora, etc. Para mesa de som, é bom estar afastado do palco, para não ouvir o som direto. O Aldo comentou que, se a igreja tem não mais que 25 metros de profundidade, a mesa pode ficar junto à parede dos fundos, onde escuta-se melhor o som sem muitas reflexões. Outra regra é também não ficar parado. Tem que andar, tem ver como está o som na frente, nas laterais, etc.
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CONCLUSÃO
Houve algo ruim nesse evento, e esse algo foi o tempo. O pessoal estava tão sedento por informações que poucas horas não deram conta de tudo. Entretanto, todos os palestrantes deixaram bem claro: sonorização é importante, requer investimentos constantes, e com um produto final de qualidade, teremos uma igreja cheia de vidas.
Ao final, como sempre, ficou o gostinho de “quero mais”.
Também tivemos a oportunidade de conhecer muitas pessoas do SomAoVivo pessoalmente. Veio o Eduardo “Bedim” de Itaperuna/RJ, veio o Tailan “TSA” de Feira de Santana/BA, veio o “Hudson” de Resplendor/MG. Sempre bom conhecer os membros desta família que é o SomAoVivo.
Da esquerda para direita: Tailan, Jonatan_SC, Bersan, Alvaro, Bedim e Hudson
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