Treinamento de uma Equipe de Som – Parte 3

Parte 3: Envolvendo músicos e cantores no trabalho

 

 

Dá um trabalhão. Muito trabalho mesmo. Final de semana para descansar… nem sei o que é isso nesses últimos tempos. Problemas mil a serem resolvidos. Refazer, consertar, testar tudo! Nada pode falhar. E também muito importante, treinar!

 

Para se conseguir um bom resultado no som, não basta apenas melhorar a Equipe de Som. É necessário envolver músicos e cantores no trabalho. O treinamento se estende a eles.

 

Conversei com o responsável pelo grupo, conversei com o pastor para ele autorizar o “empréstimo” do pessoal, e então marcamos um ensaião no domingo.

 

14:00h – equipe de som – montar tudo

15:00h – músicos – fazer passagem de som só deles.

16:00h – cantores – fazer passagem de som de todo o grupo.

 

O início foi tenso. Muito tenso. Descobrimos novos e graves problemas no sistema de som, de arrancar o restante do meu cabelo. Dei muito brigueiro nos meninos do som… ainda bem que já me conhecem… Descobrimos:

 

– os cabos dos mics sem fio falhavam

– os cabos entre a mesa e o rack (amplificadores e periféricos) falhavam

– os cabos das caixas de som falhavam.

– os cabos dos retornos de fones dos músicos falhavam.

 

Os cabos dos microfones dos cantores a gente já havia revisado, e graças à Deus funcionaram bem. Então, pelo menos vozes a gente tinha. Problema enorme foram os músicos, que tiveram que tocar mais “pela fé” que pelo retorno…

 

“É… até o próximo sábado, teremos que refazer isso tudo….” pensei. Por outro lado, descobrimos os problemas da reunião passada (vide parte 2 do artigo). Agora, é consertar tudo ANTES da próxima reunião.

 

Bem, com o ensaio prejudicado (deu para cantar vários hinos, mas foi muito aquém do que poderia ser), por culpa do som, aproveitamos para ter uma boa conversa com o grupo todo. Eu já teria que fazer isso mesmo…

 

Expliquei para todos que, para se ter uma boa sonorização, o trabalho envolve três partes distintas, mas intimamente unidas: equipe de som, cantores e músicos. O resultado, bom ou mal, é obtido pela soma do desempenho dessas três partes, e não uma ou outra sozinha. Se o resultado for ruim, não existirão um ou dois culpados. O grupo todo será o culpado.

 

Bem, falar isso é fácil, difícil é demonstrar para eles como isso se aplica na realidade. Para isso, nada melhor que ensinar o uso de microfones.

 

CANTORES

 

Expliquei aos cantores o básico: como usar corretamente um microfone. As regras gerais são:

 

– sempre próximo à boca da pessoa

– usado em posição horizontal

– sempre segurar pelo corpo, não pelo globo do microfone.

– um microfone para uma pessoa.

– nunca, nunca, nunca, apontar o microfone em direção à nenhuma caixa de som

– quando não estiver sendo usado, o microfone deve ficar no colo, apontado para o corpo da pessoa

 

Estudamos, então cada uma dessas regras:

 

a) Sempre próximo à boca

 

É incrível, mas tem gente que aponta o microfone para um lado e canta para o outro. Ou então, que usa o microfone vários centímetros (algumas dezenas de centímetros) afastados da boca…

 

Contei o caso da moça que tocava teclado e cantava. Coloquei um pedestal com um microfone na frente dela, e ela cantou vários hinos assim, em grupo, sem o menor problema. Até que pediram que ela fizesse um solo, só que ela não lembrava a letra… alguém então providenciou a folha, só que essa pessoa estendeu o braço de lado, e para ler a moça teve que virar a cabeça… e o microfone ficou apontado praticamente para o ouvido dela. Mostrei como ficou (ela lendo a letra com o pescoço virado, o microfone apontado para o ouvido), e obviamente o resultado ficou horroroso.

 

Expliquei então… o microfone foi usado errado, por culpa da usuária (e da pessoa sem noção segurando a folha), mas aos olhos da igreja… o problema foi culpa lá do “menino do som” (eu). Isso é um ótimo exemplo de “trabalho em equipe” no pior sentido, ou melhor de como o erro de um afeta o outro.

 

Também peguei um microfone e, na frente de todos (é importante envolver os músicos nesse trabalho), mostrei a diferença que é usar o microfone próximo da boca e longe da boca. Mostrei o que nós do som conhecemos como “efeito de proximidade”, mas que para os homens mostrei de outra forma:

 

“senhores… quanto mais próximo, mais grave fica a voz. Quanto mais longe, os graves são perdidos (mostrei o efeito na prática). Então é simples: baixos, se vocês cantarem com o microfone longe, vamos colocar vocês para sentar com os tenores. Tenores, se vocês cantarem com os microfones longe, vamos colocar vocês para sentar com as contraltos”.

 

Pronto, um monte de risadinhas (é bom para descontrair) vindo das irmãs. É a senha para dar um puxão de orelhas nelas também.

 

“Senhoras contraltos, o mesmo se aplica a vocês. Quem quiser sentar com as sopranos, é só usar o microfone longe. E sopranos, não pensem que vocês são sortudas. Microfones usados longe captam pouco som, e então precisamos dar muito ganho, o que aumenta a chance de microfonias. Quem usar assim acabará é sem som algum. Meus meninos tem ordem de, se notarem alguém segurando errado, é para cortar o som da pessoa. Antes deixar um sem som que ter microfonia no culto”

 

Pronto, agora alguns rostos espantados, surpresos e talvez até indignados. Mas é a realidade. Em um grupo de 16 vozes, qualquer microfone pode causar problemas, e é melhor sacrificar um que perder os 16 para uma microfonia.

 

b) Usado na posição horizontal

 

Eu comecei explicando que Televisão não é referência para ninguém no uso do microfone. Na TV, a imagem da pessoa é tão importante quanto o som da pessoa. Então, por causa disso, lá o pessoal segura microfone igual segura um sorvete.

 

Então, mostro as diferenças entre o som captado a 0º (microfone na horizontal, paralelo à boca) a 45º (máximo limite aceitável, ainda fica razoavelmente bom) e a 90º (microfone na vertical, igual um sorvete). Sem variar o tom de voz, só variando a angulação do microfone, demonstrei as grandes diferenças de captação.

 

As cabeças balançando afirmativamente garantiram que eles entenderam.

 

c) Sempre segurar pelo corpo, nunca pelo globo

 

Conto a seguinte história:

 

“um dia, em um solo para 1.000 pessoas, o sujeito, cantor bem conhecido por todos vocês aqui (um rapaz da nossa denominação que já gravou vários CD´s), me segura o microfone pelo globo. O som fica péssimo, mandam parar e começar de novo. Novamente, ele começa cantando e o som continua péssimo.

 

Mandam parar de novo, perguntam então o que está acontecendo com o som. 1000 pessoas se voltam para o som. Como perguntaram e pediram uma resposta… pegamos um microfone e falamos: “pastor, pede para ele segurar o microfone pelo corpo, não pelo globo do microfone, que é o que ele está fazendo”. Agora… 1.000 pessoas se voltam para o rapaz…. que segura o microfone certo e canta e a voz flui muito bem.

 

Gostei muito do acontecido… era um ensaião; havia centenas de cantores lá… que tenho certeza aprenderam uma valiosa lição. E espero o mesmo de vocês.”

 

Pego então um microfone, seguro ele pelo globo, igual a um cantor de rap faz, deixando só um buraquinho para a passem de som, e mostro a diferença que fica no som entre segurar pelo globo e segurar pelo corpo.

 

d) Um microfone para uma pessoa.

 

“Na nossa denominação, se deixar, colocam 40, 50, 60, 200 pessoas para cantar! Já vi muitos casos de 1 microfone dinâmico para 2 pessoas, 1 microfone dinâmico para três, e até mais que isto, e o pobre sujeito do som que se vire para tirar um som bom dali. Só que não dá, o departamento de milagres fica em outro setor, não no som. Aqui, o melhor que podemos fazer é usar um microfone para uma pessoa.

 

Mas como eu sei que vocês vão querer tentar pelo menos 1 mic para 2 pessoas, pelo menos vamos fazer isso certo. Rapazes, preciso de um voluntário (pego a laço um sujeito)….

 

É o seguinte: para isso funcionar, as bocas tem que estar bem próximas. Então, aconselho um abraçar o outro (faço isso com o voluntário), agora inclinem a cabeça de um no outro (faço isto) – cuidado com os piolhos (risadinhas), agora aproximem as bocas um do outro (ficam perigosamente próximas)… Isto, assim mesmo, se for desse jeito vocês podem usar um mic para duas pessoas.”

 

Bem, a posição em que eu e o rapaz ficamos foi bastante constrangedora, e arrancou boas gargalhadas do pessoal. Ah, o sacrifício que a gente faz para ensinar. Ainda bem que ninguém tirou foto… E pronto, agora eles entendem porque usar um microfone para uma pessoa.

 

d) nunca, nunca, nunca, apontar o microfone em direção à nenhuma caixa de som

 

“A pior coisa que acontece, em uma sonorização, é uma microfonia. A microfonia é terrível, tira a comunhão do povo. E deixa o operador de som de cabelo em pé. E o pior, o rapaz que controla a mesa de som não tem um, mas tem 32 canais para cuidar, e um problema seriíssimo é identificar, no meio de 32 canais, quem está originando a microfonia.

 

Então, informo a todos uma surpresa: que a tarefa de prevenir/evitar as microfonias não é apenas de responsabilidade do operador de som, mas principalmente dos usuários dos microfones! Vocês! Aliás, muito mais responsabilidade do usuário que do operador de som!”

 

(faço uma pausa e observo a cara de espanto deles. 100% nunca tinha imaginado isto)

 

Explico então como surge a microfonia. “O microfone, apontado erradamente em direção à caixa de som, passa a captar o seu próprio som, gerando uma realimentação que desponta em microfonia. Alguém aí quer ouvir uma microfonia, para saber como é?” (risadinhas… alguns comentam que nas suas igrejas as microfonias são diárias, já fazem até parte do culto…).

 

“O segredo, gente, é então nunca nunca nunca apontar o microfone em direção a nenhuma caixa de som. O microfone é para ser usado ‘de costas’ para a caixa”. (mostro alguns exemplos: caixa de retorno no chão, microfone de costas para o retorno; caixa de PA em cima, microfone para cima, de costas para a caixa de PA).

 

“O mesmo vale para os músicos. Para vocês é mais fácil, pois os microfones são geralmente colocados em pedestais. Mas observem que nós, quando colocamos os microfones, os deixamos de costas para a caixa. Vocês, na hora de usar, vão ter que posicionar os microfones no local correto em relação ao instrumento, mas lembrando de manter o microfone de costas para a caixa.

 

Companheiro do violão, tem um detalhe especial só para você. Teclado, guitarra e contrabaixo nunca causam microfonia, porque não trabalham com microfone. Mas os violões ‘elétricos’ tem um microfone interno, que está sujeito a microfonia. A solução para você é se sentar ‘torto’ em relação aos outros músicos, de forma que a “boca” do violão fique de costas para a caixa. Isso SEMPRE e em qualquer lugar, inclusive na igreja. Você nunca pode sentar na frente da caixa de som de retorno, tem que sentar ‘de lado’, de forma que o som chegue no seu ouvido, mas não no mic do violão.

 

Fazendo isso, vocês estarão ajudando demais o operador de som. Com um grupo que sabe usar corretamente os microfones, não há problemas de microfonia, então ele pode se preocupar com os outros usuários, que não sabem usar microfones e não querem aprender… (aponto para o local onde ficam os pastores). Mas vejam: é muito mais fácil se preocupar com 5 microfones (aponto novamente para o local dos pastores) que com 24 com microfones (músicos +cantores) juntos. Isso sim é um verdadeiro trabalho em equipe.”

 

 

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Observação para outros operadores de som. Eu conheço bem o que é diagrama polar, o que é cardióide, supercardióide, etc e tal. Mas a prática já me ensinou que não dá para explicar isto para músicos e cantores, pois é muito técnico. Como no Anfiteatro os microfones são cardióides e eles estão posicionados exatamente de frente para a caixa de retorno deles, então simplifico e aviso que é para usar os microfones sempre nesta posição, de costas para caixas.

 

e) quando não estiver sendo usado, o microfone deve ficar no colo, apontado para o corpo da pessoa

 

“O controle de microfonias trás conseqüências não só para o uso do microfone quando forem cantar, mas também para quando não estiverem cantando, apenas segurando o microfone.

 

Quando sentados, o microfone irá ficar no colo de vocês, apontados para a barriga! Nessa posição, ele dificilmente captará o som de caixa acústica, no máximo uma barriga roncando (risadinhas).

 

E tem mais: notem que o microfone fica, no colo, na posição horizontal. E ele sobe, quando for para cantar, também na posição horizontal, e desce novamente para o colo, ao final do hino, na posição também horizontal.”

 

(mostro então o movimento, sobe, canta e desce, sempre na horizontal).

 

“Notem: o microfone ficará durante todo culto na posição de costas para a caixa. Chance de microfonia será mínima, e o operador de som poderá se preocupar com outras coisas.”

 

Então aparece alguém (tem sempre alguém) que fala “mas o que é que tanto esse operador de som tem que fazer?” Eu respondo: “ali tem 750 botões (chutei o valor, mas deve ser por aí para mais), e eu quero que ele saiba exatamente o que cada um faz. Pois quando dá problema, ele tem 1 ou 2 segundos para encontrar o botão correto e fazer o que precisa fazer.” Pelo queixo caído da pessoa, percebi que ela entendeu.

 

“Músicos que usam microfones (cordas, metais): vocês também NÃO PODEM mexer na posição do microfone. Se vocês precisarem se mexer, é a cadeira que se move para trás, não o microfone, que permanece sempre na posição onde dá menos microfonia.”

 

Conto então a história do músico violinista que, espaçoso que só ele, acabado o louvor e no início da pregação, resolve virar o pedestal para poder ganhar espaço, apontando diretamente o microfone para a caixa. Microfonia na hora, todo mundo olhando para mim, inclusive ele, como se não fosse com ele.

 

PRÁTICA

 

Acabada a aula, vamos cantar…

 

Nas primeiras vezes, coloquei eles para cantar e fiquei do lado. Acertos como posicionamento e segurar certo no globo são normais, tem que ser corrigidos na hora mesmo. Por mais que você fale, que você demonstre, na hora de cantar, eles vão continuar errando. A única solução é ver a pessoa segurando errado, ir lá, mostrar como segurar correto.

 

Mas na hora da prática surgem alguns novidades. Por exemplo, uma moça segurava o microfone bem longe da boca. Aproximei o microfone da boca, saia de perto e ela afastava. Na terceira vez, mandei parar e perguntei:

 

“Moça, qual parte do ‘segurar o microfone bem próximo da boca’ você não entendeu? Eu aproximo, você afasta, eu aproximo, você afasta… desse jeito não dá”.

 

“É que eu canto muito mais alto que as outras sopranos… então me acostumei a afastar o microfone” ela falou.

 

“Ah, tá…Na mesa de som, há um controle de ganho do microfone, é possível resolver esse seu problema. Você canta muito forte? Vou dar pouco ganho. Alguém aí canta muito fraco? Vamos dar muito ganho. No final, teremos um conjunto de vozes devidamente equilibradas, e você pode e deve usar sempre o microfone muito próximo da boca, que é o correto.”

 

“Alguém mais aí canta muito forte? Quem canta fraco?”

 

(o pessoal foi falando, fizemos os ajustes, melhorou bastante)

 

 

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Observação: esse é o típico erro que um operador de som pouco informado induz ao usuário do microfone. Os recursos das mesas de som, ganho e mesmo o fader de volume, servem exatamente para isto.

 

Outro problema foi com o rapaz que faz solo. Ele cantou um hino mais lento, e a cada frase do hino ele subia e descia a mão. Imaginem… fala a frase… desce o microfone… segundos depois sobe, canta a próxima frase… desce o microfone….

 

Parei tudo e falei:

 

“Gente, há um problema (dei pausa e abaixei o microfone)

(levantei microfone) O XXX está segurando o microfone assim (dei pausa e abaixei o microfone)

(levantei o microfone) Não sei o que está havendo (outra pausa e abaixei o microfone)

(levantei o microfone) alguém pode me explicar?”

 

Repeti exatamente o que ele estava fazendo… Uma grosseria mal-educada o que eu fiz, mas era uma situação que tinha que ser consertada.

 

O cantor tinha L.E.R (Lesão por Esforço Repetitivo). Como minha esposa trabalhou muitos anos com telemarketing e desenvolveu L.E.R. nas mãos, saquei logo…

 

“ah camarada, porque você não falou logo? Gente, pega aí um pedestal…. põe para o rapaz…. pronto. Só pedir, companheiro, a gente está aqui para isso.” Problema encerrado.

 

Cantamos mais alguns hinos… negócio estava melhorando… hora de complicar….

 

“Todo mundo de pé! Vamos cantar o próximo hino de pé”

 

Gente, foi hilário. Uma moça levantou… mas segurou o microfone EXATAMENTE como estava antes, ou seja, na altura da boca com a pessoa sentada. Só que agora, com a pessoa em pé, a boca subiu… e o microfone ficou embaixo, apontado para a barriga.

 

“Para tudo! Ninguém se mexe, estátua”. Gente, agora olhem para essa moça aqui… Moça, desculpa aí, mas se a boca sobe, o microfone sobe também” (gargalhadas gerais). Pensei: arranjei mais uma inimiga, mas agora ninguém mais erra desse jeito.

 

Canta o hino… indo bem… até que tem no meio do hino um intervalo instrumental… o que alguns cantores fizeram? Abaixaram o microfone, deixando ele na vertical (igual a um sorvete), apontado para a caixa de PA, logo acima do grupo. Lá vem a microfonia.

 

“Para, para tudo. Só porque o hino tem um momento instrumental vocês NÃO PODEM virar o microfone, apontar para a caixa. Querem descansar o braço, então apontem o microfone para baixo (a caixa estava acima, não abaixo deles).

 

Aliás, esse é um momento bom para acrescentar uma coisa. De vez em quando, os pastores pedem uma glorificação por parte de um dos irmãos cantores, porque sabem que vocês tem microfones. Aí que mora um grande perigo. Como o operador de som não sabe qual microfone será usado, ele tem que liberar todos. Nessa hora, o perigo de microfonia aumenta demais. Então, façam o seguinte:

 

– se estiverem sentados, microfone no colo, virado para a barriga, encostado nas roupas, que ajuda a abafar o som. Quem for orar se levanta para orar e leva o microfone.

– se estiverem em pé, quem não for orar aponta o microfone para baixo.

 

Por que isto? Porque para o operador de som, identificar quem está orando no meio de 16 microfones ligados é complicado. Mas na mesa de som há uma luz de sinal, e vocês fazendo assim, a luz de quem estiver orando ficará acesa, enquanto a luz de quem não não estiver estará apagada. Com uma passagem de olho nos canais ele identifica quem está cantando e pronto, resolvido. Isso é trabalho de equipe.”

 

Continuamos cantando. Alguns hinos tiveram que ser cantados 5 vezes a introdução, até ficar boa, mas tudo bem, isso é assim mesmo.

 

MÚSICOS

 

“Vocês estão aí na maior folga, achando que não tem problema algum, não é? Pois estão muito enganados. Vocês precisam estar PREPARADOS para uma batalha.

 

O que eu vou ensinar para vocês servirá para não só no Anfiteatro, mas também quando vocês forem tocar em outras igrejas.

 

Em Efésios 6, encontramos a Armadura de Deus para enfrentar uma batalha espiritual. Ela envolve um capacete, um cinto, uma espada, um calçado, um escudo, uma couraça. Assim como um soldado não vai para uma guerra sem estar preparado, vocês, músicos, precisam estar sempre preparados para tudo.

 

Mais cedo, na hora dos músicos chegarem (14h), me aparece aqui o baterista (todo mundo olha para o rapaz, coitado). Chegou aqui e foi perguntar se aqui tem bateria (há sim, mas sem pratos). Companheiro, se você tem que chegar às 14h e não sabe se tem bateria, você tem duas opções: ou chega mais cedo, telefona para alguém, vai descobrir se tem bateria ou não, ou então carrega a sua própria bateria”

 

O que não pode é você ir para a guerra despreparado. Veja só: você chegou aqui 14:00h, descobriu que não havia pratos, teve que ir buscar, só chegou 14:40h. Se é uma reunião, o que você vai fazer? Eu, sendo responsável, vou mandar você nem tocar. Veio despreparado? Então senta lá no fundo, porque isso aqui é uma batalha espiritual e não precisamos de quem está despreparado.

 

Guitarrista. Você chegou aqui com uma pedaleira, pediu uma extensão. Hoje nós te arranjamos, mas foi a última vez. Se você sabe que precisa de energia elétrica, não fica esperando pelos outros não, se prepare. Você precisa comprar uma extensão, vende em qualquer supermercado, é barato. Porque vai ter dia que você vai chegar e ninguém terá uma extensão.

 

Vamos fazer uma lista?

 

Tecladista. Você precisa carregar:

– dois cabos. Um para funcionar e outro de reserva.

– suporte de teclado (pedestal)

– fonte

– pedal

 

Guitarrista. Você precisa

– três cabos: um da guitarra para a pedaleira, da pedaleira para a medusa (nota: lá não temos ainda Direct Box), outro cabo de reserva

– afinador

– fonte da pedaleira

– palheta

– pilha/bateria 9V se o seu instrumento for ativo

– extensão de energia.

 

Baixista. Você precisa

– dois cabos, um para usar e outro de reserva

– afinador

– pilha/bateria 9V se o seu instrumento for ativo

 

Baterista

O ideal é você se informar antes sobre o local onde vai tocar, se tem bateria, se a mesma é boa, se está afinada, etc. Pergunto: você já deve ter tocado por aí e encontrado muita bomba, não é? (ele responde afirmativamente, várias vezes). Pois é, ao final, a impressão que o pessoal fica é que você tocou mal, e só você mesmo sabe que na verdade a bateria é que não prestava (ele concorda). Pois é, então você precisa se precaver contra isso.”

 

Ele retruca: “mas eu vou ter que carregar uma bateria então, e não tenho condição disso”.

 

“Olha, eu tenho vários amigos bateristas que carregam seus próprios pratos. Mas eu tenho um amigo, o melhor baterista de todos, que carrega pratos, chimbal, caixa, pedais e banco. Cabe tudo no porta-malas do Golzinho dele, e ele disse que isso já o salvou de cada bomba… Mas o que eu quero dizer é que você terá o som na medida do seu esforço. Se você não pode carregar nada, vai se sujeitar a pegar bomba. Se pode carregar tudo, será sempre o seu som, do jeito que você gosta.

 

Flautista, Trompetista e Saxofonista

A vida de vocês é mais tranqüila. Pelo menos aqui, no Anfiteatro, microfones e pedestais é por nossa conta, a responsabilidade é nossa. Lá fora… Deus abençoe vocês” (risadas… ).

 

PASSAGEM DE SOM

 

Uma coisa que fui muito muito enfático. Precisamos passar o som ANTES do público chegar nos eventos. E isto quer dizer: equipe de som com tudo preparado 1 hora antes do evento, e músicos e cantores chegando 1 hora antes do evento, para passarmos o som por 30 a 40 minutos.

 

Em um hino de solo, a voz do cantor ficou praticamente inaudível na primeira frase do hino. Parei tudo e expliquei que é exatamente isso que acontece quando não há passagem de som. Não se sabe qual o volume deve ser deixado para o microfone, então os operadores de som ou deixam baixo para depois aumentar, o que só vai resolver lá pela segunda ou terceira frase, ou começam alto, correndo um risco de microfonia.

 

A única solução para isso é fazer a passagem de som antes do evento, onde o nível ideal será identificado. Lembrei o caso de um casamento que fiz, onde a cantora solista teve que pedir licença aos noivos (que já estavam entrando na igreja) para passar e assumir o seu lugar. O solo obviamente foi uma tragédia, e o exemplo da necessidade de passagem de som ficou bem firmado.

 

Como tem sempre alguém que pergunta… “mas resolve se passar o som no dia anterior? Tem evento que a gente tem que sair do trabalho e ir para lá, enfrenta trânsito, dá problema”

 

Expliquei que existem diferenças na regulagem do som causadas por questões climáticas. Um som de dia, no calor, exige uma regulagem diferente do som feito à noite, mais fresco. É pouca regulagem, mas ela existe sim. Chuva, por outro lado, exige muito mais regulagem, muda praticamente tudo. Então, a passagem de som é exigida SEMPRE ANTES DO EVENTO.

 

Contei também de um outro casamento que fiz. Fizemos um ensaio na sexta-feira, para o casamento no sábado. Mas exigi do pastor e de todos que estivessem na igreja às 18:00h do sábado (casamento 19:30h), para novo ensaio. Fui duramente criticado por causa disto pela turma do cabelo (as mulheres e seus salões), que foram até reclamar com o pastor. Mas 18:00h estavam todos lá.

 

Bem, o rapaz que ia cantar dois hinos solos apareceu… totalmente gripado e rouco! E agora? Como tínhamos 1 hora e 30 minutos, outra pessoa ensaiou e preparou os solos desses dois hinos. Todo o grupo (e principalmente o responsável) me agradeceu por insistir tanto no ensaio às 18:00hs.

 

OPERADORES DE SOM

 

Quero aproveitar e falar agora um pouco da equipe de som. Nos dois primeiros artigos, eu conversei com eles, expus uma conversa com tranquilamente todos sentados e calmos. No ensaio… eu me transformo de amigo em verdadeiro MONSTRO.

 

Gente, eu sou pior que sargento ruim no Exército. Eu cobro, eu grito na frente de todo mundo, eu quero um problema solucionado em segundos. Eu cobro do rapaz a solução de um problema gritando no ouvido dele, enquanto ele tem que descobrir onde está o problema e resolver.

 

Eu terminei os ensaios exaustos e com a voz acabada, e o pessoal do grupo ficou horrorizado, pois não estão acostumados com um comportamento desses. Em nenhum momento gritei com os músicos ou cantores… (ok, talvez só um pouquinho…), mas os gritos com os “meus meninos” eram constantes e aterradores, uma moça me confessou depois.

 

Como percebi a cara de espanto do povo, parei tudo e expliquei.

 

“No dia do evento, o operador de som e o pregador são os único que não tem direito de errar. Um pregador não pode falar besteira lá na frente, assim com um operador de som não tem direito de errar.

 

Operar som exige uma incrível capacidade de prestar atenção em tudo o que acontece. Ele precisa VER o que os usuários fazem com os microfones, e principalmente precisam OUVIR tudo o que está acontecendo. Pior, precisam OUVIR o som que sai da caixa e ao mesmo tempo OUVIR as informações que chegam pelo rádio, pelos músicos e cantores, cada um pedindo uma coisa diferente, tudo ao mesmo tempo.

 

E o tempo máximo que ele tem para resolver qualquer problema é sempre o mesmo: dois segundos! Se começa uma microfonia, ele tem NO MÁXIMO dois segundos para resolver. Se um músico pede mais volume no seu fone, mais dois segundos para resolver, e assim por diante, um pedido depois do outro.

 

Gente, operar som é viver sob pressão e terminar o evento exausto. Poucos agüentam esse tranco. Nós temos 100.000 pessoas na nossa denominação aqui na Grande Vitória e eu não conheço 50 pessoas que eu entregaria o som de um lugar desses para eles cuidarem de som.

 

Então, quando eu grito aqui com o sujeito que está ali na mesa, é porque no dia do evento, é para treiná-lo para o dia do evento. Antes de começar, será uma loucura, mil coisas para se fazer, e ele precisa estar preparado para isto.

 

Então, façam um favor para vocês mesmo: orem pelos operadores de som. Nas igrejas de vocês, de vez em quando vão lá e dêem um abraço neles, perguntem se estão precisando de alguma coisa. Dêem valor para eles.”

 

ENSAIOS E A EXPERIÊNCIA

 

Fizemos dois ensaios já, dois domingos. O primeiro, como dissemos, foi tenso. Inúmeros problemas por causa dos cabos (essa manutenção foi tão grande que dá para outro artigo). Mas entre um e outro, refizemos, montamos, testamos. O segundo foi bem melhor que o primeiro. Na verdade, o segundo foi verdadeiramente um ensaio geral, onde tivemos a oportunidade de aprimorar realmente as nossas técnicas.

 

Então… quase na hora de encerrar (17:00h) quando alguém ligou e avisou… “olhem, acabamos de saber que amanhã (segunda-feira) haverá reunião, 19:30h, aqui neste local”.

 

Para tudo de novo. Vamos conversar mais um pouco.

 

“Quando eu gritei, exigi, cobrei, fiz vocês ficarem longe das suas famílias nos finais de semana, e mais um monte de coisas que você não vê acontecer nas igrejas, tudo isto é por uma boa causa. E essa causa chegou.

 

Amanhã teremos evento. Infelizmente, essa é a realidade que vocês vão encontrar, serem avisados “em cima da hora”. Eu fiquei até feliz que saber do evento com 26 horas de antecedência. Há eventos que serão marcados 18:00h para acontecerem 19:30h…

 

Então nós precisaremos estar preparados para estar aqui, para chegar cedo, para tudo. Pessoal do som: quem pode chegar aqui às 17:30h? (um se oferece) ótimo… Cantores e músicos: quem pode chegar 18:30h? (Muitos se ofereceram).

 

Acertamos os detalhes, encerramos, equipe de som ainda ficou mais uma hora para terminar todos os preparativos.

 

REUNIÃO E RESULTADO

 

Por causa do meu trabalho, só pude chegar lá 19:15h. Mas fiquei pendurado no celular com o pessoal, ligando para eles de 15 em 15 minutos. Mas me encheu de alegria chegar 19:15h e encontrar o som todo pronto, o pessoal já cantando.

 

A reunião foi PERFEITA. Quando eu digo perfeito, quero dizer:

– sem microfonias

– resultado agradável

– tudo que foi cantado/falado estava alto e claro, a inteligibilidade foi ótima.

 

Ninguém elogiou. Normal, mas ninguém reclamou. Ótimo. Evento perfeito.

 

Nos juntamos, glorificamos muito ao Senhor, pois foi uma vitória. Todos muito alegres. Nessas horas, é importante comemorar. Então gritei… “quem quer ir na pizzaria? Estou pagando”.

 

Ai Jesus… já pensei na conta, mas é hora de comemorar. Fomos em quase 20 pessoas (graças a Deus para mim, alguns não puderam ir, mas no final o pessoal não me deixou pagar a conta sozinho, ufa!), som + músicos + cantores. Lá descobri que o tecladista chegou 18:40h e teve que voltar, pois esqueceu o suporte do teclado, só voltando 19:00hs (mora próximo). Fiquei contente de ver os outros fazendo gozação com ele por ter esquecido o suporte (sinal que aprenderam a lição, e o tecladista nunca mais irá fazer isso de novo).

 

Esse tempo de descontração é importante, para verem que a gente não é ruim em tempo integral, só quando precisa. Rimos, nos divertimos, estávamos todos felizes e alegres. Graças a Deus todos viram na prática que o esforço valeu a pena, pois Deus é digno do perfeito louvor.

 

O rapaz que ficou no comando da mesa de som, pela primeira vez na vida (estava na equipe há 1 ano, nunca deram oportunidade para ele) estava extasiado. Muitos parabéns para ele.

 

Bem, é isso. Próximo sábado e domingo mais manutenções e ensaios, porque muitos novos eventos vem por aí.

 

E já lançamos um desafio, agora para os músicos: cada um deles: teclado / contrabaixo / baterista / guitarrista / etc, cada um deles formar um novo instrumentista para esse trabalho. Já pedi que cada um levasse um outro amigo bom músico para o próximo ensaio. Eles não entenderam, mas já lancei a próxima necessidade a se acertar, que é ter BACKUP! Backup de equipamento já temos, agora é backup de gente…

 

 

 

2 Comments on "Treinamento de uma Equipe de Som – Parte 3"

  1. Olá Fernando!

    Obrigado por compartilhar esses três posts, foram muito úteis e aprendi tanto sobre técnica quanto sobre responsabilidade e motivação.

    Admiro seu trabalho há anos e hoje, quando resolvi estudar mais um pouquinho, pensei primeiro no Som ao Vivo do que nos outros sites.

    Obrigado pela experiência fantástica, vou seguir com os demais artigos, rs.

  2. Grato pelos artigos. Sempre que alguém quiser me ajudar seriamente a “mexer com o som” vou pedir para lê-los.

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