Workshop – Sonorização em Igrejas – Parte 2: o House Mix

Continuando o Workshop, o Pedruzzi foi falar sobre o House Mix, ou seja, o local onde os equipamentos de som e o operador ficam instalados em um evento. Eis a parte da apostila que fala sobre o assunto, com nossa conclusão no final.

O posicionamento em ambientes fechados

Vamos ver algumas das causas que nos fazem ouvir diferentemente em diferentes locais de sala:

a) Em um ponto qualquer da platéia em que a diferença entre as distâncias aos falantes L e R do PA seja significativa, ouviremos os característicos cancelamentos e reforços de freqüências. Se nos movimentamos, ouvimos as mudanças no “combing” como resultado das constantes diferenças nas distâncias aos falantes. Quanto maiores essas diferenças, mais baixas as freqüências a partir das quais ouvimos o “combing”. Esta interferência é muito mais notada ao ar livre, já que em uma sala as várias reflexões ajudam a equalizar os níveis.

b) Em diferentes pontos da platéia observamos também diferentes caminhos percorridos pelas inúmeras reflexões dos sons nas superfícies do ambiente. As formas da sala e os materiais que compõem as superfícies dessas formas, próximas a cada ponto ou região de audição, contribuem grandemente, através de suas características de absorção e reflexão e/ou difusão, para caracterizar a audição nesses pontos ou regiões.

c) Modos de ressonância muito acentuados apresentam regiões em que se ouve muita pressão dessas freqüências em relação ao restante do espectro.

d) Lajes de mezaninos acabam criando regiões de sintonia de freqüências, ou mesmo regiões com “flutter echo”.

Fica óbvio que, para que o operador desenvolva o máximo de sua técnica e sensibilidade durante um evento, ele precisa estar situado em uma região da audiência que sofra menos possível com defeitos acústicos. Esta região deve ser também a que concentre o maior número de pessoas ,ou seja, ser representativa da maneira como a maior parte da audiência escuta.

Nossa atividade de sonorização é realizada em ginásios, templos, centros de convenções, etc. Acusticamente falando todas são salas, e são portanto analisadas segundo os mesmos critérios.

Nos ginásios, os tempos de reverberação são normalmente muito mais longos do que nos templos ou centros de convenções, trazendo dificuldade em entender a mixagem já a distâncias ainda pequenas das caixas.

Para minimizar este problema, devemos nos localizar o mais próximo possível delas, de maneira a podermos ouvir mais o som que provêm diretamente delas do que o proveniente das inúmeras reflexões da sala. A Dc (distância crítica), é definida como a distância dos falantes a esta fronteira, entre os campos direto e reverberante. Devemos,portanto procurar estar sempre dentro, ou muito próximo, de Dc.

A distância crítica é função da diretividade do sistema utilizado e das dimensões e características de absorção da sala em que nos encontramos, e sua “clássica” expressão é dada abaixo.

Dc = raiz quadrada de [ (Q x V) / (TR) ]

Onde Q é a taxa de diretividade do sistema,V é o volume interno da sala e TR seu tempo de reverberação.

Como nada, ou quase nada, poderemos fazer quanto à acústica do lugar, nos focamos na diretividade do nosso sistema. O agrupamento dos falantes das mesmas faixas de freqüências, mais comum na forma de empilhamento, aumenta a diretividade do conjunto, prolongando Dc.
Como na maioria dos ginásios, mesmo que aumentássemos em muito o Q do nosso sistema, a Dc não passaria de alguns poucos metros, ficamos nessa grande maioria das vezes mixando dentro do campo reverberante. Aqui, o uso de monitores localizados na house mix, em cima da console, com delay é claro, nos ajuda em muito, pois estando dentro da Dc destes monitores, voltamos a ter a desejada integibilidade. Também é muito comum fazermos uso de headphones nessas circunstâncias.

Praticamente, para uma boa escolha da posição do house mix, o que fazemos é caminharmos pelo ginásio desde cedo (na hora da montagem), nos afastando do palco onde acontece toda a movimentação. A uma certa distância do palco deixamos de ouvir o som das vozes, dos cases sendo carregados, das marteladas (isso para grandes eventos), que vêm diretamente destas fontes, e passamos a ouvir estes sons reverberados na sala. Esta é uma boa distância para estabelecermos a posição dos controles. Quando o PA tocar, estaremos certamente dentro de Dc, já que o mesmo vai ser sempre mais diretivo do que as marteladas e as vozes de durante a montagem. O fato de haver um aumento considerável de nível, das marteladas para o PA tocando, não muda teoricamente nada, já que a Dc não depende de nível – observe sua expressão.

Outro cuidado que devemos ter em ginásios, é com relação às reflexões em grandes painéis, tais como os placares, que provocam ecos tremendamente desconfortáveis para quem mixa.

E, por fim, devemos procurar as áreas em que as ressonâncias são muito audíveis, e evitá-las. Resumindo: conseguimos, nos preocupando com Dc, superfícies refletoras, e ressonâncias, um posicionamento do house mix na maioria das vezes plenamente satisfatório.

É claro que não temos essas preocupações exclusivamente quando trabalhamos em ginásios. Esses defeitos são encontrados em teatros,casa de show,entre outros, porém de maneira diferente.

Como a maioria destas salas possui poltronas estofadas e paredes de alvenaria com reboco ou de cimento, cobertas com carpetes, tapetes, cortinas e afins, o TR das altas freqüências é sempre muito curto comparado ao das baixas, tornando a sonoridade “abafada”. Em algumas dessas salas, em que se tenha tido a preocupação com o controle do TR ao longo da faixa de freqüências, encontramos painéis ressonantes e/ou ressonadores de Helmholtz para tratamento das baixas freqüências.

Os defeitos mais comuns que notamos nas salas são os modos de ressonância e o flutter echo. Como nos ginásios, aqui também não poderemos fazer nada, afinal  não somos pedreiros  nem carpinteiros. Portanto devemos andar pela sala, identificar as regiões de muita pressão dos modos de fugir delas. Identificar e fugir também das regiões onde se desenvolvem aqueles ecos muito curtos e repetidos em grande quantidade,que chamamos de flutter.

Mas como na maioria das vezes, somos obrigados a mixar no fundo da sala em baixo de laje do fundo do mezanino, além do flutter, convivemos com baixas freqüências que se sintonizam entre o chão e esta laje, nos dando uma referência distorcida do que se está ouvindo na maior parte do salão.

Em salões de festa e em muitas igrejas também, podemos encontrar presentes todos esses defeitos. Normalmente possuem paredes muito grandes, janelas envidraçadas e pouquíssimas superfícies absorvedoras (a não ser pelas próprias pessoas). Algumas com teto muito baixo que por um lado produz um reverb mais denso, por outro dificulta uma distribuição mais homogênea das pressões. É … se pudermos abrir as janelas, já vai ajudar muito…

O posicionamento ao ar livre

Nossa atividade de sonorização também é muito realizada ao ar livre. Sem reverberação, sem flutter ecos, sem ressonâncias e com possíveis ecos.

A distância do house mix ao palco deve ser tal que nos deixe ouvir o PA inteiro tocando, ou pelo menos um lado inteiro do PA. Isto nos leva à escolha da outra coordenada para o house: em frente a um dos PAs ou no centro entre eles? Esta escolha não depende exclusivamente de nós. Precisamos compor a iluminação, o vídeo, a televisão e o que mais fizer uso de estruturas.
No que cabe a nós decidir, pesa muito saber que no centro teremos os dois PAs completamente em fase, onde todas as freqüências se somam. Erros de fase, assim como acertos, são particularmente notáveis nas baixas freqüências. Logo, se nos situarmos aí, produziremos uma mixagem que quando soar equilibrada para nós, e também para todos que estiverem neste plano do centro, soará sem “peso”, com pouco grave, para os que estiverem aos lados deste plano.

No outro extremo, quando estivermos em frente a um dos PAs e chegarmos ao equilíbrio na mixagem, uma parte muito maior do público ouvirá como nós. Os que estiverem no centro, por exemplo, experimentarão um excesso de graves, mas é uma parte menor deste público.

Se estivermos no centro entre dois PAs ouvimos a máxima soma deles. À medida que nos deslocamos do centro para um dos lados, começamos a perceber a mudança na tonalidade dos graves, que é função da variação da diferença entre os tempos de chegada até nossos ouvidos dos sons provenientes deles dois. Na verdade não chegam a ser cancelamentos, e sim atenuações, já que mais perto de um deles ouvimos seu som com mais intensidade. Temos que ter o máximo de cuidado para não posicionarmos nosso controle numa região de cancelamentos muito acentuados.

Sobre a altura do house, deveríamos estar acima do nível do público o suficiente para garantirmos uma boa visão, sem interferências, e só. Do ponto de vista da audição, como já foi dito, devemos ouvir o que o público ouve. Portanto, houses muito diferentes das do público vão trazer uma impressão para quem mixa diferente da dele, o que não é uma boa coisa. Em locais com várias alturas, como alguns teatros, procuramos nos situar na área onde fica a maior parte do público que, para nossa sorte, na maioria das vezes é no nível do chão onde sempre soa melhor.

O House Mix e seus equipamentos

O piso deve ser sempre sólido o bastante para não vibrar com as baixas freqüências e, reirradiando energia, nos fazer ouvir coisas que não estão no programa.

Os racks com periféricos colocados a altura do operador trazem para este mais comodidade. Quando estão ao nível do piso do house, fazem com que o operador se abaixe para fazer ajustes e se levante para conferir, o que nunca deixa o operador ouvir as alterações no momento em que as faz. No entanto, quando no alto,vão produzir reflexões na altura dos ouvidos do operador, distorcendo sua escuta, o que pode ser muito pior.

Também é boa prática sairmos de vez em quando de detrás da console durante a operação, já que ela com sua grande superfície pode produzir notáveis reflexões.

Nossas conclusões

Acredito que 99,9% do pessoal das igrejas não sabe calcular Tempo de Reverberação, Distância Crítica, etc. Nem em uma igreja, muito menos em um ginásio onde o evento é rápido. Mas algumas dicas são excelentes e fáceis de se aplicar.  Vejamos:

"Fica óbvio que, para que o operador desenvolva o máximo de sua técnica e sensibilidade durante um evento, ele precisa estar situado em uma região da audiência que sofra menos possível com defeitos acústicos. Esta região deve ser também a que concentre o maior número de pessoas ,ou seja, ser representativa da maneira como a maior parte da audiência escuta."

Daí, conclui-se que colocar o som junto a paredes e onde não se consegue escutar nada é o primeiro passo para grandes problemas na sonorização.  O local ideal influencia muito na qualidade do som obtido.

"Em salões de festa e em muitas igrejas também, podemos encontrar presentes todos esses defeitos. Normalmente possuem paredes muito grandes, janelas envidraçadas e pouquíssimas superfícies absorvedoras (a não ser pelas próprias pessoas). Algumas com teto muito baixo que por um lado produz um reverb mais denso, por outro dificulta uma distribuição mais homogênea das pressões. É … se pudermos abrir as janelas, já vai ajudar muito…"

"A distância do house mix ao palco deve ser tal que nos deixe ouvir o PA inteiro tocando, ou pelo menos um lado inteiro do PA. (…) quando estivermos em frente a um dos PAs e chegarmos ao equilíbrio na mixagem, uma parte muito maior do público ouvirá como nós "

Isso é muito importante. Os equipamentos de som nas igrejas precisa ficar em uma posição onde o operador escute o som que a igreja escuta.

 Por último, nada como ver os profissionais trabalhando. Os mínimos detalhes não escapam. Ele pede para levar em consideração a altura, pois "fazem com que o operador se abaixe para fazer ajustes e se levante para conferir, o que nunca deixa o operador ouvir as alterações no momento em que as faz". E até mesmo a influência do tamanho da mesa de som, quando diz que "Também é boa prática sairmos de vez em quando de detrás da console durante a operação, já que ela com sua grande superfície pode produzir notáveis reflexões."

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