Console Ciclotron VEGA – Parte 2

O grande ponto forte da VEGA é a quantidade de recursos, que não fica nada a dever às importadas de mesmo porte. A Ciclotron caprichou nesse console. Caprichou também nos componentes internos: os faders são macios e nenhum deles “arranha”, mesmo após vários anos de uso. Alie-se a isto garantia nacional e manutenção fácil (a mesa usa placas individuais, igual as outras mesas do fabricante), e a mesa se torna uma boa aquisição.

Trabalhar na VEGA é muito bom e fácil, mas exige muito atenção. O operador precisa ter domínio dos seus endereçamentos, pois a quantidade deles é tão grande que a pessoa pode se confundir. Não é difícil, mas precisa de muito cuidado para evitar problemas como “esquecer” de endereçar a voz do pregador para o PA. Na hora que isso acontece, aqueles montes de botões fazem a gente se confundir, e aí…

Falando nisso, a VEGA exige antecedência. É muita coisa para ajustar, então todo mundo precisa chegar bem cedo e fazer a passagem de som com bastante antecedência. Canal por canal terá que ser passado, equalizado, testado. Feito isso, na hora do evento basicamente o operador terá que fazer pequenas intervenções nos canais e quase sempre trabalhar apenas nos Subs e no Mute Group. Não fazer a passagem de som nessa mesa é pedir por problemas. Já ouve eventos “de surpresa” (surpresa mesmo, certa vez chegaram 2.000 pessoas e ninguém avisou o pessoal do som que tinha evento) em que montamos e colocamos tudo para “funcionar” em 15 minutos apenas, mas o evento não foi muito bom não… É muita coisa para ajustar.

Vamos falar agora em alguns problemas, alguns erros de projeto da mesa.

O primeiro problema é a fonte. Externa, feita para caber em rack 19″ e bastante pesada (11kg). Em outro Anfiteatro, onde  há seminários a cada 15 dias (e a mesa trabalha direto entre a noite de sexta e o domingo até o almoço), a fonte da VEGA já deu problema duas vezes. Em ambos os casos, não foi coisa séria, apenas fusíveis queimados. A fonte tem um fusível interno e vários fusíveis internos. Apesar do erro não ter gerado custo (apenas fusível), parar o som por causa de uma fonte queimada é algo muito, muito, muito ruim. E como os fusíveis queimados foram internos, foi necessário desmontá-la toda, o que demora. Tanto que compraram uma fonte extra, para solucionar mais rapidamente esse tipo de problema. Fica a impressão de que a fonte não é muito confiável. Não sei se houve mudança na VEGA2.

Na primeira parte já comentei sobre a equalização da mesa usar potenciômetros logarítmicos. Muitos profissionais que costumam trabalhar com mesas importadas reclamam muito disso.

Os potenciômetros logarítmicos são aqueles que atuam aumentando ou atenuando um sinal conforme uma curva logarítmica à medida que são deslocados. O resultado, numa mesa de mixagem, é que haverá um acréscimo suave de atuação do início até uns 60% do cursor e um aumento mais acentuado na atuação dos 60% até o final do curso. Todas as mesas da Ciclotron tem esse tipo de potenciômetro na parte de equalização. Mas quem trabalha com mesas importadas (com potenciômetros lineares – a alteração que faz é proporcional à movimentação do potenciômetro) quando pega na mão uma Ciclotron estranha muito, e acaba reclamando que a equalização da mesa é “muito dura”, que tem que “tochar muito” o potenciômetro para que haja alguma diferença no som, que não consegue fazer um ajuste preciso no paramétrico, etc.

Assim, quem já está acostumado com mesas da Ciclotron menores trabalha da mesma forma na VEGA e até elogia a equalização de 4 vias. Mas quem está acostumado com mesas importadas reclama demais dessa mesma equalização. Parece que o fabricante quis fazer uma mesa “do nível das importadas” mas que fosse uma evolução para quem já trabalhava com sua linha de produtos. Não que não dê para trabalhar, mas potenciômetros lineares são muito mais fáceis de regular. Aliás, a Pallas da Staner é bem elogiada em relação as VEGAS (todos os modelos) pela equalização melhor, mais precisa. Qual o segredo da Pallas? Potenciômetros importados, lineares.

Alguns comentários pinçados na Internet sobre isso:

http://br.groups.yahoo.com/group/audio_list/message/38365
“Aproveitando a deixa, o que vocês acharam da equalização daquela Vega que estava lá ligada? Eu, particularmente, não gostei. Para mim, continua presente aquela “característica” de ter que torcer o pot para sentir a ação do EQ. Achei a equalização da Pallas muito melhor!”

http://br.groups.yahoo.com/group/audio_list/message/38054
“Das vezes que trabalhei com as mesas Ciclotron, na maioria em monitor, a parte de equalização se mostrou muito AQUÉM em relação às outras mesas normalmente usadas (Soundcraft, DDA, e até algumas mesas antigas Yamaha). A equalização é “dura”… como você mesmo diz, pra se notar alguma mudança, tem que girar muito mais do que as outras.”

http://paginas.terra.com.br/educacao/audiolist/faq/faq_equip_sinal.html
“Tanto a Vega como a CMC da Ciclotron, tem uns problemas de vazamento de um canal no outro e se vc não “entortar” os knobs, as frequências não vêem mesmo !!”

“E a EQ dela é estranha. O cara da Ciclotron me falou que usa pot logaritmico na eq, achei doidera… tem q reforçar/atenuar muito pra sentir o efeito da eq… sei la… meio doido.”

Na minha opinião pessoal, a questão toda é de costume. Quem está acostumado com mesas Ciclotron vai adorar a equalização de 04 vias da VEGA. Quem trabalha com mesas importadadas vai detestar a equalização VEGA. Mas em ambas as formas de trabalho dá para trabalhar decentemente. E para não falar só mal da VEGA, veja só:

http://br.groups.yahoo.com/group/audio_list/message/38054
“Sempre usamos as VEGAS I e achamos muito boas. A de 40 e a de 48 canais. Na minha opinião pessoal, acho que existe sempre o preconceito pôr parte de quem ainda não usou e tem a maledicência de quem tem algum console importado e pôr isso fez o investimento quando na época que não tinha outra opção e agora estes ficam descendo a lenha para que não tenha concorrentes, pôr isso aconselho ir nas lojas que já tem o console e ouvir e testar, ouvir profissionais que já utilizam a VEGA 1 como pôr exemplo o próprio Kleber Villa (PA do Daniel), e ainda fazer uma visita até a industria conhecer, o que está pôr traz do investimento. Qualquer duvida sobre o produto consultar a fabrica e não quem nunca usou ou melhor que tem despeito porque algum colega de trabalho está usando e o mesmo ainda não.”

Chegamos então ao maior problema da VEGA original na minha opinião. A captação de ruídos de rádio. Um aviso: esse problema foi sanado na VEGA2 e posteriores. Essa VEGA original não tem filtros supressores de ruídos, assim como as mesas CSM originais. Da VEGA2 em diante e também nas CSM mais novas, as mesas contém o que a Ciclotron chama de “Full R.F.I. Suppression”. São centenas de filtros que atenuam (18dB/oitava) ruídos espúrios que podem aparecer. Pois bem, na VEGA original esses filtros fazem uma falta ENORME! É comum essa nossa mesa captar rádio FM (bem baixinho, mas capta o suficiente para se entender perfeitamente o que está sendo falado e tocado na rádio). Mas o pior é trabalhar com rádios de comunicação. Como o Anfiteatro é grande, temos uns rádios Motorola para nos comunicarmos. O operador da VEGA também tem um, mas o rádio dele precisa ficar sem antena. Se estiver com antena, a captação do sinal de rádio é muito intensa, chegando ao cúmulo do sinal do rádio sair amplificado pelo P.A. em um volume bem alto (situação que já aconteceu várias vezes, e causou muitos problemas).

O pior é que a Ciclotron acha que está fazendo muito ao colocar esses filtros. Veja só o que diz no manual da VEGA2:

“Trata-se de um console de áudio mixagem de multifunção, de última geração com característica técnicas, recursos, qualidade e confiabilidade que o colocam no nível dos consoles de áudio mixagem de multifunção Top-Line das melhores marcas importadas, ou até mesmo, além disso, pois o VEGA2 MF 48 contém um recurso técnico exclusivo e eficiente, que é o FULL R.F.I. SUPPRESSION (Supressão de R.F.I completa) – Composto de Blindagem Eletrostática e Sistemas de Aterramentos e com Filtragem contra R.F.I – Radio Frequency Interference – (AM, FM, VHF, UHF e transientes de chaveamentos de alta frequência) em todas as entradas e saídas de sinais de áudio, inclusive inserts, direct outs, subgrupo outs, matrix, retorno de efeitos, talkback, ou seja, todos os conectores de sinais estão protegidos, totalizando 490 filtros EMIFIL (…) (Electromagnetic Interference Filter – filtros contra interferência eletromagnética de radiofrequência) de 18 dB por oitava.”

Nota 10 para o Marketing, nota 100 para exageros. Os mesmos rádios já funcionaram com mesas Mackie (32.8, 24.4), Behringer (SL3242FX) e SoundCraft (esta bem antiga, de 1990), nenhuma dessas mesas NUNCA captaram rádio algum. Esses filtros não são mais que obrigação, ainda mais em um console desse porte.

Por último, mas não menos importante, a VEGA original (e pelo que o pessoal relata, as outras VEGAs também, assim como todas as mesas de som da Ciclotron) tem um problema seríssimo de vazamento de canal (cross-talk). O problema é audível e – pior – visível. Basta ligar um microfone em um canal e falar nele. Os leds do respectivo canal E MAIS o(s) de(s) algum(s) outro(s) canais vão subir também (menos, é verdade, mas vão). Também acontecem vazamentos entre os Auxiliares (fácil de notar pelos leds de monitoramento). Os vazamentos entre canais são baixos, mas incomodam. Em sonorização ao vivo até passam despercebidos pelo público, mas praticamente inviabilizam o uso desse tipo de console em estúdios, onde não pode haver um mínimo sequer desse problema. Mas quem já trabalha com Ciclotron nem vai se preocupar muito, pois as reclamações de vazamentos são tão constantes que o pessoal já está acostumado.

Já comentados os problemas (que na minha opinião não são muito sérios, a mesa é muito boa de se trabalhar) é importante comentar sobre os preços. A VEGA2 de 48 canais está custando aproximadamente R$ 17.000,00 (Fev/2007). O produto está com um preço melhor que outras mesas analógicas semelhantes, como a Yamaha GA32/12, que custa aproximadamente o mesmo valor mas tem 32 canais apenas (os outros recursos são semelhantes: 12 mandadas, 8 subs, 2 matrix). Mas com o dólar baixo, o preço está cada menos competitivo. Com  valores próximos a esses dá para adquirir mesas importadas, e até digitais. Naquele Anfiteatro onde houve problema com a fonte, por exemplo, quando precisaram de mais um console, acabaram comprando uma Yamaha DM1000 digital, com as expansões para 48 canais, por R$ 23.000,00. E isso em uma mesa que tem equalizador paramétrico, efeito, compressor e gate, tudo POR CANAL.

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