Hotsound SPA 4300

Prefácio

O texto a seguir ficou bastante longo, pois se trata de um teste sobre um equipamento ainda raro no mercado, mas que com certeza será uma tendência para os próximos anos. Assim, nos vimos obrigados a situar o leitor no momento atual do desenvolvimento tecnológico, de forma a se entender de maneira clara onde estamos, e para onde os avanços tecnológicos estão nos levando.

O texto a seguir foi escrito em Março/2011, e deveria incluir fotos tiradas no local, com os testes. Só que, por erro nosso, perdemos essas fotos. Passamos mais de um mês procurando em pen-drivers, HD´s, CD`S, cartões de memória, tudo, e não encontramos. Perdoem-me. Só de raiva (de mim mesmo), vai sem foto nenhuma também!

INTRODUÇÃO 

Algumas vezes, surgem no mundo alguns visionários que não tem medo de quebrar certos paradigmas, e com muita coragem criam novos conceitos, novos pensamentos, até que mudam a própria forma de viver das pessoas.

Foi assim com Galileo Galilei (A Terra não é o centro do Universo), com Copérnico (A Terra é redonda, gira em torno do Sol), com Cristóvão Colombo (que descobriu todo um novo continente) e com tantos outros na História.

Pulando algumas centenas de anos e vindo para um tempo bem mais recente, em 2010 tivemos outro desses visionários. Steve Jobs, CEO da Apple, reinventou a indústria da Informática ao lançar um computador até então inexistente no mercado, o IPad, criando assim uma categoria inteiramente nova de computação, a dos tablets.

Uma coisa interessante sobre o Ipad. Tudo o que se faz com o Ipad é possível fazer com um desktop, um notebook, até um netbook. Mas a grande revolução não está no que fazer, mas sim em como fazer. Se usa um Ipad de formas impensáveis para qualquer outro computador, e por isto o aparelho logo se tornou um produto desejado por todos, eleito até mesmo por alguns como “indispensável viver sem ele”, alcançando um milhão de unidades vendidas em apenas 28 dias de lançado. Ter um IPad, hoje, além de símbolo de status, é “ser moderno, tecnológico”, e é incrível ver as pessoas comentando “como eu pude sobreviver sem um desses antes?”

No áudio, também tivemos alguns desses visionários. O Dr. Fritz Sennheiser, em 1957, libertou os usuários dos microfones dos seus cabos, ao criar os primeiros sistemas comerciais de microfone sem fio. Hoje, só de pensar em cabo os usuários de microfone torcem o nariz!

Também tivemos o Dr. Christian Heil, da L´Acoustics , empresa francesa que em 1993 lançou o sistema V-DOSC, baseado no estudos de acoplamento de alto-falantes, dando origem a toda uma nova classe de caixas de som, os sistemas de Line-Array. Hoje, qualquer empresa séria de sonorização tem ou pelo menos quer ter um sistema desses no seu portifólio.

Acredito que agora estamos diante de mais uma quebra de paradigmas. Estamos diante de um novo conceito, que mudará a forma de agir, de pensar.
Por décadas, amplificadores foram sinônimo de “trambolho”. Segundo o Dicionário Aurélio, um trambolho é “algo grande, pesado, desajeitado, incômodo de carregar”. Isso acabou.

Por décadas, o desempenho dos amplificadores foi escravo da energia elétrica. Variações na voltagem faziam o desempenho do equipamento oscilar… E se fosse só oscilar, ótimo, porque outro perigo era ligar o amp 110V em 220V e queimar tudo… Também acabou.
Por décadas, para se ter PA e monitor, precisávamos carregar dois amps. Então, lembrando da música “Um elefante incomoda muita gente”, tínhamos que carregar não um, mas dois trambolhos. Em eventos grandes, tínhamos que carregar muitos elefantes, digo, muito amplificadores , em racks grandes e pesadíssimos.

Tudo isto acabou. Um novo tempo – mais leve, mais tranqüilo, mais fácil – surgiu. Graças às evoluções tecnológicas e ao desenvolvimento de novos padrões de fontes de alimentação (componentes críticos em um amplificador), com a implementação das novas tecnlogias (classe-D), ou mais popularmente conhecidas como “fontes chaveadas”, foi possível miniaturizar os amplificadores de potência, alcançando grandes potências e tamanhos mínimos.
Essa evolução já se faz presente no exterior há algum tempo, e finalmente chega aos produtos comerciais brasileiros, através do novo amplificador Hotsound SPA 4300, o qual tivemos o prazer de experimentar uma unidade.

REVOLUÇÃO? 

“Puxa, comparar Galileo, Colombo, Steve Jobs, tudo bem. Mas colocar nesse meio a Hotsound é pegar pesado! Que exagero!”

Será exagero mesmo ou… não? O leitor julgue!

Primeiro, quero deixar claro que não estou fazendo apologia da Hotsound. É fato que a Hotsound não fez um produto inovador, apenas seguiu uma tendência mundial de construção de amplificadores com novas tecnologias de fontes de alimentação, o que tem permitido a redução de tamanho e peso dos amplificadores já há a aproximadamente uma década. Muitas empresas tem investido em equipamentos mais leves e compactos, é tendência irreversível.

Entretanto, na família SPA (são cerca de 5 modelos), a Hotsound levou essa redução ao máximo, com aparelhos de 1U de altura (4,4 cm, ou seja, o “mínimo dos mínimos” para um equipamento de áudio para montagem em rack), e também o peso para um valor entre 2,7kg (modelos menos potentes) e 3,4kg (modelos mais potentes). Reparem bem nesses valores, pois há periféricos de 1U de altura que pesam mais que isto! E nesse mínimo espaço e nesse mínimo peso, conseguiu colocar modelos com 600W ou 1200W!!!

Ou seja: a empresa criou o primeiro amplificador nacional verdadeiramente PORTÁTIL! Dá para levar dois deles embaixo do braço tranquilamente.

Alguém vai falar… “ah, mas amplificador de 1U não é novidade. A Cygnus lançou o PA-400 ainda na década de 1980”. É verdade, e até tenho um – em perfeito funcionamento há décadas – em meu setup! Mas pesa 7kg e tem míseros 270W RMS. Para fazer som para dezenas de pessoas, talvez caixas de retorno, tudo bem, mas para fazer um evento para algumas centenas de pessoas… difícil!

Vão continuar a falar “Ah, mas a Studio R tem o ACE de 1U de altura, com 2.400W @ 4 Ohms, com 11,5kg, 220V”. É realmente um excelente amplificador, e pessoalmente eu adoraria ter alguns ACE´s na minha lista de equipamentos pessoais, mas não é sempre que preciso de 2.400W, os 11,5kg não o deixam tão “portátil” assim e o fato de só existir em 220V (e onde moro a maioria absoluta das tomadas é 110V) atrapalha mais que ajuda, pelo menos no meu caso.

Alguém também vai falar… “Ah, tem os importados. Há muitas marcas – inclusive alguns dos mais renomados fabricantes, como a Powersoft – que tem amplificadores de 1U e leves”. Ok, é verdade, mas importado sempre tem aquele problema de depender do dólar e assistência técnica difícil (se bem que o dólar nunca esteve tão baixo, e a Powersoft oferece 4 anos de garantia).

Por outro lado, na linha SPA, temos modelos de 2 canais, mas os verdadeiramente revolucionários são os modelos Quadriamp (amplificador de 4 canais), existindo o SPA 4150 (quatro canais com 150W cada um) e o SPA 4300 (4 x 300W)! E esses não tem comparação! Como comparar um modelo de QUATRO CANAIS de amplificação com outros modelos de “apenas” 2 canais de amplificação? Porque, mesmo sendo todos de 1U de altura, eu vou precisar de dois amplificadores (logo 2U, o dobro do peso, o dobro do custo) para fazer a mesma coisa que os modelos quadriamps da linha SPA pode fazer!

Opa, deixem eu repetir para ficar bem claro. Com um único quadriamp, eu consigo fazer o mesmo que DOIS amplificadores comuns (de 2 canais) fazem (claro que na mesma especificação de potência). Em vez de sair com dois amps pesados (no sentido literal), eu posso simplesmente colocar um desses novos SPA debaixo do braço e fazer a mesma coisa!

O amplificador ficou ou não ficou portátil? Temos ou não uma revolução?

Quero salientar que a ideia dos quadriamps não é nova. O conceito existe desde a década de 1970, tendo sido desenvolvido junto com a “quadrifonia” (o “avô” dos atuais sistemas de Surround) mas sempre foi muito difícil (por causa dos enormes transformadores necessários) de implementar. A ideia ficou praticamente abandonada até a abertura das importações (1990), quando alguns modelos importados chegaram (um dos primeiros foi um SoundTech, de 1996, anunciado como uma revolução na época!), mas eles nunca “pegaram” de verdade.

Por tudo isto, acredito que sim, estamos diante de uma nova classe de produtos quando consideramos o produto nacional e sim, diante de uma revolução!

MINHA EXPERIÊNCIA

Permitam-me pequeno aparte no assunto para falar da minha experiência em sonorização. Sou VOLUNTÁRIO no trabalho de sonorização da minha igreja, e participo de inúmeros eventos, quase uma centena por ano. A maioria com algumas centenas de pessoas, alguns com milhares, cada um feito em um lugar diferente, em sistemas que precisam ser montados e desmontados rapidamente.

Já fiz eventos:
– em praças,
– em conchas acústicas
– em empresas (nos pátios, nas garagens, nos auditórios)
– em dezenas de quadras de escolas,
– galpões diversos
– em supermercado (talvez o mais estranho evento de todos, culto de agradecimento pela inauguração do supermercado, tudo arrumado e 500 pessoas não tiraram sequer um fio dental do lugar)
– em morros onde o carro ficava lá embaixo e tínhamos que subir com todo o equipamento nas costas. Certa vez me chamaram para ir na “Igreja dos 100 degraus”, o nome já diz tudo.
– em favelas onde o “dono do morro” nos dava horário para começar e para terminar.
– em uma quadra onde as marcas de sangue do rapaz que foi assinado à porta do local ainda estavam frescas!

Já fiz eventos onde o público esperado era de 2.000 pessoas, e no entanto chegaram mais de 5.000 (Glória Jesus). Por outro lado, já fizemos evento para 1.500 pessoas e só vieram 350…

Já fiz eventos onde a tomada elétrica mais próxima estava a mais de 100 metros de distância. Onde eu tinha qualquer coisa na tomada, menos uma tensão fixa, qualquer que fosse o valor. “Gatos e gambiarras?” Nossa especialidade! Aterramento? O que é isso mesmo?

Já fiz eventos onde terminamos de guardar tudo próximo à meia noite, e pegamos a estrada porque no outro dia, às 08:00h da manhã, em uma cidade há 3 horas de distância, teria outro evento. E ainda tinha que montar tudo no local a partir das 06:00hs da manhã.

Já fiz eventos onde sobrou para mim descarregar um caminhão sozinho, sem ninguém para ajudar. Engraçado como na hora de montar sobra gente para ajudar, mas ao final os ajudantes desaparecem todos…

Pregar o evangelho não é fácil. Fazer som nessas condições é pela misericórdia de Deus.

Quando a gente fala em “fiz eventos”, quer dizer o serviço completo: levar o material, montar tudo, desmontar, guardar o material. Observe que nessas palavras está embutido o CARREGAR o material todo, ser o primeiro a chegar, ser o último a sair. Serviço duríssimo, e poucos são os que agüentam toda essa situação.

Quando a gente tem 15, 17, 20 anos, tudo é festa, fazer tudo isto é moleza! Com 25, você começa a pensar como seria bom se alguém ajudasse. Aos 30, você fica oprimido porque ninguém ajuda! Aos 35, você se aposenta, entrega os pontos, não agüenta mais! As dores nas costas lembram que você já “dobrou o Cabo da Boa Esperança” da idade. Que outro venha e assuma seu lugar, chega, não quero mais.

Quantas e quantas vezes eu vi, no trabalho de som de igrejas, o pessoal “fugindo” do trabalho de sonorização por verdadeiro medo daqueles equipamentos pesadíssimos… Somos voluntários, e como voluntários só trabalha quem quer, e são poucos os que querem.

Eu sempre digo que fazer som profissional ($$$), para shows, é muito mais fácil. E é mesmo: como tudo funciona na base do dinheiro, você contrata carregadores (os “chapas”), repassa o custo para o cliente, e pronto. Se cada amplificador pesa 52kg e as caixas KF/SB pesam quase 100kg cada, problema do carregador, não seu.

Duas palavras, nesses 20 anos de experiência, passaram a fazer parte dos meus critérios de escolha de equipamento: PORTÁTIL e VERSÁTIL.

Assim, em função da portabilidade, tenho investido cada vez mais em equipamentos com tais características. Amps mais leves, caixas menores, microfones de coral (que me economizam cabos e canais da mesa, permitindo usar um equipamento menor), pedestais de alumínio, fones de ouvido no lugar de cubos, etc.. Mas ainda assim, um “evento básico” para umas trezentas pessoas ainda envolve uns 150kg, peso esse que sobra para… mim!

Em função da versatilidade, tenho investido em microfones que podem ser usados tanto em voz quanto em instrumentos. Uma caixa que pudesse ser usada em PA mas também como monitor, e qualquer outro equipamento que me permitisse múltiplos usos – porque a gente nunca sabe muito bem o que vão te pedir quando faltar 5 minutos para o início do evento.

Diante dessa minha experiência, ao encontrar um produto desses, só posso declarar que estou diante de uma revolução! Pela primeira vez, o amplificador virou PORTÁTIL. Portátil MESMO!!!!! E os quatro canais o fazem também um equipamento VERSÁTIL. Ah, para mim é tudo de bom!

O APARELHO

Recebi o aparelho de um amigo, para testes. Estava na caixa ainda. A caixa tem o exato tamanho da caixa de um DVD, ou mesmo de qualquer periférico de áudio (um equalizador, um compressor, etc). Parecia ser qualquer coisa, menos um amplificador. O peso, o tamanho, tudo isto deixou o pessoal (estávamos em 6 pessoas, todas operadores de som) impressionados.

Fora da caixa, o aparelho se revelou com excelente acabamento. Os botões na frente, as luzes, os bornes, tudo muito bem feito mesmo. A chapa superior com o nome Hotsound gravado em relevo ficou muito bonita. A identificação dos canais atrás é bastante clara, uma breve leitura (poucos segundos) e já sabíamos onde conectar cada coisa. Manual? Nem olhamos (o que, infelizmente, é o que a maioria faz).

Cada um dos 4 canais conta com uma luz de ligado (não poderia ser apenas uma luz para todo o aparelho?), uma luz de sinal (excelente, bem visível) e uma luz indicativa de acionamento do Limiter, mostrando que o circuito começou a funcionar, e que o aparelho alcançou o seu máximo de potência.

Claro que, em 1U de altura e 4 canais, não dá para fazer certos milagres. Os bornes ficaram muito próximos e o risco dos fios de um canal encostar facilmente nos fios do outro canal é grande. Mas isto é facilmente evitado com o uso de um conector do tipo “banana”. Com os “bananas”, não há o menor risco de problemas. Tiramos e colocamos os fios das caixas no aparelho, inclusive com ele ligado e o volume aberto, sem o menor problema.

Para quem quiser usar fio nu, os bornes são generosos. Aceitam até 4mm² tranquilamente. Ainda assim, não arrisque, pois a chance de um curto é muito grande. Ainda que o aparelho tenha proteções completas, arriscar nunca é uma boa opção.

As entradas de ventilação que… complicou um pouco. Há entradas de ventilação na frente e nas laterais. A ventilação parece ser toda passiva (atenção estúdios: amplificador bom e sem ventoinha para fazer barulho!), então usar aqueles racks todos fechados nas laterais (muito comuns nos racks de periféricos) está fora de questão! Cuidado!

Quanto às entradas, poderiam ser tipo XLR/Combo com P10 TRS. É verdade que encarece um pouco o produto, mas – para quem tem mais de 200 cabos no “estoque” no Anfiteatro, tive que levar dois XLR-P10TRS meus de casa para o teste, porque não tinha um sequer do tipo lá!

Também faltou uma chave Estéreo/Paralelo entre os canais 1 e 2, e também entre os canais 3 e 4. Como o aparelho só tem 1 conector de entrada por canal (nem cabe nada além disso), uma chave dessas nos ajudaria a economizar um cabo, acrescenta mais versatilidade ao aparelho.

Mais atrás, junto ao cabo de força, um detalhe que na maioria das vezes passará despercebido. Fonte UNIVERSAL 85 – 240V. Ele funciona com qualquer tensão, todo automático. É mole?! Falando nisso, não há o porta-fusível. Será que o fusível é interno ou será que, dada a fonte ser universal, não precisa de fusível?

BRIDGE

O equipamento faz bridge entre os canais, mas para isto necessita de um cabo especial, pois envolve ligar um P10 TRS nos dois canais que funcionarão em bridge e ainda por cima inverter as fases entre esses P10TRS. Todo o procedimento está explicado no manual, disponível em:

http://www.hotsound.com.br/MANUAL_%20SPA_rev01.pdf

Em nossa opinião…. sincera…. que HORROR. Eu já pouco uso bridge, com um desses que não vou usar mesmo. Uma chave seria MUITO melhor.
Concordo que chaves em um aparelho tão pequeno desses é difícil, e que fica caro, não dá para negar. Mas muitos fabricantes de amplificadores tem adotado a solução de instalação de microchaves (semelhantes às usadas em placas-mãe de computador) onde se pode “jampear” os canais, acionar o bridge, implementar algum corte de freqüência, e até mesmo ligar/desligar o limiter!

CONDIÇÕES DE TESTES

Mas só falar do aparelho não vale. Queremos ouvir o equipamento! Montamos o sistema de teste com o seguinte:
– um computador com músicas MP3 que conhecemos bem
– uma mesa Soundcraft EPM 12
– caixas Mackie SR-500 (driver + woofer 15”, ambos da RCF), de 250W RMS @ 8 Ohms, uma para cada canal (4 caixas no total).
– cabos de ligação entre mesa e amplificador da Belden, com conectores Neutrik, no padrão XLR (mesa) – P10TRS (amplificador).
– cabos de ligação entre os amplificadores e as caixas do tipo PP, 1,5mm², conectores banana –P10TS.

Como o objetivo era comparar amplificadores, colocamos juntos:

a) um Ciclotron PWP 6000 4AB (2 canais), adquirido em 2000, que é o que usamos no Anfiteatro, com as seguintes especificações:
potência por canal em 4 Ohms – 750W
potência por canal em 8 Ohms – 450W
Sensibilidade de entrada de 0,775mV
Dimensões: 3U (132mm) de altura x 19” de largura x 46,2 cm de profundidade
Peso: 19,7Kg.

b) um Studio R Z700 (2 canais), adquirido em 2009, que é de nossa propriedade particular, com as seguintes especificações:
potência por canal em 4 Ohms – 350W
potência por canal em 8 Ohms – 215W
Sensibilidade de entrada de 0,775mV
Dimensões: 2U (88,5mm) de altura x 19” de largura x 32 cm de profundidade
Peso: 5Kg (versão inicial, com fonte chaveada)

c) um Hotsound SPA 4300 (lançamento, 4 canais) com as seguintes especificações:
potência por canal em 4 Ohms – 300W
potência por canal em 8 Ohms – 150W
Sensibilidade de entrada de 0,775mV
Dimensões: 1U (4,4mm) de altura x 19” de largura x 24,4 cm de profundidade
Peso: 3,4Kg.

Todos os amplificadores tem entradas balanceadas eletronicamente, com o Z700 e o PWP 6000 com entradas tanto XLR quanto P10 TRS, e o SPA 4300 apenas com entradas P10 TRS. Assim, o mesmo cabo de ligação mesa/amplificador foi usado em todos os testes.

Todas as informações citadas acima constam dos manuais dos produtos, disponíveis nos sites de Internet dos respectivos fabricantes.

Evidente que outras características importantes (Slew Rate, Fator de Amortecimento, Resposta de Freqüência, etc) estão listadas nos manuais, mas optamos por fazer, neste teste, algo mais próximo às realidades das igrejas, onde esses termos técnicos “misteriosos” (infelizmente, pois bom seria que todos os conhecessem) são geralmente deixados de lado.

Mas uma coisa insistimos: todos esses amps são dotados de sistemas de proteções completos, tais como:

– proteção contra curto-circuito na saída
– circuito AutoRamp (o som vai sendo aumentado aos poucos, não tudo de uma vez)
– proteção contra excesso de temperatura
– proteção contra DC na saída dos falantes
– circuito Limiter para evitar distorção na saída (exceção ao PWP, que não possui o recurso).

Não dá para entender porque ainda hoje alguns insistem em adquirir equipamentos sem proteções. Depois queima tudo e não se sabe o porquê.

Por último, para compensar o fato do PWP 6000 ter mais que o dobro da potência do SPA 4300 por canal, colocamos os atenuadores dos canais na posição -3dB, de forma que a potência por canal fosse reduzida à metade, ou seja, cerca de 225W em 8 Ohms.

O TESTE

O teste foi o mais próximo da realidade de um usuário médio possível. Usamos nossos ouvidos e nada além disso!

Evidente que seria bom ter um Neutrik A1 para fazer o teste, analisar a resposta de freqüência, medir a potência instantânea, etc e tal. Até um PAA3 nosso poderia ajudar, pois um teste feito no “ouvidômetro” é deveras subjetivo. E como estávamos em 6 pessoas, com certeza poderíamos ter resultados diversos. É o risco do teste subjetivo.

Por outro lado… quantos tem um Neutrik A1 que custa o mesmo que um carro popular? O PAA-3 é mais acessível (R$ 1.500,00), mas ainda assim são poucos os que o tem. O ouvido – bem treinado e experiente – ainda é o melhor teste possível!

Ligamos o computador na mesa EPM, ligamos um dos master no Hotsound, ligamos o outro master ora no Ciclotron PWP, ora no StudioR, todos os amps nas caixas Mackie. E abrimos o som. Vamos às considerações:

Crosstalk

O crosstalk entre canais do Hotsound é praticamente zero. Enquanto dois canais “gritavam” o MP3 a todo volume, no outro só o microfone de teste (endereçado apenas para o retorno) aparecia, não havia nada da música. Excelente!

Isso é ótimo para uma das coisas que eu acho ser o trabalho ideal para o SPA 4300: alimentar caixas de monitor. Não haverá “vazamento” de som entre uma caixa e outra, e teremos 4 músicos felizes com seus retornos.

Timbre

Aqui há uma questão delicada. Três amplificadores, três marcas diferentes, mas de idades também diferentes. Um novo, outro com cerca de 3 anos, outro indo para 11 anos de idade.

Ora, os capacitores eletrolíticos de um amplificador tem seu desempenho afetado com a idade, e capacitores “velhos” prejudicam a sonoridade do aparelho, restringindo a resposta de freqüência. Ora, fazer um comparativo nessas condições seria no mínimo injusto.

Evidente que houve diferenças de “timbragem”, mas vamos nos ater ao desempenho somente do Hotsound SPA.

Gente, a Hotsound fez alguma coisa milagrosa nesse amplificador, pois está excelente nos agudos. As músicas tocadas – músicas que eu conheço com a palma da minha mão – ganharam nova vida! O som parecia outro! Trocaram as caixas! Acrescentaram uma bateria de tweeters às caixas! Som claríssimo, limpíssimo!

Eu trabalho com as Mackie SR-500 desde 2004, quando comecei no Anfiteatro, e conheço as minhas músicas de teste muito bem. Posso dizer: nunca ouvi, essas caixas e essas mesmas músicas com um agudo tão maravilhoso. Os agudos foram surpreendentes e deliciosos!

Quanto aos graves, o desempenho foi bastante satisfatório nos graves, mas não sei como o amplificador se comportaria se fosse para alimentar um subwoofer. Talvez – digo isto sem testar – o Hotsound não se dê muito bem nos subgraves pois, conforme consta no manual, sua resposta de freqüência começa em 35Hz, um valor um pouco alto, comparando com os outros amplificadores do mercado, que geralmente começam em 20Hz mesmo. Mas volto a dizer: ainda assim as Mackie SR-500 deram um ótimo grave!

Potência e Limiter

As caixas tem ótima sensibilidade, e falaram bem em todas as condições, enchendo o salão onde cabem até 5.000 pessoas. Evidente que o Hotsound não falou tanto quanto os outros dois amps, pois a diferença de potência era considerável: 150W para o SPA, 215W para o StudioR, 225W para o PWP 6000 (com atenuação em -3dB por canal), sempre por canal e em 8 Ohms. 

Quando a potência máxima do Hotsound foi atingida, o limiter foi acionado. No começo, ajustamos os atenuadores (vulgo “Volume”) para que a proteção fosse acionada apenas nos picos mais altos da música, mas depois exageramos um pouco e os indicativos do Limiter ficaram mais acesos que apagados.

Muito bom o circuito de acionamento do Limiter. Muito transparente, o som se apresentava limpo e sem qualquer sinal de distorção, mesmo com a luz do Limiter acesa direto!

Mas como a luz de limiter não está lá à toa, tivemos que reduzir um pouco, melhor não exagerar. Mas sabe quando a gente está dirigindo um carro 1.0 em uma estrada boa, e por mais que a gente pise no acelerador o motor não responde? Pois é… foi assim que me senti… busquei mais potência e só ganhei a luz do Limiter acendendo mais e mais. Enquanto isto, a luz do Limiter do Z700 nem havia começado a piscar. A impressão que fiquei é que a diferença entre o SPA e o Z700 era bem maior que os 65W entre os seus canais…

É com essa cara de “quero mais” que venho dizer: esse aparelho é ótimo, mas com potência de 300W por canal em 8 Ohms ele irá ser maravilhoso! Ou seja, que o SPA 4300 tivesse 4 canais, 300W por canal, mas com impedância mínima de 8 Ohms. A contrapartida é que se perderia a possibilidade de se usar 2 caixas por canal, e o bridge deixaria de ser um modo interessante.

Claro que existem diversos usos, e sim, uma versão SPA 4300/4 Ohms tem muito uso (alimentação de ambientes diferentes, por exemplo), mas uma versão SPA 4300/8 Ohms cairia como uma luva para mim, para o som que eu faço….

Por último, o manual especifica que o SPA tem potência de 300W @ 4 Ohms e 150W @ 8 Ohms , sempre por canal. Mas cabe salientar que a norma de medição é um pouco diferente de outros amplificadores, pois é no padrão EIA 8ms/24ms. Essa norma significa que o amplificador suporta um pico curto de um tempo (8ms), seguido de três tempos (3 x 8ms = 24ms) de “descanso”.

É uma norma bem diferente do que vemos por aí. As normas IEC268 e EIA-RS490 exigem testes com sinal senoidal, contínuos, não dando tempo para o amplificador “respirar”. A variação EIA 33/66, por sua vez, não usa sinais contínuos, mas um sinal tipo “burst”, de 33/66ms (1/3 de segundo com um pico, depois um “descanso” de 2/3 de segundo), o que representa bem um sinal musical. Essa nova variação, 8ms/24ms provavelmente não parecerá ter “tanto som” quanto um EIA 33/66 e parecerá bem “anêmico” quanto a um amplificador que usa norma ISO, sempre na mesma potência.

Não desmerece em nada o aparelho, mas é para podermos comparar equipamentos sempre nas mesmas condições. Comparar bananas com bananas, laranjas com laranjas, EIA 8/24 com EIA 8/24, EIA 33/66 com EIA 33/66, e assim por diante.

O interessante é que a Hotsound (assim como inúmeros fabricantes em todo o mundo) defendem a adoção da EIA 33/66 como pode ser visto aqui:

http://www.hotsound.com.br/por_que_eia_33_66_rev_1.pdf

e ela mesma lançar um novo produto com outra variação.

POSSÍVEIS USOS

Espaços diferentes, ambientes diferentes
Qualquer local (uma empresa, uma fábrica, etc) onde haja sistema de alto-falantes para avisos/chamadas. Cada SPA atenderia até 4 ambientes diferentes. Alguém poderia chamar determinada pessoa apenas no determinado setor onde ela se encontra, e não na fábrica toda, por exemplo, bastando na hora de chamar aumentar o volume daquela caixa, e não das outras.

Restaurantes e outros locais com sonorização ambientes
Em restaurantes, tem sempre o pessoal que senta em uma mesa e pede para abaixar o som, que está muito alto, ou para aumentá-lo. Agora, e possível fazer isto para um determinado grupo de mesas, sem incomodar quem está nas outras.

Igrejas
Os usos são os mais diversos possíveis. Primeiro, a possibilidade de fazer até quatro caixas de retorno com apenas um único amplificador. Dá até vontade de combinar com os músicos: “cada um leva a sua caixa de retorno e eu, operador de som, levo o amplificador”. E saio feliz com 3kg embaixo do braço enquanto cada um leva no mínimo uns 15kg cada…

Depois, para alimentar caixas de PA, com a possibilidade de se controlar os volumes independentes. Isso é particularmente útil em igrejas com “ambientes diferentes”, por exemplo: nave principal (exige um volume), galeria superior (exige outro volume), embaixo da galeria (outro volume). Já viram igrejas cheias de “puxadinhos”, cada “puxadinho” com uma caixa? Pois é, seria o ideal. Ambiente vazio não teria volume, atenuando um pouco os problemas de acústica.

E – o grande uso – para atender eventos externos, pela primeira vez temos um amplificador realmente portátil, com possibilidade de fazer PA (duas caixas), retorno do pregador e ainda retorno para os músicos! Show!

A lista não para por aí não. Sistemas multivias (por exemplo, 2 canais fazendo bridge e alimentando um subwoofer), outros dois canais fazendo caixas de altas (médio-graves e drivers), etc.

Em resumo… PORTÁTIL E VERSÁTIL. O Ipad dos amplificadores!

TECNOLOGIA DA FONTE

Alguns vão torcer o nariz para a tecnologia das fontes chaveadas. Vão dizer que é mero modismo, manutenção dificílima, que não tem a confiabilidade dos transformadores tradicionais, que são usadas há décadas sem problemas.

Alguns pontos são a mais absoluta verdade. A manutenção é difícil, tanto pelo maior número de componentes quanto pela exigência de mão de obra mais especializada. Sim, é verdade. Mas o problema aqui não é da fonte, mas sim da carência de mão de obra especializada que vivemos nesse país.

A tecnologia das fontes chaveadas é usada onde mesmo? Ah sim, somente EM TODOS OS COMPUTADORES DO MUNDO. Também em todas as telas (TV´s e monitores) LCD e LED do mundo! Claro que há sim fontes “xing-ling” que não valem nada, como há fontes chaveadas de altíssima qualidade, que funcionam anos e anos sem o menor problema. Confiabilidade nunca foi problema para qualquer coisa feita com qualidade, isso sim!

Mas para os ainda céticos, eu proponho um exercício mental. Imagine os computadores com fontes tradicionais. Como ele seria? Provavelmente, a fonte ocuparia mais da metade do gabinete, o computador todo teria mais que o dobro do peso e – pior de tudo – seria mais caro! Notebooks? Seria uma pasta para carregar o aparelho e uma mala para carregar a fonte!

Por último, qualquer problema fora da garantia (no caso do HotsSound, 2 anos), crie coragem e mande o aparelho diretamente para a fábrica por SEDEX. Pode acreditar que não será caro, pois o custo é proporcional ao peso, e não há nada mais leve que ele no mercado. De qualquer forma, a empresa tem postos de assistência autorizada espalhadas por todo o país.

CONCORRENTES

Eu acredito realmente que a série SPA e seus 5 modelos inauguram uma nova classe de aparelhos, os dos portáteis e versáteis. Mas não são os únicos.

Como já falamos, temos o StudioR ACE. Se o SPA 2600 (2 canais de 600W@ 4 Ohms cada) ainda for pouco em potência, o ACE lhe fornecerá o dobro disso! Também portátil, apesar dos seus 11kg, mas nem um pouco versátil: exige 220V para funcionar.

Do Rio de Janeiro, da empresa ThunderLight (http://www.thunderlight.com.br/), tem importado da China a série APD, com modelos da APD-1000 (1.000W, R$ 1.350,00), APD-3.200 (R$ 2.900,00), a até APD-7000 (R$ 5.000,00) todos com 1U de altura e bem leves. Não tem Limiter, e não dá para falar mais nada pois não há manual disponível no site, nem lista de assistências técnicas espalhadas pelo país, nada, mas segundo o Edson, funcionário da empresa que nos atendeu por telefone (16/Maio/2011), tem 3 anos de garantia.

Já para concorrer com o SPA 4300… deixem-me ver… além dos Powersoft e Lap.Gruppen, a StudioR lança agora na AES 2011 (Maio/2011) o Nashville DNA 4004. Ainda não temos muita informação sobre ele, mas a potência total será de 440W @ 4 Ohms, sendo 110W por canal @ 4 Ohms.

PREÇO

Um SPA-2600 pode ser encontrado nas lojas por R$ 1.500,00, em média. Um pouco caro para a potência sim, quando comparado com amplificadores tradicionais de mesma potência, mas devemos lembrar que este tem circuitos completos de proteção e portabilidade sempre custa um pouco mais caro.

Já o SPA-4300 pode ser encontrado um pouco mais caro (óbvio, são 4 canais), na faixa de R$ 1.700,00. Compare com o preço de 2 amplificadores de 600W @ 4 Ohms e proteções completas e veja quem leva vantagem!

RESULTADO

Faltaram entradas XLR/Combo, faltou um conjunto de chaves para acionar um modo Estéreo/Paralelo entre os canais 1 e 2, 3 e 4. Implementar Bridge exige um cabo totalmente fora de padrão. Mas nada disso tira o brilho do aparelho.

O aparelho tem excelente qualidade de construção. A garantia de 2 anos mostra que o fabricante tem confiança no aparelho. A tampa com o logo do Hotsound em relevo é show, mas o aparelho é tão compacto que acredito ser interessante que haja informações técnicas e até mesmo alertas (algumas imagens do que pode e/ou não ser feito, pois é uma nova forma de pensar) em serigrafia nessa tampa.

Aliás, isto serve para todos os fabricantes. Infelizmente, não é hábito do brasileiro ler manuais, então colocar as informações mais imprescindíveis, ou seja, as formas certas de como se fazer algo e as formas erradas a serem evitadas, tudo isto na tampa, pode ser muito útil para ninguém alegar que não viu depois. O esquema dos cabos de ligação em Bridge seria uma boa…

Principalmente, falta uma versão mais potente, mas aí não é defeito do aparelho, é desejo nosso de encontrar versões mais potentes. Quem dera já existisse uma versão 4600 (4 canais x 600W). Até mesmo uma versão 41000 (4 x 1000).

Que esses 5 modelos iniciais produzam uma revolução na indústria dos amps, e que no futuro carregar um amplificador seja tão fácil quanto carregar qualquer periférico!

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