Na minha igreja, em 2005, tivemos um problema sério. O dono de uma maravilhosa Mackie 1604 VLZ-Pro que usávamos a levou embora (mudou de igreja e a mesa, dele, levou junto), e ficamos com uma Ciclotron AMBW. Após uma semana de muitos problemas e microfonias (coisa que, com a Mackie, era raríssimo), os próprios membros da igreja começaram a perguntar o que tinha acontecido para a qualidade sonora piorar tanto, e após as devidas explicações, se prontificaram a ajudar financeiramente na comprar de um novo equipamento de qualidade. Depois de muito pesquisar, optamos pela Behringer SL2442FX-Pro. Existe também uma versão maior, a SL3242FX-Pro, 32 canais, a mesma mesa, só com mais 8 canais mono.
Site na web: http://www.behringer.com/SL2442FX-PRO/index.cfm?lang=ENG O site está todo em inglês, mas é possível baixar um manual em português para este equipamento.
A Behringer é uma empresa alemã, de um músico (Uli Behringer) que não se conformou pelo fato de no seu país não haver uma empresa grande de equipamentos de áudio. E aí ele montou a sua própria fábrica. Começou pequeno, produzindo alguns produtos, mesas e amplificadores, e hoje tem uma das mais variadas linhas de produtos do mundo. A Behringer é extremamente ágil em lançar produtos novos e também para reduzir os seus preços.
Só que toda essa “agilidade” tem um motivo. Eles copiam produtos de outras empresas. Inclusive, “dizem por aí” que a Behringer “roubou” um dos projetistas-chefes da Mackie americana (nada que um alto salário não faça). Essa SL2442 e sua irmã não são excessão. São muito parecidas com as Mackie CFX e as Yamaha MX e MG. A bem da verdade, a Behringer criou versões parecidas, não idênticas, e inclusive com novidades e melhorias.
Trata-se de uma mesa analógica, com 16 canais mono (XLR/P10, microfones/instrumentos) mais 4 canais estéreos (2x P10, para instrumentos). A versão 3242 conta com 24 canais mono (XLR/P10) mais 4 canais estéreos. Como o fabricante conta cada canal estéreo como 2 (aliás, quase todos fazem assim), daí temos o nome de 24 e 32, respectivamente (16+8 e 24+8). O número 4 seguinte refere-se à existência de 4 submasters, recurso mais que bem vindo e o número 2 são os canais de saída L+R. O nome poderia ter sido 24-4-2, mas prefiriram colocar tudo junto para simplificar.
Os recursos por canal são muito parecidos com qualquer outra mesa de nível semelhante. Ganho, filtro para corte de graves em 80Hz, equalização de 3 vias com semi-paramétrico (permite escolher a frequência central) nos médios, 2 auxiliares pré e dois pós-fader, Mute. Os auxiliares pré-fader podem funcionar como pós-fader também, há um botão para seleção da função. Um conjunto comum, mas suficiente para o trabalho. Há faders grandes e bastante precisos, 60mm. As luzes indicativas são um show à parte: há luz indicativa de mute, luz indicativa de clipagem (pico) e luz de sinal. Ponto positivo em relação a Mackie CFX: essa não tem luz de Mute, e isso faz uma falta enorme na hora de operar….
A luz de sinal funciona de maneira diferente das luzes encontradas nas Ciclotron CSM e Mackie 1604VLZ Pro, mas de maneira idêntica à Mackie CFX. A luz amarela de sinal, situada ao lado do ajuste de ganho, só acende quando o sinal alcança o nível de 0dB. No manual é ensinado que a luz de sinal deve ser ajustado da seguinte forma: coloca-se o fader na posição 0dB, então se vai aumentando o ganho até a luz começar a acender. Diminui-se um pouco e pronto, está regulado. Nessa condição, o sinal está na melhor relação sinal/ruído possível. Em condições normais, a luz acenderá então somente nos picos musicais. Não confunda com luz de pico: quando o 0dB acende, o sinal ainda está longe de clipar (a luz de pico, abaixo do mute, só acende quando estiver clipando). A vantagem dessa forma de trabalhar é que, ajustado todo um conjunto de microfones para vários cantores, por exemplo, dá para saber exatamente quem está sobressaindo (a luz acende mais vezes e com mais intensidade).
Na Mackie 1604VLZ Pro, copiado pela Ciclotron na linha CSM, a luz de sinal funciona com intensidade variando com o nível de sinal que chega no canal. Esse sistema é ótimo: avisa que está chegando sinal ou não da fonte sonora sempre, mesmo com o nível de sinal baixo. O ruim é que, com vários canais ao mesmo tempo, é mais difícil identificar algum que esteja sobressaindo (mas não impossível, a luz brilha mais que as outras, mas a diferença é sutil e exige atenção). Qual dos dois sistemas é melhor? São abordagens diferentes para uma mesma função, cada uma mais útil em alguns casos. Aliás, bom mesmo é o sistema da Ciclotron, adotado em algumas mesas da série CSM (série IS, mais nova) tem os dois sistemas: uma luz de sinal e uma de 0dB, além da de clipagem. É igualzinho a um semáforo: verde (sinal), amarelo (0dB) e vermelho (clip). Excelente, pois abrange as duas abordagens ao mesmo tempo.
Mas indo ao que realmente interessa, a qualidade de som, é boa. Voltamos à época da Mackie: as microfonias desapareceram, ficou muito mais fácil regular tudo. A Behringer chama seus pré-amplificadores de microfone de “Invisible”, pois é como se não existissem, de tão lineares. A sonoridade é bem legal, apesar da Mackie ter uma sonoridade bem mais “quente”, mais rico em agudos. Em resumo, o que podemos dizer, já tendo trabalhado com várias marcas de mesas, é que as Mackie e Soundcraft são muito superiores em sonoridade, mas esta Behringer é de muito boa qualidade, como sonoridade semelhante às Yamaha MX e MG, mesas da Alto, e mesmo melhor sonoridade que as nacionais Ciclotron CSM e Staner UX.
Mas o que impressiona nessa mesa são os recursos disponíveis no lado direito, onde ficam o equalizador e os dois módulos de efeito. A mesa possui vários recursos bem legais. Vejamos:
A mesa tem incorporado um equalizador de 9 faixas de equalização que afetam as saídas Master (L/R). Até aí, nada de mais. O legal é um recurso chamado FBQ, um detector de microfonias! Quando o FQB está acionado, um led existente em cada fader do equalizador acende, como se fosse uma luz de sinal. Na verdade, funciona como um pequeno analisador de espectro. Dá para acompanhar a variação de freqüências exatamente pela fonte sonora: voz, música, um instrumento isolado. Quando acontece uma microfonia, o fader do equalizador acende mais que os outros, indicando que precisa ser atenuado. É um recurso muito útil em eventos em locais diferentes, quando precisamos ajustar a acústica do local. Entretanto, para o recurso realmente funcionar é preciso ajustar muito bem a estrutura de ganhos do sistema. Se mal ajustado, as luzes acendem tão fracamente que ficam sem serventia!
A mesa ainda tem dois módulos de efeito. Dá para usar os dois independentemente, para os canais que quiser. Aliás, além de efeitos propriamente ditos (delay, reverb, chorus, flanger, etc), contam ainda com compressor – expansor e gate, além de outras coisas úteis: um gerador de sinal, etc. A única coisa ruim é que todos os ajustes são automáticos, não sendo possível alterar limites, temporizações. E os efeitos propriamente ditos não são lá grandes coisas. Dos reverbs, o melhorzinho é o 15. Para músicos existem mais opções, e deve haver uma maior quantidade de efeitos usáveis. Falando em músicos, é possível colocar um Foot Switch, um pedal liga/desliga, que permite ligar ou desligar os efeitos.
De qualquer forma, é possível ligar efeitos externos, desativando automaticamente os internos, ou mesmo trabalhar com 2 efeitos externos e dois internos. Compre uma mesa e ganhe equalizador, efeitos, compressor, gate, gerador de sinais, tudo isso embutido. Não são “grandes coisa”, mas já é uma senhora economia.
Além da saída Main e dos 4 subgrupos, a mesa ainda tem uma saída Mono Out. Essa saída inclusive incorpora um crossover, com frequência de corte selecionável entre 20Hz e 200Hz. Uma boa idéia, pode economizar a compra de um crossover dependendo da aplicação (e principalmente dependendo das caixas). Existe ainda recurso Talkback, já com microfone integrado, útil para quem quiser utilizá-la em estúdios. As saídas dos masters são XLR e P10. Realmente, cheia de recursos.
Quanto a resistência, a Behringer diz na propaganda da mesa que a mesma é construída em um chassis “super resistente”, feito para resistir às mais adversas condições de estrada (será que eles fizeram testes no Brasil?). A fonte de alimentação é “superdimensionada”, variando automaticamente entre 100 e 240Volts, e imune a variações de voltagem (alguém já viu isso no Brasil?).
A Behringer nunca teve boa fama quanto à resistência dos seus equipamentos. As maiores reclamações são quanto a pouca resistência aos buracos das estradas brasileiras e problemas com o calor. Nada anormal em se tratando de um produto projetado na Alemanha, país de clima frio e onde as estradas são verdadeiros tapetes. Isso principalmente com os equipamentos antigos, de antes de 2003. De lá para cá, se as coisas realmente melhoraram, ainda não deu para dizer, mas a proposta da empresa realmente mudou: estão buscando melhorar.
De qualquer forma, há várias notícias de que um lote destes equipamentos apresentou defeito na parte de efeitos. Essa versão se corroborou quando vi a venda a mesma mesa, mas sem os módulos. Havia uma chapa de metal no lugar deles. Parece que “consertaram” (tiraram os módulos) e depois recolocaram a venda por um preço mais em conta. Parece que isso afetou principalmente as mesas fabricadas em 2006, e que as mais recentes já estão com o problema corrigido.
De qualquer forma, tanto a mesa da minha igreja quanto outras duas compradas por amigos também em 2005 estão todas firmes e fortes.
O preço é o grande atrativo dessas Behringer, mas por motivos um pouco complicados. Oficialmente, o custo delas é de R$ 1.800 a 2.200,00 o modelo 2442 e 2.400 a 2.800,00 o modelo 3242. Um pouco mais caro que uma Ciclotron CSM 16 ou CSM 24.4, mas com a enorme vantagem de trazer equalizador, efeitos e mais 4 canais (os estéreos). Garantia de 01 ano.
Mas se dermos uma “navegada” no site do Mercado Livre e procurarmos essas mesas, vamos encontrar os preços de aproximadamente R$ 1.400,00 (versão 2442) e 1.800,00 (versão 3242). Isso é contrabando, alimenta o crime organizado, etc e tal, mas…. com impostos a diferença é de quase 50% a mais. Bem, os “vendedores” costumam dar 3 meses de garantia. Não vou entrar no mérito de quem está certo ou não. Daí a César o que é de César, a gente aprende, mas 50% a mais para o “César” dói muito.
Só não pode dar defeito. Não por causa da marca nem do produto não (com outras marcas, mesmo famosas, também acontece isso), mas porque é equipamento importado. O conserto será caro e demorado. Ainda assim, se é para usar na sua igreja, com um lugar firme e com energia limpa (um estabilizador resolve), o produto é mais que recomendado. Hoje é a mesa com o melhor custo/benefício que se pode comprar, nessa quantidade de canais. Ciclotron? Nem de longe!
Pontos negativos? Praticamente nenhum. Como a mesa é “baseada” em outros equipamentos, realmente corrigiram todos os problemas possíveis e lançaram um equipamento “matador”. E mesmo que a qualidade do som não seja a de uma Mackie ou SoundCraft, ela é muito boa. Dá para trabalhar tranquilamente com ela.
———————
Revisado em 13/06/2008
Essa mesa de som, aceita processador de efeito externo?
Essa mesa, aceita processador de efeito externo?