Mesa de som Yamaha MX20/6

Apesar de uma experiência de quase duas décadas cuidando de som nas igrejas, eu nunca tive oportunidade de trabalhar muito tempo com uma mesa de som da Yamaha. Fora uma vez ou outra, bem esporádicas, daquelas vezes em que a gente chega faltando 10 minutos para começar e tem que se inteirar de tudo, inclusive de uma mesa de som que nós nunca vimos na vida, Yamaha era apenas uma marca que, apesar de sempre ouvir falar muito bem, era inatingível para os nossos pobres bolsos. Até que um amigo, de uma banda gospel que encerrou suas atividades, deixou esta Yamaha MX20/6 comigo para vender. Oba!

O que eu já ouvi falar da Yamaha? Todos sempre destacavam a sua qualidade e resistência. As mesas da Yamaha tem boa sonoridade e muita resistência, durabilidade de anos, década. Seus equipamentos (mesas, caixas, efeitos e amplificadores) são de primeira linha, assim como os da Mackie e Soundcraft e algumas outras marcas. Mas a Yamaha tem uma enorme vantagem sobre as outras marcas: quem está no Brasil não é o representante (caso de todas as outras), mas o próprio fabricante (www.yamahamusical.com.br), estabelecido no país desde 1973. E o que isso significa? Melhor suporte técnico, manuais e atendimento de qualidade em português, rede de assistências técnicas pelo Brasil inteiro, estoque de peças de reposição. Grandes vantagens que os outros não tem (garantia só em São Paulo, peças demoram muito, etc). Em resumo: mesmo sendo equipamentos importados, temos tranquilidade de saber que, em caso de necessidade, teremos a quem recorrer.

Eu que tenho uma Behringer SL3242FX-Pro na igreja (http://www.somaovivo.mus.br/testes.php?id=1) e uma Mackie CFX-20 (http://www.somaovivo.mus.br/testes.php?id=11) para meu uso pessoal, evidente que me interessei na mesa e quis fazer comparações dessa Yamaha com a outros, mesmo sabendo que a Mackie é um projeto mais antigo (1999) e a Behringer é um projeto mais recente (2004). Todas tem a mesma configuração básica: 16 canais mono mais dois estéreos (4 estéreos na Behringer), 4 submasters e efeito embutido (2 efeitos na Behringer), além de equalizador integrado. E mesmo sendo um equipamento já ultrapassado e fora de linha, vale a pena escrever sobre ela. E também, por que não, compará-la com as Ciclotron CSM nacionais (http://www.somaovivo.mus.br/testes.php?id=17).

A primeira coisa que gostei foi a aparência geral do equipamento. Para um aparelho com 6 anos de uso, usado sem rack e deixado na igreja sem nem uma cobertura para protegê-la da poeira, achei que estaria com a tinta surrada, assim como a minha Mackie (o maior defeito das Mackies: a tinta não aguenta as mãos suadas pelo calor). Há algumas marcas principalmente ao lado dos faders, mas a tinta ainda não descascou nada. A mesa é bonita também, com boa escolha de cores e boa disposição dos controles. Ela é bem pequena, bem menor que a CFX-20, mesmo sendo tão pesada quanto (11kg). Do tamanho aproximado da  SL2442FX-Pro, mas esta é mais leve.

Uma coisa bem diferente das outras: ela tem conectores tanto na vertical quanto na horizontal. Os conectores principais, dos microfones e instrumentos e das saídas principais estão situados na parte de cima, onde é fácil de visualizarmos. Já na parte horizontal posterior temos os Inserts (apenas para os oito primeiros canais), as chaves liga-desliga do Phantom Power (funcionam em grupos, canais de 1 a 8 e/ou 9 a 16) e as saídas de submasters e Tape IN e Rec-Out.

Por canal, temos o seguinte controles:

Entradas XLR (microfone) e P10 (linha). Como já dito, Inserts só para os 8 primeiros canais.

Abaixo dos conectores, existem duas pequenas luzes amarelas, uma no meio do comprimento entre os canais 1 a 8 e outra entre os canais 9 a 16. São luzes indicativas para o funcionamento do Phantom Power. Gostei muito do posicionamento, facilita a visualização de que o Phantom está acionado ou não. Melhor que nas SL e na CFX, cujas luzes indicativas ficam lá no canto, junto aos masters.

Também achei interessante o fato de dividir o Phantom Power em grupos de canais. O uso de Phantom até hoje gera muitas dúvidas entre os operadores de som e até gente com bastante prática fica inseguro. Enquanto a Behringer e a Mackie habilitam o Phantom Power para todos os canais (e não há problema nenhum nisso, desde que usado certo), e as Ciclotron CSM possuem chaves individuais por canal (na minha opinião, um exagero que só serve para aumentar os custos e tornar o produto menos competitivo), essa Yamaha alcançou a perfeição. Se você tem microfones que precisam e outros que não precisam de Phantom Power e não está seguro quanto ao uso, basta distribuir os microfones pelos canais correspondentes.

Controle de ganho. Essa mesa tem “dá mais ganho” que a Mackie. Nessa mesa, para um certo tipo de microfone eu usei o ganho na posição “10 horas”, enquanto na Mackie eu tenho que abrir até “12 horas” para ter o mesmo volume. Lembrou-me do ganho das mesas Ciclotron.

Tem uma luz de pico (Peak). Não é luz de sinal nem luz de 0 dB como nas outras, é luz que indica quando o canal está clipando. Vamos ver mais abaixo que um dos defeitos desta mesa é a pouca quantidade de luzes indicativas.

Controles de agudos, médios e graves, +/- 15 dB. Essa mesa não tem varredura de médios, como as outras (Behringer, Mackie e mesmo Ciclotron CSM) tem. A equalização dela é boa, eficiente, tão precisa quanto a da Mackie e da Behringer (potenciômetros lineares são outro nível) e muito melhor que as Ciclotron CSM, mas varredura às vezes faz uma falta…

Temos então dois Auxiliares. O primeiro é fixo em Pré-Fader, o segundo pode ser Pré ou Pós-Fader, a critério do operador. Só para comparar, a Mackie tem dois auxiliares Pré/Pós mais um fixo em Pós-Fader, fora um outro fixo para o efeito interno. Já as Behringer SL tem dois auxiliares Pré ou Pós e mais dois auxiliares Pós para os efeitos internos, mas que podem ser utilizados para efeitos externos em vez dos internos. Em resumo: comparado com outras mesas com quantidade semelhante de canal, a Yamaha MX tem menos auxiliares.

Fora esses auxiliares, existe um auxiliar pós fixo para o efeito interno da mesa. Ele não pode ser desabilitado para efeitos externos.

Finalmente, o controle de PAN, os endereçamentos para subgrupos 1/2/3/4 e para as saídas Masters (nesta mesa, chamada de ST, uma alusão a Stereo Outs). O fader de 100mm é uma delícia, bem grande, mas a Mackie, Behringer e mesmo Ciclotron CSM não ficam atrás, com pouca diferença (faders de 80mm ou mesmo 100mm).

Quando eu peguei esta mesa, fiquei desconfiado com os faders. Um outro amigo, da mesma denominação que eu, que também tem uma Yamaha MX, já teve problemas com os faders (ficavam “arranhando”) e teve que trocá-los. Assim como a Behringer, os faders desta Yamaha são desprotegidos, e toda a poeira que cair na fenda da alavanca vai direto para o potenciômetro. Aliás, um simples exame visual permite ver o potenciômetro e até mesmo partes da placa de circuitos. Um perigo se cair líquidos aí. Entretanto, no uso da mesa não encontrei nenhum problema com os faders. Nesse ponto, Mackie e Ciclotron dão show, ao proteger a fenda com um veludo, protegendo da poeira. Assim como a Behringer, é uma mesa que exige ficar sempre coberta, quando não em uso.

Os canais estéreos são idênticos, a única mudança estão nos conectores. Existem dois conectores P10 e RCA em cada um desses canais, facilitando a conexão de CD Players, DVDs, MP3, etc. Mesmo com esses conectores, a mesa tem entradas Tape IN, com RCA também.

Finalizado o estudo do canal, já dá para tirar algumas conclusões e identificar alguns problemas desse equipamento:

– a equalização sem varredura de médios é boa, mas com varredura é muito melhor;

– fora a luz de pico, não existe nenhuma outra luz indicativa. Não há luz de sinal, como nas Ciclotron CSM ou Mackie 1604VLZ Pro, ou então luz de 0 dB, como na Mackie CFX e Behringer SL. Essas luzes fazem uma falta tremenda, pois nos ajuda a saber quando o sinal está chegando, o nível do mesmo, etc.

– também não há Mute (e muito menos luz de Mute), mas essa função ainda pode ser feita pelos botões de endereçamento, pois dá para “mutar” o canal tirando o endereçamento dele – o problema é lembrar qual o endereçamento certo depois. Quando endereçamos tudo para os Masters (ST), menos mal.

– e, finalmente, o pecado mortal dessa mesa de som: onde está o PFL/Solo do canal? Simplesmente não existe. Não há como monitorar individualmente cada canal. Isso pode até não fazer tanta falta em uma igreja, onde a montagem do som muda pouca e onde há mais tempo para se organizar tudo. Mas é uma tremenda falta para quem faz eventos em geral, principalmente aqueles onde montamos tudo “em cima da hora”, como é tão comum nas igrejas.

Já na seção de master, encontramos:

– um equalizador de 7 faixas, +/- 12 dB, que atua sobre as saídas ST (L e R). O equalizador é bem razoável e ajuda muito na correção de alguma falha nas caixas, mas fica muito atrás das 9 faixas da Mackie e do incrível equalizador da Behringer, que além de 9 faixas conta com um sistema de detecção de microfonias.

– um módulo de efeitos, com 16 presets, sendo quase todos voltados para a voz. Não há como alterar temporizações de reverbs e delays, mas a grande quantidade deles faz com que seja fácil encontrar algum efeito interessante para a voz. Há um botão chamado “Parameter”, mas ele acabou funcionando como volume (talvez por isso os termos Min e Max). Em compensação, não há um sequer efeito comum em instrumentos musicais, como Chorus ou Flanger. Bem diferente da CFX, que possui um módulo completo, tanto para instrumentos quanto para voz, incluindo alteração de temporização. E também bem diferente das Behringer SL, que tem 99 presets, mas poucos são indicados para voz (a maioria estão entre os efeitos 10 e 19), sem nenhuma possibilidade de parametrização (alteração de parâmetros).

Os efeitos da Yamaha, para voz, são muito bons, pouco inferiores aos da CFX, mas muito superiores aos da Behringer. Em compensação, os dois módulos da Behringer são muito mais que efeitos: incluem compressor, expander, gate, tons de teste, etc. Não há parametrização, mas a quantidade de recursos impressiona.

– 4 subgrupos. Nesta mesa, os subgrupos trabalham de maneira diferente das outras mesas. Apesar de existirem 4 subs, eles são endereçados para o Masters (ST) de uma maneira que eu nunca tinha visto em outros equipamentos. O Sub 1 e 3 são endereçados apenas para a saída Left, enquanto os subs 2 e 4 são endereçados para a saída Right. Assim, acaba que o operador não tem 4 subs, mas na verdade apenas 2. Só dá para usar os 4 subgrupos independentes se o operador trabalhar com a saída Mono Out.

O fader do Master (ST) impressiona: são 15 centímetros. Acima dele, um VU Bargraph de 12 elementos, mas quase inútil. Só serve para monitorar as saídas de Subs ou do ST ou mesmo do Tape IN. Monitorar canal que é bom, nada!

Uma coisa muito legal da Yamaha foi ter colocado os níveis de sinal em cada uma das saídas. As saídas de Tape IN, por exemplo, são sinalizadas como -10 dB, como é de praxe em equipamentos desse tipo. Já as saídas de subs, ST e auxiliares são saídas +4 dB, o nível de sinal utilizado em equipamentos profissionais.

Senti falta de duas coisas: tanto na Mackie quanto na Behringer, há saídas P10 e XLR para os Masters. Facilita na hora de montar a mesa em lugares diferentes. Na Yamaha, só XLR. Na Mackie e Behringer, o cabo de força pode ser retirado (igual aos utilizados em computadores), enquanto na Yamaha, ele é fixo na mesa. Pequenos detalhes que fazem uma diferença…

Por último, não poderíamos deixar de citar: a sonoridade da mesa. Os prés da Mackie continuam muito melhores, com mais agudos que qualquer dessas outras mesas. Mas a sonoridade da Yamaha foi muito boa, um pouquinho melhor que a da Behringer (uma diferença bem pequena nos agudos) e pouco melhor que a Ciclotron CSM. Também achei a equalização da Yamaha pouco melhor que a da Behringer, com os controles um pouco mais precisos.

Na comparação direta entre esses 4 modelos (Mackie CFX, Behringer SL e Ciclotron CSM), a Mackie fica com a melhor sonoridade (mas também tem seus defeitos), a Behringer SL traz o melhor conjunto de recursos (como é um projeto mais recente, consertou os erros dos concorrentes). Esta Yamaha não é uma mesa ruim (antes disso, tem uma boa sonoridade e é “gostosa” de trabalhar, os controles estão muito bem posicionados), mas mesmo uma Ciclotron CSM acaba se tornando mais fácil de usar, por causa da falta de recursos essenciais: luzes, PFL…

Indicada para uso em igrejas com instalações fixas. Eventos com uma mesa dessas vão dar muito, muito trabalho para o operador. A Yamaha substituiu a série MX pela MG, bem superior e da qual vamos fazer um teste em breve.

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