Mesas de som Ciclotron CSM

Com o tempo e a experiência que ele traz, as empresas desenvolvem novos e melhores produtos. Mas até chegar lá, existe toda uma história. E para quem se interessa por histórias, vamos apresentar como a Ciclotron chegou até a série CSM.

No final da década de 1980, a Ciclotron lançou a série AMR (da foto acima), uma mesa toda P10, mas que já contava com plugues balanceados (P10 TRS), controle de ganho, 3 vias de equalização, uma via de monitor, faders grandes e prés decentes. A pintura dessas AMR era toda preta, com serigrafia branca. A AMR deu origem à série CMR (mixers de 8 a 16 canais), que nada mais era que uma AMR atualizada, com conectores XLR e já com a mesma cor marrom utilizada até hoje. A aparência é muito semelhante com uma mesa AMBW atual (http://www.somaovivo.mus.br/testes.php?id=12), a maior diferença é a falta do botão de mute.

Apesar de serem mesas antigas, fabricadas na década de 1990, as AMR e CMR tinham uma qualidade de som muito razoável (prés e equalização), muito melhor que as atuais MXS, AMBW e CMBW. Houve também a CMK 16, um modelo de CMR que já “flertava” com os profissionais ao incluir o recurso de Insert por canal.

Dessa experiência com as CMR/CMK, no final da década de 1990 (acredito que em 1999) a Ciclotron inovou o mercado brasileiro lançando uma mesa chamada MAX 16, um console de 16 canais com inúmeros recursos profissionais, como Inserts, luz de sinal, mute e luz de mute, filtro de corte de graves, varredura de freqüência de médios, etc. Um enorme avanço para a época, uma mesa nacional querendo ser igual às importadas. E realmente a MAX foi uma boa mesa para se trabalhar, lembrando a Mackie CR 1604VLZ Pro (http://www.somaovivo.mus.br/testes.php?id=6) quanto aos recursos por canal. Existiam até recursos para quem trabalhava com estúdios de produção de vídeo, com inúmeras entradas e saídas para câmeras BetaCAM. A qualidade de som era até melhor que as CMR, e muita gente comprou e usou essa mesa (e ainda usa).

Essa Max 16 é a antecessora direta da linha CSM. Ela foi fabricada apenas nesse modelo de 16 canais, e fez bastante sucesso, mas logo se tornou óbvio que alguns recursos (as entradas e saídas BetaCAM) eram dispensáveis e só faziam encarecer o produto. Mas a Ciclotron realmente havia “acertado a mão” nesse produto, e a empresa então o substituiu pela série CSM, a série que hoje é o “carro-chefe” da empresa, indo de modelos de 8 canais até grandes consoles de 32 e 40 canais. A própria VEGA (http://www.somaovivo.mus.br/testes.php?id=14) é uma evolução da CSM, variando principalmente a quantidade de recursos.

Quem se interessar em mais informações sobre as CMR, CMK e Max, baixe os manuais em:
http://www.ciclotron.com.br/indice_foradelinha.html.

A Ciclotron fabrica vários modelos da série CSM. Existem modelos com 8 subgrupos (CSM 32.8 e 24.8), com 04 subgrupos (CSM 32.4, 24.4, 24.4 IS C, 16.4 IS C) e modelos sem subs, indo de 10 a 24 canais este. Existiu um modelo de 8 canais apenas, mas já está fora de linha. As mesas com sufixo “IS” indicam a existência de filtragem contra interferências eletromagnéticas.

Neste artigo vou focar mais os modelos 32.4 e 24.4, que conheço melhor.

Os prés: Grande evolução em relação a todos os mixers anteriormente citados, respondendo bem as altas e médias freqüências, missão que era praticamente impossível na MXS. A diferença sonora é assustadora, para melhor, claro.
Outra grande evolução são os filtros Full RFI Supression (Radio Frequency Interference) que são filtros que atenuam em 18 dB/oitava interferências de rádio freqüências, em todas as entradas e saídas, na blindagem da mesa e também junto à entrada de AC.

O que não dá para entender é o porquê só os modelos CSM menores (terminados em IS C ou IS R) possuem esse tipo de proteção, sendo que os maiores mixers da linha (32.8 e 32.4) não têm (as CMC 40.8 e 32.8 têm os filtros). E acreditem, esses filtros fazem uma falta enorme. Aqui no Anfiteatro que trabalho tem uma 24.4, que quando combinado com rádios de comunicação profissionais da Motorola gera uma dor de cabeça incrível, sai tudo nas caixas, e o pior, o resto dos periféricos possuem Supressão de RFI, menos a mesa. Não adiantando em nada.

E o mais interessante, eles fazem disso como se fosse recurso de ponta, ultramoderno, sendo “bondade” de a empresa colocar esses filtros. Não vejo que é mais que obrigação por essas proteções, imagina um fabricante de carros cobrar bem mais, e fazer uma propaganda enorme, por ter cinto de segurança! É item de série, tem que ter!

Solução para os rádios: Agora usamos rádios domésticos da Motorola (série TalkAbout), que não dá interferência nenhuma, mas também a qualidade sonora do rádio não é lá essas coisas. Ou era isso ou trocar o mixer, mas isso esta inviável atualmente.

Quanto aos canais: a 32.4 possui 28 canais de entrada Mono e dois canais de entrada Estéreo, quatro submasters, cinco vias para auxiliares e três saídas estéreo para gravação. A 24.4 dispõe das mesmas características, porém com oito canais mono a menos. Vamos por partes então:

Os canais mono dispõem (de cima para baixo):

Conectores de entrada mic e line, xlr e P10(¼” TRS) respectivamente. Grande melhoria aqui, buscando agora um mercado mais profissional,  a Ciclotron passou a usar conectores XLR, bem mais comum e prático do que um P10 TRS.

Entrada para Insert (P10 ¼” TS), também muito bom, mas ficar fazendo aqueles cabos em “Y” é  meio chato. Já vi consoles importadas com entrada e saída para insert separadas, facilita muito o uso. Mas para nós está ótimo, raramente usamos insert por falta de periféricos.

Direct out: saída para gravação individual (P10 ¼” TS), confesso que nunca usei, quase nunca gravo e quando faço uso uma saída de gravação que explico aí na frente. Esse tipo de gravação individual em todos os canais é conhecida como multi-pistas.

Chave Phantom Power: alimentação de até 48V, geralmente usado para alimentar mics a condensador e alguns tipos de DI. Muito cuidado ao acionar esse botão, tenha a certeza do que vai fazer, uma ligação errada aqui pode danificar o aparelho ao qual foi aplicado. Detalhe: essas chaves causam um ruído estranho quando acionadas (falo do Phantom e do Low Cut) mesmo com o canal “mutado” dá pra se ouvir um “tec” quando acionamos.

Chave Low Cut (filtro passa-altas): corte fixo em 100Hz em 18 dB por oitava. Bastante útil em situações de muito vento, reduz bastante aquele “pop” captado pelos mics. Com o tempo e uso contínuo ele parece sofrer um desgaste, você volta a ouvir algumas freqüências que eram cortadas, com um microfone dá pra ouvir aquele pop, menos acentuado, mas se ouve.

Controle de Ganho (Gain): entre -10 e -60 dB como qualquer outro da ciclotron.

Equalizadores semi paramétricos com agudos fixos em 12 KHz (+-15dB), graves em 80 Hz (+-15dB) e médios com sweep (varredura) que vão de 100 Hz a 10 KHz(+-15 dB). O que mata é os potenciômetros, a resposta deles é muito lenta até +/- 60% do curso de atenuação ou reforço e depois altera de forma, quase, exponencial. Veja as diferenças entre as respostas de um pot linear e um logarítmico:

As curvas são muito diferentes, não que seja de todo mal um pot log, mas não para esse uso. É aqui uma das maiores reclamações dos mixers da Ciclotron. Mas depois que você se acostuma a trabalhar desse jeito, nem percebe mais.

Chave Eq OUT/Eq IN: você pode retirar o sinal para o monitor antes de passar pelo equalizador do referido canal. Exemplo: a console funciona como PA e MON, um teclado é ligado e esta chave é pressionada, assim a equalização que irá para o PA será a mesma que irá para o Mon. Se esta chave for desacionada, só o sinal do PA (master) será e modificado e, portanto, em flat para o retorno (vias de aux). Esse botão não existe nas mesas pequenas, até 16 canais.

Chegamos à seção do auxiliares, que são quatro pré e um post fader, sem a possibilidade de trocar entre post/pré.
Os knobs dos quatro auxiliares pré fader, com “volume” de 0 a 10, não sendo medido em dB como em outros modelos maiores. O auxiliar post fader é igual ao pré quanto à marcação de volume, mudando apenas as cores (pré – cinza, post – preto).

Controle de Panorama: A mudança no pan faz diferença aqui (como se fosse coisa para comemorar) nas linhas anteriores tinha que quase quebrar o knob para se perceber as alterações.

Luz de Peak (pico – led vermelho): em +12 dB;

Luz de 0 dB: Para mim, aqui está um dos grandes pontos positivos desta pequena console, permite um ajuste fácil e rápido de cana canal em relação ao sinal(led amarelo);

Luz de sinal (led verde): começa a acender em -20 dB. Facilitam bastante o uso. Combinados, estes leds podem ser tornar um poderoso recurso na mão do operador!(até parece propaganda, neh!)

Chave Mute: Todo mundo sabe para o que serve, não é?! Ela não tem luz indicadora de mute acionado, eu nunca tive problemas com isso, mas seria um ajuda a mais. Essa luz de mute só aparece na CMC pra cima (na verdade é um led, luz só no “botãozão” da Vega.

O que realmente faz falta são os Mute Groups. Aí você me diz que a mesa já tem quatro subs e que não precisa. Em partes você está certo, mas o sub só muta o que é enviado para os masters ou pela saída do sub e enquanto isso as saídas para Aux ficam liberados. Ta aí o problema.

Chave PFL (pré fader listen – pré escuta): apertando aí, você manda o sinal que esta chegando ao canal para uma saída de fones, control room* e uma sessão maior de leds, seis VU Meter Bargrafh, composto por 10 segmentos de leds cada. Porém a leitura se dará somente no VU do master L, os outros cinco VU são dos subgrupos ou dos auxiliares, dependendo do chaveamento e o sexto, do Master R.

*Control Room: é uma saída estéreo para se conectar caixas de som para se usar de referência, pouco usado para PA, já para Mon e estúdio é mais comum vermos o uso do mesmo. Em monitoração este retorno é chamado de wedge.

Chaves L – R / 1-2 / 3-4: Chaves de endereçamento para os masters LR (também envia o sinal para uma saída mono – mono out – e para as saídas de gravação) e as chaves 1-2 / 3-4 pra seus subgrupos correspondentes.

Em amarelo, a chave LR e em vermelho, as chaves dos subgrupos.

E finalmente o fader, de 60 mm, mas uma melhoria em relação à série anterior, que era curtíssimo e agarrava muito. Mas também não são os mais lisos.

Os canais estéreos (as diferenças são):

Duas entradas RCA, para L e R (Line A), e duas P10 TRS, também para L e R (Line B).
Stereo Direct Out: agora com saídas P10 TRS . Não tem entrada de insert.

Stereo line input selector – A/B: Esse nome todo é apenas para uma chave que, quando pressionada, seleciona os conectores do Line B (os P10). Quando liberada, seleciona os conectores do Line A, os RCA.

A equalização muda um pouco aqui, agora são canais de 4 vias, com agudos fixos em 10 KHz, médios agudos(ou médios altos) em 2,5 KHz, médio grave em 800 Hz e graves em 80 Hz. Só lembrando que o reforço/atenuação máximo de todos os equalizadores desta mesa é de 15 dB.

Agora vêm os subgrupos, uma boa ajuda na hora de se organizar. Só um detalhe: esses subs tem um nível de sinal menor em relação ao master, sempre tive que passar um pouco de 0 dB no sub para alcançar o mesmo no 0 dB do master. Mas nada que comprometa o trabalho.

Os masters dos auxiliares tem equalizador de duas vias, graves em 100 Hz e agudos em 10Hz, exceto o master do aux post (em preto). Há também a possibilidade de mandar o sinal do aux 5 para as vias de monitor.

As saídas para gravação:

– Stereo Rec Out: são as saídas RCA da foto acima (em amarelo), com controle de volume individual (em preto, em baixo). São cópias do master, mandados para cá quando endereçamos em LR, tanto nos subgrupos, quanto nos canais. São as saídas para gravação que mencionei no início do artigo.

– Duas saídas BetaCAM estéreo: praticamente iguais a stereo rec out, apenas com conectores XLR e também com marcação de volume de 0 a 10.

Essa mesa possibilita “n” ligações diferentes, basta ter criatividade. Por exemplo, utilizando-a como mesa de monitor, é possível tirar umas 14 vias! Isso mesmo! Mas ai você me pergunta: Não eram só cinco vias? Vamos lá: são 5 vias de aux + L e R (que também pode ser usado como side) + 4 subgrupos (eles tem saída independente – inclusive com entrada de insert para cada sub) + 3 saídas de gravação = 14 saídas. Também tem a saída Mono out e o Control Room, 16! E por ai vai… É só usar um pouco de lógica que você vai longe.

Você terá só controle de volume em algumas saídas e em outras nem isso, mas para situações de emergência, elas vão te atender muito bem.

Legenda:
Em amarelo estão as saídas de gravação;
Em vermelho control room;
Em azul as sub outs;
Em verde o mono out(também é cópia do Master);
Em preto os inserts dos subs e dos masters;
E em lilás, a entrada Stereo Line In, para CD, MD, tape-deck, etc. Traduzindo: para passar um som, playback, som ambiente…

Mais um detalhe: esta entrada possui chaveamento pre ou post em relação ao master, porém esta invertida nos dois modelos que tenho da CSM, quando é pressionada ela envia sinal pre fader e quando solta envia post, ao contrário do que é indicado na console.

Não possui toda qualidade nem recursos de uma mesa importada, mas o preço é bem acessível, agüenta as estradas daqui e mão de obra é o que não falta (também, só usam componentes…  deixa pra lá!). Mas é covardia comparar com importadas, o preço mais que duplica dependendo do nível do fabricante.

A mesa tem muito vazamento sim, principalmente quando PFL é acionado (dá para ver os canais vizinhos acendendo o led de sinal), porém nada que comprometa todo trabalho. Já tive problemas com isso, mas são mínimos.

Concluindo, para nossa proposta de uso, esta mesa é bem adequada.  Já fiz vários eventos, público relativamente grande, coisa de umas 1500 pessoas, e ela nunca me deixou ma mão.

As empresas nacionais vêm melhorando bastante nos últimos anos, em passos curtos às vezes, mas um dia eles vão chegar lá, só que logicamente os preços também estarão a níveis internacionais.

Recomendo sim estas mesas, em muitos casos vai depender mais do empenho do “operador” do que da mesa.

Então comece por você em vez de fazer aquela lista milionária de equipamentos. Conheça seus equipamentos, inove, “dê seus pulos”,estude, estude e estude. Aí sim você poderá tirar o máximo de seus equipamentos.

O recado está mais que dado.

Mais sobre a série CSM em:

http://www.ciclotron.com.br/produtos/csm324e244/capa324.html
http://www.ciclotron.com.br/indice_mixers_menores.html

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Rafael é leitor do SomAoVivo, cuida do som da sua igreja (1.500 pessoas) e este é seu primeiro teste de equipamentos. Revisado por Fernando Antonio Bersan Pinheiro.

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