Quando comecei a trabalhar com sonorização, em 1990, todo mundo sabia o que era ter um som de qualidade. Era simples: o amplificador tinha que ser Cygnus, e a mesa de som da Staner. Na época existiam muito poucos fabricantes de equipamentos, e não era difícil “eleger” os melhores. O nome Staner era sinônimo de qualidade em mesas (também em amplificadores, mas os Cygnus eram mais famosos) e era a única empresa que fabricava mesas “grandes” (tanto no sentido de quantidade de canais, 16 e 24, quanto no sentido de tamanho, pois as mesas suas antigas mesas de 16 e 24 eram enormes), o que dava à empresa um enorme respeito. Existiam outros fabricantes de mesas, como a Chorus, Livesom (esta tinha até botão Mute) e uma tal de Ciclotron, que na época só disponibilizava aqui na cidade umas mesinhas muito ruins.
Essa época era chamada de “reserva de mercado”, com importações proibidas ou muito com impostos altíssimos. Claro que havia um ou outro fabricante que fazia equipamentos de nível superior (a Studio R começou fabricando mesas, não amplificadores), mas eram caríssimos e raros (produção pequena, quase artesanal), e para o “povão”, o melhor que o dinheiro poderia comprar era Staner.
Em 1990 e 1991, trabalhei com uma SMI-08-S, uma mesa bem simples, equivalente às Ciclotron MXS (mas com qualidade de som melhor). No finalzinho de 1991, compramos para a igreja uma Staner 10.3S, equipada com 10 canais balanceados, agudo/médio/grave, Aux Monitor e Aux Efeito, PAN e PFL por canal. Qualidade sonora boa, equalização decente. Junto com um LeSon SM-58 e um módulo de efeitos da Roland que alguém trouxe dos EUA, tínhamos o melhor som de todas as igrejas da minha denominação da região. Era realmente gostoso de trabalhar com a Staner, e o resultado sonoro era muito bom. Isso em 1991.
16 anos depois, com a abertura de mercado para as importações, algumas empresas sumiram (Chorus, Livesom), algumas evoluíram muito (a Ciclotron hoje é a maior do Brasil) e outras… parece que pararam no tempo. Sem contar que o mercado foi invadido por alternativas estrangeiras: Alto, Behringer, Mackie, SoundCraft, SoundTech, SKP, entre outros.
A Staner foi uma dessas empresas que pararam no tempo. A empresa do senhor Renato Silva (leia o nome Staner ao contrário e repare) ficou mais de uma década com praticamente os mesmos produtos, sem grandes evoluções, principalmente nas mesas de som. Eram só revisões e retoques de modelos antigos. As séries UX e posteriormente a BUX nada mais são que revisões das 10.3S, acrescentando-se apenas ajuste de ganho, mais um efeito, Phantom Power e saídas balanceadas. As UX 16 e UX 24 são revisões das antigas Staner de 16 e 24 canais. Até o mesmo tamanho “enorme” as novas UX herdaram das antigas. Tudo bem que nem havia muito para melhorar, pois as mesas antigas eram realmente boas, mas um e outro recurso novo sempre é bem vindo.
A série BUX (as mesas UX pequenas são muito semelhantes) incluem modelos de 8, 12 e 14 (10 + 2 estéreos). São mesas já com conectores de entrada e saída balanceados (XLR e P10 TRS), com prés bastante decentes e equalização eficiente. A mesa é bem parecida com uma Ciclotron AMBW, sua concorrente direta, e inclusive sugerimos a leitura do seu teste, disponível em http://www.somaovivo.mus.br/testes.php?id=12.
Os recursos por canal são:
Ajuste de ganho, variando até +40dB. Para comparar, as mesas Ciclotron permitem ajuste até +60dB, ou seja, “dão mais ganho”.
Ajuste de agudos centralizados em 12KHz e com atuação de +/- 15dB. É a mesma equalização da Ciclotron CSM, superior ao da AMBW (+/- 12dB).
Ajuste de médios, centralizado em 2,7KHz e com atuação de +/- 13dB, um valor bastante estranho, mas nada que comprometa o desempenho.
Ajuste de graves, centralizado em 80Hz, com atuação de +/- 15dB, também equivalente à equalização da Ciclotron CSM.
Logo abaixo vem 3 auxiliares, sendo os dois primeiros Pós-Fader (para efeitos) e o terceiro Pré-Fader, para monitor. Ao contrário das Ciclotron AMBW e CSM, a mesa não conta com Insert (recurso que só vai aparecer nas UX 16 e UX 24), mas compensa isso com duas entradas de efeito em vez de uma. Como em mesas pequenas é raro alguém utilizar Insert, acredito que a decisão da Staner foi mais acertada.
Mais abaixo, o controle de PAN, o botão de acionamento do PFL e o fader de volume, de bom tamanho (50mm), muito melhor para trabalhar que os horríveis faders de 35mm das AMBW. As marcações dos faders são em decibéis, muito melhor que a marcação de 0 a 10 encontradas na AMBW, que não tem lógica alguma.
Um ponto negativo é os seus potenciômetros não tem aquela marcação de posição flat (um pequeno ressalto no meio do curso). Nas Ciclotron ele existe, e é uma boa referência, ajudando a regular mesmo quando estamos olhando para os músicos ou os pregadores. Nada que comprometa, mas se existisse, ajudava.
Na comparação com a AMBW, já dá para sentir falta de algumas coisas. Onde está a luz de Peak, que avisa a clipagem do canal? Não existe. Mesmo com o controle de ganho atuando menos que nas Ciclotron, será que o canal nunca vai clipar? Outro ponto terrível, pois para mim é um dos recursos mais essenciais em uma mesa de som: não tem botão de mute, recurso existente nas AMBW. Não precisava nem ter luz de mute, só o botão. Ajuda tanto na hora de trabalhar…
A BUX-14 tem seus dois últimos canais estéreos, com duas entradas P10 em cada canal. Os recursos são os mesmos dos outros canais, exceto que não há ajuste de ganho.
A seção master é muito parecida com a da AMBW, contando com VU Bargraph de 5 elementos, no esquema verde-amarelo-vermelho, indicando quando o nível está sem distorção (verde), no limite (amarelo) e distorcendo (vermelho). Ainda que por esse VU seja possível saber que algum canal está clipando, a falta das luzes individuais não permite saber qual o canal, fazendo o operador perder tempo para encontrar. E tempo é algo precioso em sonorização ao vivo, mesmo em uma mesa pequena.
Há também equalização de duas bandas para os masters, atuando em 100Hz (+/- 15dB) e 10KHz (+/- 15 dB), semelhante às AMBW (+/- 12dB). As saídas L/R e monitor são todas balanceadas (na AMBW só saídas L/R). Uma vantagem da BUX é que o master da saída de monitor é um fader deslizante, mais fácil de trabalhar que o potenciômetro rotativo da AMBW. E a saída de monitor também seu próprio VU.
A BUX tem Phantom Power, que aciona a voltagem de até +48V para os canais 1 a 4. Esse recurso não existe na AMBW, somente na CSM, e é muito bem vindo. A mesa também conta com saídas REC Out com plugues RCA.
Apesar de ser padrão 19″, a Staner é mais baixa, tem menos altura, mais compacta e melhor para carregar. O cabo de força é daqueles de computador, que permite ser removido. Muito bom.
A grande qualidade da Staner BUX é ter prés decentes e equalização eficiente, coisa que só vamos encontrar na série CSM da Ciclotron. A qualidade sonora dela é muito melhor que as mesas MXS e AMBW / CMBW.
O grande problema dela são os potenciômetros dos faders, que estragam muito rápido. Isso já acontecia nas UX pequenas (UX 16 e UX 24 usam outros faders), e não foram acertados até hoje. Tudo bem que todo fader suja e estraga com o tempo, mas os faders das BUX dão problema com dois ou três anos, um período muito curto. E não é uma ou outra mesa: acontece em todas. Chega ao ponto de, se o técnico em manutenção levar somente o fader na loja para comprar outros iguais, os vendedores já dizem “Para mesa Staner, né?”. Onde está o controle de qualidade da empresa?
Os preços são aproximadamente de R$ 800,00 a R$ 900,00 para a BUX-8 e R$ 1.100,00 a R$ 1.200,00 tanto para a BUX-12 quanto BUX-14 (elas tem a mesma quantidade de canais, o que varia é que, na BUX-12, os 12 canais são mono e na BUX 14 os dois últimos canais são estéreos). Os preços são bem superiores aos da Ciclotron AMBW (uma AMBW 16 custa na faixa de R$ 900,00), e muito próximos à série CSM (uma CSM-12 custa na faixa de R$ 1.400,00).
Se alguém chegar na loja e só comparar os recursos disponíveis, compra a AMBW, que tem Insert, luz de pico e Mute, e custa muito menos. Se alguém for comparar a qualidade de som, verá que a real concorrente das BUX são as CSM, mas estas tem muito mais a oferecer: mute, luz de sinal, insert, mais auxiliares pré, apesar de serem um pouco mais caras. Eu, na dúvida, fico com a CSM, cujos faders duram mais.
Apesar de ter ficado mais de década “parada”, de uns 4 anos para cá a Staner vem tentando recuperar o tempo perdido, lançando novos produtos no setor de mixers, como a série Wing, de 12 a 24 canais, inclusive com efeito incorporado (a primeira fabricante nacional a fazer isso). Também tem lançado grandes consoles, nas séries Opera, Veritas e Pallas, que inclusive tem se revelado excelentes produtos, superiores aos da concorrência.
Caramba! muito boa as informações, parabéns! me ajudaram bastante!
Muito essa publicação, ajuda muito sobre a história dos equipamentos e nos dá uma comparação de alguém que trabalha na área a um bom tempo. Sou um entusiasta dos equipamentos analógicos nacionais antigos, e essa informação cão muito importantes, obrigado.