É muito comum ouvir em nossas igrejas o som alto e com distorções. Muitas das vezes o operador até percebe a distorção, mas não sabe o que a esta gerando. Este é um problema clássico de equipamentos mal ajustados e, em algumas situações, conectados de forma inadequada.
Para que um sistema de áudio funcione adequadamente, é necessário que cada elemento entregue ao seguinte o sinal com o nível correto, sem deformações. Se o sinal vier distorcido da origem, não haverá como evitar que esta distorção vá para as caixas.
O desempenho adequado de um sistema de som depende do conhecimento do operador em saber como conectar um equipamento ao outro e como ajustar o sinal de saída de um em relação à entrada do outro.
Antes de abordar o tema principal deste artigo, preciso que você conheça um assunto fundamental para sua compreensão: o decibel.
O decibel, como tudo começou…
Há muitos anos atrás, nos primórdios da telefonia, pesquisadores analisaram a variação da intensidade sonora de uma conversação e observaram que ela pode variar em proporções enormes: desde 10 nW (sussurro) até valores 10 milhões de vezes mais forte (gritaria).
Da mesma forma, medições realizadas durante a apresentação de uma orquestra sinfônica demonstraram diferenças de 100 bilhões de vezes no nível sonoro entre as passagens mais fracas (pianíssimo) e as passagens mais fortes (fortíssimo) executadas pela orquestra.
Outro fator observado foi a capacidade de uma pessoa, no limiar da audibilidade, acusar nível de 10-16 watt/cm2 e, logo a seguir, suportar níveis 10 trilhões de vezes mais fortes, o que corresponde ao limiar da dor.
Outro fenômeno que chamou a atenção dos pesquisadores relacionava-se à resposta do ouvido às mudanças no nível da intensidade sonora. Pesquisas demonstraram que para um ouvinte ter a percepção de alguma mudança no nível da intensidade sonora foi necessário dobrar a potência acústica ou reduzi-la à metade. Da mesma forma, para que o ouvinte acusasse o dobro da intensidade sonora, a potência desta precisava ser aumentada num fator de dez.
Este fenômeno, junto às enormes proporções de mudanças perceptíveis para o ouvido humano, indicaram claramente que uma escala linear (como, por exemplo, a escala decimal) não serviria ao propósito da eletroacústica. Elas requeriam uma escala bem mais comprimida a fim de tornar viável seu manuseio. Foi, então, sugerida a escala logarítmica, mais precisamente a logarítmica decimal.
Para quem não se lembra dos logaritmos, uma explicação básica: quando o logaritmo decimal de um número n é igual a x, isto significa que, se elevarmos 10 à potência de x, o resultado será o nosso número n. Ou seja:
Se log10 n = x, então 10x = n
A partir daí chamaram cada graduação logarítmica de Bel, em homenagem ao inventor do telefone, Alexander Grahan Bell. Nesta escala, cada Bel adicional correspondia a uma multiplicação sucessiva por dez. Logo os pesquisadores perceberam que o Bel representava grandezas superiores ao necessário no campo das telecomunicações e resolveram adotar como unidade padrão a décima parte do Bel – o decibel ou dB.
Além da conveniência de anotação, a adoção do decibel resultou em outra vantagem: transformou cálculos de sucessivas multiplicações ou divisões em simples somas ou subtrações, facilitando sobremaneira a vida dos projetistas de sistemas eletroacústicos.
O nosso decibel de cada dia…
O decibel não é uma unidade de medida e sim uma relação entre duas grandezas. Veja abaixo os tipos de decibel mais utilizados em Áudio.
Representação |
Grandeza |
dBW |
Potência Elétrica |
dBm |
Potência Elétrica |
dBV |
Tensão Elétrica |
dBu |
Tensão Elétrica |
dB SPL |
Pressão Sonora |
Você poderá encontrar por aí, durante os seus estudos, o dBv. Notação que caiu em desuso, o dBv é o atual dBu. Você também deve ter observado que as fórmulas possuem o multiplicador 10 e 20. O multiplicador 10 representa a décima parte do Bel. Já o 20 está ligado ao fato de que a potência elétrica ou intensidade acústica é proporcional ao quadrado das tensões, correntes ou pressões sonoras, e também pela propriedade de potenciação dos logaritmos mostrados na fórmula abaixo.
log x2 = 2 log x
Se você quiser se aprofundar no estudo dos decibéis, examine o site do engenheiro e consultor de áudio Álvaro Neiva (http://geocities.yahoo.com.br/alvaroneiva/tutdb.htm). Há também um excelente texto sobre o decibel, em arquivo PDF, que pode ser baixado do sítio da Attack (http://www.attack.com.br/artigos/Decibeis.pdf).
Sobre o que estávamos falando mesmo? Ah! Níveis de Sinal…
Existem basicamente três níveis de sinal num sistema de som: nível de microfone, nível de linha e nível de alto-falantes.
O nível de microfone é também conhecido como baixo nível, mic level ou low level. Como você já deve ter percebido, é o nível mais baixo de um sistema de áudio e opera numa faixa que pode ir de – 52 dBu (2 mV) até – 10 dBu (245 mV). Como o nome já diz, é nesta faixa que os microfones trabalham. Também estão nesta faixa os sinais enviados por direct boxes.
Devido ao baixíssimo nível do sinal, qualquer ruído é facilmente perceptível, daí a importância de se trabalhar, principalmente no nível de microfone, com linhas balanceadas.
Nas mesas de som e consoles, as entradas MIC estão preparadas para receber sinais neste nível de intensidade e por isto possuem baixa impedância de entrada.
O nível de linha, também conhecido como line level, é o nível de sinal onde operam os instrumentos musicais ativos (violão, guitarra, contrabaixo etc) e eletrônicos (teclados). Os sinais trocados entre os equipamentos que compõem o sistema de som também trabalham em nível de linha. Esta faixa de nível opera entre – 10 dBu (245 mV) até + 30 dBu (24,5 V).
As entradas LINE das mesas são projetadas para suportar o nível de linha e por isto têm a impedância de entrada mais alta que as entradas de MIC.
As entradas e saídas dos diversos componentes do sistema de som, com exceção da saída do amplificador, operam igualmente em nível de linha.
Alguns equipamentos vêm com uma chave seletora para o nível de operação: – 10 dBv ou + 4 dBu (lembre-se que dBv = dBu). Verifique se os seus equipamentos possuem esta chave. Em caso afirmativo, coloque-as na mesma posição (tanto faz se em – 10 ou + 4). Se alguns possuírem a chave e outros não, selecione + 4 dBu naqueles que a possuem, uma vez que os equipamentos mais novos trabalham com este nível de linha como default.
O nível de alto-falante, também chamado de alto nível ou high level, é o nível de operação de saída dos amplificadores. Estes sinais possuem amplitude maior que + 30 dBu (24,5 V).
O que fazer e o que não fazer?
Nos níveis de microfone e de linha, como os sinais possuem menor intensidade, pode-se trabalhar com cabos mais finos. Em alto nível recomenda-se trabalhar com cabos de bitolas mais grossas, no mínimo 2,5 mm2. No entanto, não se esqueça que a bitola do cabo vai depender da distância e da impedância das caixas.
Não conecte equipamentos que gerem sinal de linha nas entradas MIC das mesas e consoles. O sinal será distorcido e poderá danificar o pré-amplificador de entrada da mesa.
Equipamentos que gerem sinal de microfone conectados à entradas LINE não danificarão a mesa, mas devido ao baixíssimo nível do sinal e à alta impedância de entrada praticamente não excitarão os circuitos pré-amplificadores e provavelmente estarão carregados de ruídos.
Direct Boxes devem ser conectados sempre às entradas MIC, independentemente de quais instrumentos estejam conectados a eles.
Você encontrará, também no sítio da Attack, um texto em PDF muito interessante sobre este assunto. O link é http://www.attack.com.br/artigos/Niveis Entre Equipamentos de Audio.pdf
Abraços nivelados.
O fone de ouvido é classificado em qual nível
Qual o risco em usar uma saída de de fone de ouvido em uma entrada de linha de um sistema in ear?