O maior sufoco que já enfrentei

Todo mundo tem uma história sobre um "sufoco" que passou, uma dificuldade grande (às vezes enorme) que já teve que enfrentar para fazer a sonorização em algum lugar. Eu vou contar a história de maior sufoco que já enfrentei.

Lá no Anfiteatro em que trabalho, houve certo dia à tarde, uma reunião com todas as senhoras do meu município e do município vizinho. O público esperado era de 7.000 pessoas, até porque lá há lugar para no máximo 7.000 pessoas. Além disso, o evento seria transmitido desse Anfiteatro para outros dois, em outras cidades. Em um teria pelo menos mais 7.000 pessoas e em outro haveria 4.000 pessoas. Seria transmitido até para algumas igrejas nos EUA. Tudo a partir do nosso Anfiteatro, e a responsabilidade era muito grande. Nada poderia falhar, pois uma falha afetaria algo em torno de 20.000 pessoas.

Além da quantidade de pessoas, outro complicador era que toda a liderança da minha denominação estaria presente lá no nosso Anfiteatro. Até o Pastor-Presidente da denominação estaria lá. A responsabilidade é muita mesmo.

Chegamos cedo, montamos tudo, testamos tudo, retestamos e testamos novamente ainda. Tudo estava pronto e perfeito uma hora antes do início do evento. O que não parava de chegar era gente. Quando acabaram todas as cadeiras (todas mesmo) ainda chegou muita gente, muita mesmo. Tiveram que pegar duzentas cadeiras em um pequeno auditório (usado para pequenas reuniões) e duzentas banquetas no refeitório e ainda muita gente ficou de pé. Sem sombra de dúvida, aquela era a maior reunião já feita no Anfiteatro. Se contarmos os voluntários (os trabalhadores), deveria haver umas 8.000 pessoas lá.

Apesar de estarmos com tudo pronto e funcionando com a parte de sonorização, o pessoal da projeção estava enfrentando algumas dificuldades. Faltando 10 minutos para o início do culto, ainda tinha uma pessoa em cima de uma escada, colocando um projetor de 6.000 lumens no lugar do normal (de 2.000 lumens).

Finalmente, começou o evento. No primeiro hino, some o som todo, por alguns segundos. Um pique de energia. No segundo hino, cai toda a energia da parte de sonorização. Alguns minutos e volta. Terceiro hino, e cai a energia novamente. Dessa vez não volta.

8.000 pessoas, sem som e projeção. Faltou energia – mas não era falha da concessionária. O nobreak que alimenta o som e a projeção não havia suportado a carga de energia e estourou. Em casos assim, existe uma chave chamada Bypass, em que você isola o nobreak e coloca os equipamentos direto na Escelsa. A chave não funcionou. O eletricista de plantão é chamado para resolver.

Passam 10, 20 minutos, nada. Para quem trabalha com som, a situação é desesperadora. Doeu no meu coração como a dor mais terrível possível o fato de termos 8.000 pessoas ali, mais alguns milhares em outros lugares, e nada para oferecermos à elas. Faz-se um paliativo e coloca-se uma caixa amplificada para o Pastor, mas ela não tem condições de atender tanta gente (mal mal umas 100 ou 200 pessoas, quanto mais 8.000). Coração doendo, doendo muito.

Interessante como as pessoas "se revelam" quando a situação fica difícil. Um dos rapazes do som chega reclamando do pessoal da elétrica. Peço para ele parar: nessas horas não adianta reclamar de nada, só orar. Depois, soube de um colega da equipe que havia se exaltado e gritado com outro. É preciso ter calma, mas também não dá para “crucificar” ninguém por ter se exaltado, o que é normal em uma situação de enorme cobrança e pressão. São 8.000 pessoas olhando para o pessoal do som, pois ninguém vai lá explicar que o problema é elétrico. O público quer som, não saber a origem dos problemas. E como o evento era à tarde, as luzes estavam desligadas, dando ainda mais a impressão que o problema era somente com o som.

Já 30 minutos depois do "início da reunião", chega o Pastor-Presidente ao local. Eu estava próximo, e ele avisa que já havia ligado para os outros Anfiteatros, para dispensarem todos. Uma pontada de dor no coração: mais de 10.000 senhoras que se deslocaram de suas casas, infelizmente à toa. O Pastor-Presidente então pede para pelo menos tentar salvar a reunião no nosso Anfiteatro. Já se passaram 40 minutos desde o "início" da reunião.

Tive muita pena do eletricista. Ele tremia, a pressão em cima dele era enorme. Todos os líderes estavam em cima dele. Em determinado momento ele entregou os pontos – "Desisto, não sei o que está acontecendo, não consigo resolver".

Até esse momento, nós, operadores, acompanhamos, mas nada falamos com as lideranças. O problema era elétrico, e havia um eletricista responsável. Não dá para passar por cima do responsável por outra área de trabalho. Mas na hora que ele falou o "Desisto", aí outras idéias seriam bem vindas. Não sei de quem foi a idéia, mas sei que veio de alguém da equipe de som. Quando fazemos cultos e evangelizações em escolas, ginásios e outros (lugares em que nunca sabemos a condição de funcionamento da rede elétrica), utilizamos uma “super-extensão de energia". Uma caixa com uma metragem generosa de cabo, com muitas tomadas elétricas. Essa caixa é ligada diretamente no quadro principal de energia do local. Ora, se a gente faz isso nas evangelizações, porque não fazer no Anfiteatro?

O Pastor-Presidente perguntou ao eletricista se funcionaria. "É, acho que sim". "Então façam" foi a palavra dele. Interessante como a idéia se espalhou com uma velocidade incrível: um falou “vamos usar extensões”, o outro já entendeu, já pediu tal material, o outro saiu correndo para buscar, em pouco tempo (talvez menos que um minuto) todos do som já estavam envolvidos e sabiam o que fazer.

Pego a “super-extensão” e saio correndo. Um trabalho era levar a caixa para cima (os equipamentos ficam em um mezanino), outro era estender o cabo. Fiz os dois correndo. No caminho, “atropelei” duas crianças (eu ainda acho que elas me atropelaram, estavam correndo também), uma chegou a cair (graças a Deus na grama do jardim, não se machucou nem chorou). Um dos pastor me dá um brigueiro: “pára de correr”. O Pastor-Presidente acompanhou a cena e falou: “Não pára não, corre! Faz esse negócio funcionar! Coração a mil. Passei por voluntários do apoio e pedi ajuda para desenrolar o cabo.

O cabo não deu até o som. "Pega outro, emenda", alguém gritou. Chega o fio para fazer a emenda. Descasquei um dos cabos no dente, literalmente. Junto os dois fios. Não tem fita isolante. Entrego os fios já emendados para um voluntário e aviso: “não pode encostar um no outro” (positivo e negativo). Nem sei o que aconteceu, o quanto ele ficou segurando aqueles cabos afastados, para não dar um curto. Só sei que ele não deixou dar problema.

Alguém lembra de um problema sério: a super-extensão é 110V, os equipamentos todos do som são 220V. A tomada é daquelas de ar-condicionado (fora de padrão), e a "super-extensão" tem dessas tomadas tipo de computador. "Não adianta, não vai funcionar. Tem que buscar os equipamentos de evangelizações". Nesse caso, buscar amplificadores Ciclotron DBK 3000, eles são 110V. A mesa, uma Ciclotron CMC 32.8, já estava lá em cima.

Enquanto alguns da equipe correm para buscar os amplificadores, e outros vão trazendo a extensão para mais perto, vou para a sala do som. Vou para trás do rack de amplificadores. Vou soltar os cabos das caixas de som, para ligar nos DBK 3000. São 6 amplificadores e 12 cabos, não dá tempo saber quem é caixa do fundo, caixa da frente, etc. Começo a arrancar todos. Quando tenho cabos de duas caixas na mão, começo a gritar “me passa um amplificar, me passa um amplificador”. Olho para cima, com o olhar de “pelo amor de Deus, um amplificador”.

Havia mais líderes na sala do som do que gente da equipe de som. Um dos pastores me passou o DBK 3000. Coloco ele no chão e vou enroscar os fios da caixa de som. O DBK usa fio solto (amplificadores de alta potência usam assim), e minhas mãos tremiam ao fazê-lo. “A tomada, a tomada”, gritei para um dos membros da equipe. Outro estava montado um microfone sem fio, e  outro me jogou um cabo da mesa mesa de som para ligar na entrada do amplificador. Tudo isso deve ter levado alguns segundos, mas me pareceu uma eternidade. Agora sei como os mecânicos de Fórmula 1 se sentem quando o carro pára nos boxes.

Tum-tum-tum. O barulho do microfone funcionando parecia música. "Temos som", alguém gritou!. A sala em pouquíssimos segundos foi esvaziada: os pastores desceram praticamente todos juntos. Foi bom ouvir o pastor que estava no púlpito falar nas caixas de som e pareceu música aos ouvidos quando ouvi a glorificação da igreja, feliz por tudo ter retornado. Uma hora inteira perdida. Ainda trouxemos outro DBK 3.000, jampeamos um amplificador com outro, ligamos 04 caixas (de um total de 16), mas deu para funcionar.

Algum tempo depois, o eletricista, já sem os líderes no seu encalço e um pouco mais tranqüilo, conseguiu restabelecer a energia, fazendo o bypass funcionar (retirou a chave e emendou os fios). Tudo voltou a funcionar então, inclusive a videoconferência. Soube depois que nos outros Anfiteatros o pessoal não havia ido embora. Eles foram orientados a ir, mas preferiram esperar para ver se voltava. Alguns ficaram e assistiram à aula.

Ocorreu a aula e, ao final, o Pastor-Presidente assumiu o púlpito. Passo para vocês o que ele falou, exatamente, pois fizemos a gravação.

“O texto que o pastor leu, e a palavra que ele entregou, ele começou falando na palavra prevenção (…) O que nos faltou aqui hoje foi exatamente isso: prevenção. Porque faltou energia e nós não tínhamos como resolver o problema, o que levou um determinado tempo. Se nós estivéssemos prevenidos, nós não tínhamos tido esse problema. A verdade é que houve um excesso de carga, mas mesmo assim nós tínhamos que estar prevenidos. Mas como o assunto não é energia, porque ela já está restabelecida, e eu digo às irmãs que estão aqui, a todas as pessoas que foi um trabalho exaustivo dos nossos irmãos, mostraram até muita competência, porque fizeram todos os tipos de ligações, eu fiquei tonto de tanto fio que eu vi na minha vida. Então fiquei até com medo de tanto fio”.

O Pastor-Presidente reconheceu o trabalho. Elogiou o trabalho de toda a equipe de som, e do pessoal que contribui para que conseguíssemos resolver o problema. Foi um intenso trabalho de equipe: de quem estendeu quase 200 metros de cabo (a "super-extensão e a emenda), de quem carregou correndo os amplificadores de quase 20Kgs, do bombeiro que ficou segurando os cabos para não dar curto-circuito, do rapaz para quem entreguei meu canivete e falei “me devolve depois” (entreguei a uma pessoa que nunca vi na vida, mas que depois foi lá na sala de som para me devolver).

Foi uma situação de estresse total, Deus permita que nunca mais aconteça novamente. Mas 8.000 pessoas à espera de som, é realmente uma coisa que dá um aperto no coração que só quem vivenciou pode saber. E o esforço mostra o amor da equipe pelo que faz, pois quem não ama não se preocupa nem cuida. Foi bom ver esse sentimento no rosto de cada um dos membros da equipe.

Impressionante uma coisa: tivemos 8.000 irmãs calmas, sentadas, sem movimentações, em oração. Ficaram quietas, esperando o som chegar ou receber alguma orientação. No máximo, as mães com crianças que saíram dos seus lugares. Se fosse em um culto de evangelização, com visitantes presentes, teria sido péssimo para a igreja.

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Revisado em 06/Mar/2008
 

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