Olá gente,
que tópico maravilhoso. Faz o pessoal discutir e pensar, e por isto tão fantástico. Vou comentar primeiro sobre as caixas em si.
O sistema apresentado foi muito comum na década de 80 e um pouco da década de 90. Assim eram os paredões de som daquela época. Notem o crossover da Staner, velhaço!
Nessa época, os principais sistemas usavam 4 vias:
- graves (pouco se falava em subwoofers e subgraves)
- médio-graves
- cornetas de médio
- tweeters
e o esquema necessário era implementar era o seguinte:
MESA SOM CANAL L > EQUALIZADOR CANAL L > CROSSOVER 1 que dividia em 4 faixas:
- AMP 1 canal A - agudos
- AMP 2 canal A - médios
- AMP 3 canal A - médio-graves
- AMP 4 canal A - graves
MESA SOM CANAL R > EQUALIZADOR CANAL R > CROSSOVER 2 que dividia em 4 faixas:
- AMP 1 canal B - agudos
- AMP 2 canal B - médios
- AMP 3 canal B - médio-graves
- AMP 4 canal B - graves
Isso para se ter o tal do som estéreo. Quem usava em mono poderia ter apenas um crossover e dois amplificadores, cada canal de amp fazendo uma via diferente.
Na época, o pessoal já sabia que, por causa da diferença de sensibilidade, os amps mais potentes deveriam ser colocados para os graves e os menos potentes para os drivers de médio e tweeters. A diferença de sensibilidade (maior nos drivers e tweeters) compensava a diferença de potência (ou vice-versa).
Nessa época, era possível encontrar dois tipos de caixa:
- 1 x woofer
- 1 x mid-woofer (um woofer menor, que falava melhor os médios-graves que os próprios graves em si)
- 1 x driver
- 1 x tweeter
ou então
- 2 x woofers
- 2 x mid-woofer
- 2 x driver
- 2 x tweeter
Sempre com os falantes de 8 Ohms. Eram muito raros os falantes profissionais de PA de 4 Ohms (4 Ohms era praticamente exclusividade de som automotivo), então a opção de montar caixas com 1 falante de cada ou 2 falantes de cada tinha a ver com a quantidade de caixas do sistema.
Com um sistema de 1 falante por via, era possível ter 4 conjuntos de caixas, ligados em paralelo, fazendo 4 Ohms em cada canal de cada amplificador. Com um sistema de 2 falantes por via, só dois conjuntos de caixa, um em cada canal, pois as ligações internas já era em paralelo, fazendo os 4 Ohms.
No caso em questão, o sistema foi montado com
- 2 x woofers
- 2 x mid-woofer
- 1 x driver
- 2 x tweeter
O que se justifica por dois motivos: a sensibilidade dos falantes de médios era maior que a dos falantes de agudos, e os falantes de médio existiam em 4 Ohms, sendo facilmente encontrados. Quem não lembra dos drivers dos caminhões anunciando "olha o gás". Usam as famigeradas Selenium D250, e para melhorar o aproveitamento (só tinha eles mesmo), eram falantes de 4 Ohms.
Tais sistemas não eram ruins, mas é de se pensar que a qualidade final de som era altamente dependente do ajuste do crossover, tanto em frequência de corte quanto no nível de cada via, que vai influenciar diretamente no equilíbrio do sistema. Ah, na época, só as empresas muito muito grandes e ricas tinham RTA, então era tudo feito de ouvido mesmo.
Detalhes que se discutiu aí:
- estão na dúvida sobre os falantes internamente serem ligados em série ou paralelo. 99% dos casos eram em paralelo.
- os falantes de graves tem 1.100W. Sim, é possível, só que nessa época, os falantes eram medidos na famigerada potência PMPO. Eu mesmo tive alguns woofers Novik com 550 Watts!, mas que na verdade mal davam 150W RMS. Hoje encontrar woofers de 1.100W ou mais até é possivel, mas precisamos lembrar que custam uma fortuna, e na década de 80 havia a hiperinflação e ninguém tinha dinheiro para nada, muito menos para um falante de 1.100W reais (isso seria coisa de rico, riquíssimo).
- seja qual for a potência do sistema todo, duvido que usem mais de 10% dentro da igreja.
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20 anos depois, a tecnologia evoluiu um pouco, e as coisas mudaram bastante. A sensibilidade dos falantes aumentou em média 6dB (saiu de 90-95 dos woofers para 95-101 e dos 100-105 para 105-111), a resposta de graves melhorou (surgiram os subwoofers), os drivers titânio passaram a substituir os conjuntos drivers+tweeters, as caixas se reduziram bastante de tamanho e peso e o resultado continuou ótimo.
Notem que a palavra usada é CONTINUOU. Como já dito, muitos sistemas assim falavam bem, aliás muito bem, a depender do equilíbrio feito no crossover. Hoje sem hiperinflação, com abertura de mercado (fabricantes estrangeiros, na época não havia nada disso) e com dólar baixo, é fácil substituir esse sistema todo por caixas de grife, muito melhores até (pegue as RCF Art 310 com sua linearidade de +/- 3dB de 50Hz a 20KHz), e esteticamente bem menos impressionantes que esses sistemas aí, o que talvez convinha mais ao estilo de igrejas. Mas, para a época, aquilo ali era de babar, de cair o queixo. E se o povo não se importa com a estética, então pode continuar assim, estão bem servidos de caixas.
Um abraço,
Fernando